Autismo: o desconhecimento sobre o assunto é do tamanho do preconceito

Com base nesse déficit de informações a ONU decretou hoje como Dia Internacional de Conscientização do Autismo.

João Pedro*, de dois anos de idade, demonstra comportamentos diferentes do irmão Lucas*, que tem sete anos. Ele tem dificuldades em falar, em brincar e manifestar avanços que foram desenvolvidos normalmente pelo irmão. Assim, Renata Lima Sales, sua mãe, desconfiou que ele pudesse ter alguma deficiência. E decidiu ir procurar ajuda.
 
Ela se dirigiu de onde mora, na cidade de Mamanguape, para a Fundação Centro  Integrado de Apoio à Pessoa com Deficiência (Funad) em João Pessoa e, após um processo de triagem com diversos profissionais da medicina, recebeu o resultado do neurologista que diagnosticou seu filho João Pedro como portador do transtorno do espectro do autismo.
 
“Ah, eu chorei muito. Era o medo, o preconceito. Era tudo!” Desabafa Renata, demonstrando o misto de sentimentos que uma mãe expressa ao descobrir que seu filho é autista. Uma síndrome sem cura, mas com tratamento, que assusta os pais e a família do diagnosticado que será dependente deles e de cuidados médicos para o resto da vida.
 
Passado o impacto da notícia, Renata fala que em nenhum momento rejeitou a criança. “O amor aumentou ainda mais”, diz ela em relação ao apoio da família. O medo, segundo ela, é apenas por não se sentir capaz de cuidar dele e do preconceito que terá que enfrentar.
 
Autismo: o desconhecimento sobre o assunto é do tamanho do preconceito
 
E esse ‘preconceito’, segundo a psicóloga do Serviço Especializado em Reabilitação Intelectual da Funad, Ângela Pimenta, é causado pela falta de informação. “As pessoas chegam a ter medo do autista, porque não entendem que um dos distúrbios que ele tem é o do comportamento agressivo, quando está em crise”, explicou. 
 
Com base nesse déficit de informação sobre o autismo, é que a Organização das 
Nações Unidas (ONU), decretou o dia 2 de abril como Dia Internacional de Conscientização do Autismo, que une pais, profissionais e governantes para realizar ações de conscientização no mundo todo.
 
O transtorno do espectro do autismo é uma síndrome que afeta o desenvolvimento humano em três importantes áreas: comunicação, socialização e comportamento. O portador da síndrome, então, “apresenta comportamentos estereotipados e repetitivos”, de acordo com a psicóloga Ângela Pimenta, que informa também como pode ser identificado o caso.
 
“O autista desde pequeno terá dificuldades em olhar para o outro, sorrir para o outro, interagir com o outro”, diz a psicóloga completando que “ele também manifesta comportamentos agressivos e nervosos. E agride porque é a forma que ele tem de se comunicar”.
 
João Pedro iniciou o tratamento na Funad. A psicóloga Ângela, que é responsável por acompanhar os pacientes nessa etapa inicial do tratamento, que é a psicoterapia comportamental, diz que as sessões de terapia é o primeiro atendimento que a criança vai ter para depois de, em média oito sessões, o autista seja encaminhado para outras atividades que, necessariamente ou especialmente, ele tem que passar: fonoaudiologia, pedagogia especializada, psicofarmacologia, psiquiatria infantil, psiquiatria de adulto, fisioterapia, métodos aplicados ao comportamento (ABA, TEACCH, APACH, currículo Funcional Natural, PECCS e outros) educação física adaptada, musicoterapia, Esporte e Lazer e assistência social.
 
Autismo: o desconhecimento sobre o assunto é do tamanho do preconceitoTodos esses serviços são garantidos ao autista pela Lei 12.764 denominada ‘Lei 
Berenice Piana’ que institui, entre outros direitos, “a atenção integral às   necessidades de saúde da pessoa com transtorno do espectro autista, objetivando o diagnóstico precoce, o atendimento multiprofissional e o acesso a medicamentos e nutrientes”.
 
Em João Pessoa, esses direitos são ainda mais reforçados pela Lei Orgânica n° 12.514, que disponibiliza o tratamento diretamente, ou por meio de convênios, e sempre em unidades dissociadas destinadas a atender a pessoa com distúrbios mentais genéricos.
 
A Funad, que é localizada na Capital, é o principal ponto de tratamento para o autismo na Paraíba. Mas não é o único. O centro de atenção psicossocial (Caps), do sistema único de saúde, também trata em alguns casos. E também existem Instituições de apoio sem fins lucrativos, Organizações Não Governamentais (Ongs).
 
Na Fundação estão registrados atualmente 178 diagnósticos da síndrome do autismo. Esse número é apenas dos pacientes que passaram ou ainda estão passando pelo tratamento lá. Mas não existe uma estimativa da quantidade de casos em toda a Paraíba.
 
No Brasil, também ainda não foram registrados, oficialmente, os dados, porque há casos que ainda não foram diagnosticados. Porém, a Organização Mundial da Saúde, estima que haja dois milhões de autistas no país.
 
*João Pedro e Lucas são nomes fictícios
 
Em Campina Grande faltam vagas para atender a demanda
 
Autismo: o desconhecimento sobre o assunto é do tamanho do preconceitoO dia mundial de celebração do autismo, celebrado hoje, poderia ter um significado maior de inclusão social em Campina Grande. Isso porque existem apenas dois Centros de Atenção Psicossocial (CAPs) que oferecem serviço de acompanhamento aos usuários do município e de cidades vizinhas. Além dos dois CAPs Infantis, a cidade ainda conta com o Instituto Brenda Pinheiro, que oferece acompanhamento específico só que de forma particular.
 
De acordo com a psicóloga e coordenadora de um dos CAPs, Danielle Nogueira, ao todo existem 180 usuários em atendimento nas duas unidades, divididos em 90 jovens que recebem atendimento em cada local. Ela aponta que diariamente chegam famílias de novos usuários solicitando atendimento, mas que devido ao grande número de pessoas que já são acompanhadas nas duas unidades não é possível abrir novas vagas.
 
“Nós não temos nenhuma estimativa de quantos autistas existem em Campina Grande, principalmente por nosso atendimento ainda prestar assistência para usuários de cidades vizinhas que não encontram tratamento especializado nos municípios de origem, e então eles buscam uma oportunidade de tratamento aqui. Atendemos crianças e jovens de até 25 anos, que têm acesso a tratamento de psicologia, fonoaudiologia e psicopedagogia de forma individual, além das atividades em grupo que são importantes para que eles avancem no tratamento”, explicou.
 
Autismo: o desconhecimento sobre o assunto é do tamanho do preconceitoA dificuldade em aumentar a quantidade de vagas para o atendimento gratuito nas unidades de Atenção Psicossocial não é exclusividade da rede pública. O Instituto Brenda Pinheiro que oferece tratamento particular para autistas também poderia receber até 26 usuários para atendimento gratuito. Contudo, a falta de recursos faz com que toda a estrutura montada para crianças e jovens autistas seja disponibilizada apenas para as famílias que podem pagar o tratamento.
 
Segundo explicou uma das idealizadoras do instituto, Vânia Pinheiro, é necessária uma renda fixa de R$ 36 mil para que 26 crianças carentes recebam atendimento específico no local. De acordo com ela, as famílias que podem arcar com o tratamento pagam equivalente a R$ 2.750 por mês para ter acesso ao tratamento multidisciplinar. “Aqui existe toda o acompanhamento específico, mas que ainda não podemos oferecer de forma gratuita para crianças carentes por conta do custo. São valores que só com ajudas fixas de grandes empresas ou poder público é que conseguiríamos receber essas crianças”, disse Vânia.
 
Como forma de atividade no dia mundial do autismo, ao longo de toda a tarde na sede do instituto haverão atividades festivas oferecidas aos usuários. Já a partir das 16h, diretores da AMA e pais de crianças autistas farão uma panfletagem na Praça da Bandeira, no Centro da cidade, distribuindo informes sobre o que é o autismo, quais as principais características de uma criança autista, como identificar essas características e o que fazer para procurar atendimento específico. Às 17h haverá o Abraço Autista em torno da Praça da Bandeira.
 
Serviços
 
. No dia 10 de abril, a Funad realizará um Workshop Sobre o Autismo, a partir das 8h30, no Auditório Jimmy Queiroga, na sede da fundação: Rua Orestes Lisboa ­ Pedro Gondim, João Pessoa – PB.
 
. No dia 2 de abril, a entidade ‘Amigos do Autista’ (AMA), localizada na Rua José do Ó, 164, no bairro do Alto Branco, em Campina Grande, estará aberta à visitação pública, para as pessoas que quiserem conhecer como é o tratamento para uma criança inserida no Transtorno do Espectro Autista.
 
. Dia 10 de abril a Associação de Pais, Amigos e Simpatizantes dos Autistas da Paraíba realizará uma “Caminhada de Conscientização do Autismo” às 19h, no Busto de Tamandaré, orla de Cabo Branco. "Essa é a quarta caminhada organizada pela Assas", diz o presidente da entidade, Rodrigo Camboim.