Com estiagem prolongada, carros-pipa já abastecem 138 cidades paraibanas

Veículos que atuam na Operação Carro-Pipa são coordenados pelo Exército, pela Defesa Civil do Estado ou pelos municípios.

A falta de água é hoje uma realidade que atinge, total ou parcialmente, 138 cidades paraibanas e afeta a vida de mais de 2 milhões de pessoas, que convivem com severos racionamentos ou mesmo com a indisponibilidade total de água. Nesses locais, os carros-pipa têm sido a salvação da população, abastecendo cisternas, caixas de água e levando condições de subsistência em meio às adversidades da seca. Dos 223 municípios paraibanos, pelo menos 75% estão sendo atendidos pela Operação Carro-Pipa, com veículos coordenados pelo Exército, pela Defesa Civil do Estado ou pelos próprios municípios.

Na Operação Carro-Pipa coordenada pelo Exército são 1.147 pipeiros contratados para auxiliar no abastecimento de 169 municípios. Já a Coordenadoria Estadual de Defesa Civil é responsável pela cobertura de 100 cidades desde o mês de agosto. São 175 pipeiros contratados, conforme o coordenador estadual de Defesa Civil, George Sabóia. “A situação é crítica em todo o Estado”, ressaltou o coordenador.

Dentre o rol de municípios afetados pela seca, 22 estão sem água nas torneiras, alguns há vários anos. Essa é a situação vivida em Montadas, no Agreste do Estado, depois que o açude Emídio, que abastecia a cidade secou, há quase três anos. Lá, os moradores já se adaptaram a ter que comprar água através de carros-pipa ou, não tendo recursos financeiros, a formar filas para buscar um pouco de água em uma das caixas d’água ou cisternas instaladas pela prefeitura nas ruas da cidade, que também são abastecidas pelos pipas. “Eu compro o carro-pipa porque minha mãe é idosa e não tem condições de ir buscar água nas cisternas públicas”, relatou o morador Paolloh Oliver.

Em Triunfo, no Sertão, mais de nove mil habitantes enfrentam a crise hídrica. Lá, separar o dinheiro para comprar água é uma necessidade tão comum quanto a ‘feira’ de casa. “Não tem outra alternativa”, desabafou a comerciante Célia Dias.

E esse drama é ainda maior para as famílias que não dispõem de recursos para comprar água. “Eu acordo logo cedo pra pegar um pouco de água nos baldes e trazer na carroça. Só Deus tem piedade”, disse Joana Silvino, do município de Cuité, que também está em colapso hídrico. Em algumas cidades, a exemplo de Montadas, a prefeitura fez um cadastro para beneficiar com a distribuição de água, pessoas de baixa renda, famílias com idosos e crianças. Já em Triunfo, a prefeitura disponibilizou caixas de 4 a 5 mil litros nas ruas, que são abastecidas por carros-pipa, onde o povo vai buscar água.

Dos 223 municípios do Estado, 91 estão em racionamento, 22 em colapso e 25 em estado de alerta, de acordo com dados da Companhia Paraibana de Água e Esgotos (Cagepa). Essa situação é resultado do baixo volume de precipitações que, há quatro anos acontecem abaixo da média. Nos últimos quatro anos, os reservatórios da Paraíba recuaram de 57% da capacidade, para 20%, conforme um diagnóstico do Ministério da Integração. Também em razão disso, 197 municípios estão em situação de emergência.

Reservatórios sem água

O abastecimento através dos carros-pipa é uma realidade amarga em grande parte dos municípios do Estado e, apesar dos esforços realizados pelos programas nas esferas federal, estadual e municipal, a falta de fontes hídricas é ainda um segundo problema para a população. Dos 124 reservatórios monitorados pela Agência Executiva de Gestão das Águas (Aesa), 46 estão em situação crítica, que corresponde a menos de 5% do volume total e outros 37 estão em observação, relativo a menos de 20% da capacidade total.

Isso tem feito com que muitos pipeiros recorram a localidades distantes em busca do recurso. Muitos deles têm cruzado divisas para buscar água em açudes localizados em outros Estados. Em Jericó, por exemplo, muitos pipeiros viajam cerca de 276 quilômetros (ida e volta) até a cidade de Upanema, no Rio Grande do Norte, até duas vezes por dia para trazer água para o município. “É longe, mas é onde tem água de melhor qualidade. A situação é grave e as famílias precisam, então temos de procurar onde tem”, disse o pipeiro Juranir Gomes.

Já para Triunfo, os pipeiros têm recorrido ao açude Limas Campos, na região centro-sul do Ceará, distante cerca de 82 quilômetros. Francisco Fagner, de 22 anos, trabalha pela Operação do Exército, e conta que faz duas viagens por dia, trazendo 9 mil litros de água em cada. “A distância que percorremos não vence a alegria do povo quando chegamos com a água. Cada um com seu baldinho, é uma festa só”, desabafa.

Segundo o Comando Militar do Exército no Nordeste, a necessidade da operação independe do estado ou do município em que se encontra o açude, por isso não há problemas quanto a se buscar água em outros locais.