Surto de doenças transmitidas pelo Aedes faz estoque de sangue cair

Número de doações sofreu uma queda desde novembro de 2015, mas foi agravada em virtude do número de pessoas infectadas pelo mosquito.

Além da epidemia de microcefalia e dos casos de síndromes neurológicas, como a Guillain-Barré, o surto de doenças transmitidas pelo mosquito Aedes aegypti – as arboviroses – têm trazido outro prejuízo para a população e uma preocupação a mais para as autoridades de saúde da Paraíba: o déficit nos estoques de sangue dos hemocentros do Estado. O número de doações sofreu uma queda desde novembro do ano passado, período em que a redução já é esperada, mas foi agravada em virtude do número de pessoas infectadas pelo mosquito.

“Temos notado que houve uma queda nas doações, aquela demanda espontânea diminuiu bastante. Na realidade, o estoque é sempre abaixo do ideal e nesse período de final e início de ano essa redução já é esperada. Porém esse ano, o quadro foi agravado pelo surto das doenças, como a dengue”, comentou a diretora do Hemocentro da Paraíba, Sandra Sobreira. Isso pode ter acontecido,  segundo a diretora, em virtude do alerta emitido pelo Ministério da Saúde, de que pacientes que tiveram zika, dengue ou chikungunya fiquem, pelo menos, 30 dias sem doar sangue, ou até que durem os sintomas das viroses.

A situação mais crítica aconteceu na cidade de Monteiro, no Cariri do Estado, onde o estoque de sangue do hemonúcleo da cidade chegou a zerar, e precisou ser reforçado pelas unidades de Campina Grande e João Pessoa. “Como o período já é de doações abaixo da média, juntou com o surto das doenças e ficamos em estado crítico, estamos conseguindo recuperar agora, com muito esforço e ligando para os doadores”, informou a enfermeira da unidade, Taneza Laísa Viana. Segundo a Secretaria de Saúde do município, o aumento dos registros de doenças relacionadas ao Aedes aegypti entre novembro e dezembro do ano passado foi de 300%.

Na cidade de Piancó, no Sertão, o hemonúcleo contava na manhã de ontem com apenas dez bolsas de sangue, quando o estoque já chegou a ser de 20. Conforme a coordenadora da unidade, Jacikarla Gomes, a queda começou em dezembro e também tem relação com o aumento do surto das doenças relacionadas ao mosquito Aedes aegypti. “Em dezembro o hemonúcleo realizava 20 coletas por dia, hoje mal chega a sete, isso porque tem muitos doadores que adoeceram e não puderam doar”, afirmou. O mesmo problema vem sendo registrado no Hemonúcleo de Catolé do Rocha, também no Sertão, onde a meta mensal é de 200 doações, mas no mês de fevereiro conseguiu apenas 146.

Em João Pessoa, o estoque também estava no vermelho, segundo a coordenadora do Hemocentro da Paraíba, Sandra Sobreira, e só se recuperou por conta da campanha de doação para as vítimas de um acidente envolvendo um trem e um ônibus na cidade de Santa Rita, no final de fevereiro. “Por este fato atípico tivemos bom número de doações, mas aqui, como em todo o Estado, devido ao número de pessoas que são doadoras e foram infectadas pelo mosquito Aedes aegypti, o estoque teve uma redução atípica”.

Na contramão do observado nos bancos de sangue por toda a Paraíba, em Campina Grande, a coordenadora do hemocentro, Elília Maria Pombo de Farias, informou que ainda não foram sentidos os reflexos do surto de viroses relacionadas ao mosquito e que as doações estão ‘favoráveis’, mas abaixo do satisfatório. Na manhã de ontem, havia 165 bolsas de sangue liberadas na unidade, quando o ideal é que houvesse 300.

SEGURANÇA

Por meio da nota técnica 94/2015, o Ministério da Saúde reforçou que os hemocentros do país devem pedir que os doadores informem ao serviço sinais como febre ou diarreia até sete dias após a doação.  “É uma premissa de segurança tanto para o doador como para o receptor. Todos os profissionais foram orientados nesse sentido e estão repassando a informação”, explicou a diretora do Hemocentro da Paraíba, Sandra Sobreira, ao garantir que nenhum caso desse tipo tenha sido registrado.

Em uma situação ideal para manter os estoques de sangue equilibrados nos dois hemocentros da Paraíba, em João Pessoa e em Campina Grande, é preciso que cerca de 300 doações sejam realizadas diariamente. As situações mais críticas são as dos bancos dos sangues de fator RH negativo, encontrado em somente 8% da população. Por isso, diante do quadro crítico, os hemocentros e hemonúcleos têm se mobilizado para conseguir mais doadores e melhorar o quadro.

“Fazemos um apelo às pessoas que querem ser doadoras, para que aproveitem essa lacuna e procurem os hemocentros. Sempre digo que sangue não se compra, tem que ser doado, então pedimos que quem puder ajudar, o faça, porque tem muita gente precisando. Temos receio de que lá na frente isso venha piorar”, frisou Sandra Sobreira.

Epidemia

Conforme a Gerência de Vigilância em Saúde do Estado, a Paraíba notificou 8.116 casos prováveis de dengue no período de 1 a 27 de fevereiro. Se comparado aos 911 casos notificados em fevereiro do ano passado, o aumento é de 790,88%. Exames laboratoriais também comprovaram a presença do vírus zika nas cidades de Caldas Brandão, João Pessoa e Campina Grande. De chikungunya, a circulação viral foi confirmada em Monteiro, Coremas e João Pessoa.