Além da pobreza, moradores de rua vivem com constante ameaça de doenças

Vulnerabilidade a problemas de saúde é uma condição permanente de quem mora nas ruas.

Além da pobreza extrema, morador de rua vive com a constante ameaça de doenças, principalmente a tuberculose e as DSTs.

Um tapete velho sob a sombra de uma castanhola, no bairro dos Bancários, em João Pessoa, faz as vezes de cama para José (nome fictício). No muro do quarto improvisado, onde ele guarda os poucos pertences, um rabisco faz referência à passagem bíblica que conta a história de Lázaro, que morreu de lepra e foi ressuscitado por Cristo. Assim como o personagem bíblico descansava em ‘sono profundo’, como narra a história cristã, José dormia em meio ao barulho do trânsito. A pele queimada pelo sol e com algumas manchas sinaliza a realidade de quem não tem um teto e vive constantemente com a vida em risco, sujeito a atos de violência ou a problemas de saúde.

A vulnerabilidade da saúde é uma constante no dia a dia dos moradores de rua. Tuberculose, Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) e escabiose (eczemas na pele) são as principais enfermidades que acometem essa parcela da população na capital, segundo informações das equipes do programa ‘Consultório na Rua’. Somente em 2015, a equipe multiprofissional fez 713 atendimentos, realizados principalmente no Centro e na orla, áreas que mais concentram os usuários.

“A gente sabe que a população de rua é mais susceptível a adoecer, seja pelas condições de autocuidado, privações do sono e exposição a sol e chuva. Além disso, muitos são andarilhos e não têm os cuidados necessários com a pele e os pés”, explicou a coordenadora do Consultório na Rua, Luana Alves.

Essa falta de cuidados relatada pela integrante do programa municipal é visível no rosto e no corpo de Hildo, que há quatro anos deixou a cidade de Guarabira, no Agreste, para morar na capital. O biotipo franzino é resultado da alimentação incerta, o olhar distante e  palavras desencontradas revelam indícios de algum distúrbio psíquico.

Distúrbios afetam moradores de rua

“Trabalhei como ajudante, na construção. Depois que o trabalho acabou eu fiquei por aqui”, contou Hildo, morador de rua, revelando que antes de vir para João Pessoa trabalhava como feirante em Guarabira. Os indícios de problemas psicológicos que já se percebem no semblante de Hildo são uma das consequências das condições de viver nas ruas.  A coordenadora do Consultório na Rua, Luana Alves, explica que quem já sofre de problemas psicológicos e vai morar na rua pode ter as condições de saúde agravada, como também as pessoas que moram na rua podem adquirir os distúrbios.

“É muito frequente doenças infectocontagiosas, DSTs, doenças de pele. No caso dos problemas psicológicos, eles podem surgir pelas próprias condições de vida dessas pessoas. Os principais problemas que a gente encontra são pessoas com depressão, esquizofrenia e ansiedade. O pior disso tudo é que esses distúrbios podem ser agravados pelo consumo de drogas e álcool”, detalhou Luana Alves.