Pacientes do Trauminha esperam até dois anos por cirurgia

Direção afirma as cirurgias estão sendo feitas e que não há atraso nos procedimentos.

“Eu não posso nem andar direito por causa da artrose. Faz dois anos que operei a perna direita e desde lá eu aguardo a cirurgia da outra perna. Pelo meu médico eu já tinha operado há muito tempo, mas o hospital diz que falta medicamento, falta material, falta a prótese, que é muito cara”. O depoimento é do servidor público Manoel Bezerra, de 69 anos, que desde 2014 aguarda a cirurgia da perna no Complexo Hospitalar de Mangabeira Governador Tarcísio Burity, o Trauminha. Desde a primeira cirurgia, Manoel está afastado do trabalho e vai ao hospital apenas para pegar o atestado médico.
 
“As dores só vem piorando, minhas pernas estão cada vez mais tortas. E o médico disse que o meu quadro também vem piorando muito. Se eu andar rápido na rua, eu caio. Então tenho que tomar o maior cuidado para não machucar mais”, revela o servidor público. Na última segunda-feira (4), o Conselho Regional de Medicina da Paraíba (CRM-PB) realizou uma fiscalização e averiguou diversas irregularidades como equipamentos quebrados, falta de material e até baratas na enfermaria.
O CRM-PB preparou um relatório sobre a fiscalização, que foi encaminhado ao Ministério Público da Paraíba e a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de João Pessoa. “A verdade é que o hospital não tem as mínimas condições de funcionamento. Mas se interditarmos, onde as pessoas que estão na fila vão ser atendidas? Será um caos ainda maior”, afirma o chefe do setor de fiscalização do CRM-PB, João Alberto Morais. “Ouvimos relatos que pacientes estão recebendo alta médica para aguardar a cirurgia em casa porque não nem previsão de quando será feita. Outros ficam internado por mais de um mês. Tanto tempo de espera pode causar danos irreversíveis em quem precisa de cirurgias de emergência”, continua o médico.
 
O gari Marcelo Virgínio também está afastado do trabalho desde 2014, quando começou a sentir dores muito fortes na pernas. “Como eu trabalhava no carro e tem que correr pra pegar o lixo, foi dando uma dor insuportável e a perna começou a inchar demais. Eu nem conseguia mais dar a segunda viagem no carro. Aí fiz os exames e eles me encaminharam para a cirurgia, mas até hoje eu espero e nada”, relata. Segundo Marcelo, os funcionários do hospital explicam apenas que a demora na fila da cirurgia acontece por falta de material.
 
A aposentada Ivanize da Costa caiu enquanto andava dentro de casa e quebrou o fêmur em janeiro do ano passado. Foi encaminhada ao Trauminha, onde foi internada e aguardou a cirurgia por mais de um mês. “Tive que entrar com uma ação no Ministério Público e um juiz determinou que a cirurgia precisava ser feita. Mesmo assim, a cirurgia só aconteceu um bom tempo depois, em março”, declara Gracilda Maranhão, sobrinha de Ivanize. Hoje a aposentada não consegue mais andar e afirma ter ficado com trauma psicológico pelo tempo que permaneceu deitada no hospital. “Entrei com outra ação no Ministério Público por causa do tempo de espera. Acredito que se a cirurgia tivesse sido realizada em pouco tempo, ela conseguiria voltar a andar”, afirma Gracilda.
 
Há cerca de seis meses, o CRM-PB havia feito outra fiscalização e, segundo o órgão, o cenário encontrado foi o mesmo. Em audiência realizada em janeiro deste ano, o Ministério Público da Paraíba (MPPB) determinou um prazo de 60 dias para a administração do hospital entregar um calendário de cirurgias. Segundo a Promotoria de Saúde do MPPB, como o prazo não foi cumprido, o órgão encaminhou a documentação para a 1ª Vara de João Pessoa, onde o hospital deve responder judicialmente.
 
Calendário em elaboração
 
De acordo com o diretor administrativo do hospital, Carlos Lopes, como a lista de pacientes à espera de cirurgia mudou no prazo estabelecido, eles tiveram que levar essa atualização para a audiência. Ainda segundo ele, o departamento jurídico do hospital elaborou um calendário para entregar a Promotoria de Saúde. Sobre as denúncias apontadas na reportagem, Lopes afirma que durante os seis meses que ocupa o cargo de diretor do hospital, as cirurgias estão sendo feitas e que não há atraso nos procedimentos.