Ex-presidente da Cagepa diz que controle da água de Boqueirão chegou tarde

Edvan Pereira Leite disse que irrigação com água do açude demorou a ser suspensa.

O ex-presidente da Companhia de Água e Esgotos da Paraíba (Cagepa) e atual prefeito de Boa vista, no Agreste, Edvan Pereira Leite, disse nesta terça-feira (13) que as medidas para controlar o uso das águas do Açude Epitácio Pessoa, em Boqueirão, foram tomadas tarde demais. A principal crítica do ex-presidente é com relação ao tempo para suspender as irrigações feitas com as águas do reservatório. Edvan Pereira foi presidente da companhia no último ano da gestão de Cássio Cunha Lima, como governador, em 2007. Atual gerente garante que companhia intensificou medidas de combate a perdas de água desde 2012.

“Quando o Boqueirão foi construído, Campina tinha cerca de 100 mil habitantes, hoje tem 500 mil habitantes e ainda tem mais 18 municípios para abastecer. Com a população da época, a previsão era atender por um período de quatro anos, hoje tá atendendo uma população quintuplicada e todo mundo ficou naquela ilusão de que ia chover todo ano. Ainda tem o grave problema da irrigação, que deveria ter sido suspensa há muito tempo. Então são fatores que não foram previstos: o crescimento da população, o aumento nas cidades atendidas pelo açude, a abertura das comportas e a estiagem, que ninguém esperava”, pontuou Edvan Pereira.

O racionamento, em Campina Grande e mais 18 cidades começou em 6 de dezembro de 2014. No primeiro modelo, a água deixava de ser fornecida às 17h dos sábados e voltadas às 5h das segundas-feiras. Na época, o então presidente da companhia, Deusdete Queiroga afirmou que o racionamento seria brando porque ainda havia uma reserva que daria uma segurança hídrica durante todo o ano de 2015, mesmo sem a probabilidade de recarga no açude através de chuvas. Nesse mesmo período, o açude Epitácio Pessoa registrava 25,2% da capacidade total, ou 103,7 milhões de metros cúbicos de água.

No dia 6 de junho de 2015, a companhia ampliou o racionamento de água nas cidades abastecidas pelo açude de Boqueirão. Com a mudança, o corte no abastecimento passou a ser das 17h de sábado até as 5h das terças-feiras. Aumentando em 24 horas o período sem água nas torneiras, um total de 60 horas de interrupção. A medida afetou Campina Grande, mais oito cidades e ainda três distritos. Além disso, foi anunciado o início do racionamento em mais 11 cidades abastecidas pelo sistema adutor do Cariri. Nessa primeira mudança, o manancial estava com 18,7% de sua capacidade total. 

Em 31 de outubro de 2015, quando Boqueirão estava com apenas 14,3% do volume total, a Cagepa iniciou a segunda mudança no modelo de racionamento, ampliando em mais 24 horas a suspensão de água. O abastecimento deixava de ocorrer às 17h de sábado e só era restabelecido às 5h das quartas-feiras. A Cagepa chegou a alertar a população para que adotasse medidas de economia de água, isso porque o açude poderia não receber recarga e a situação poderia se agravar. “ 

As previsões se confirmaram quando as cidades abastecidas pelo açude de Boqueirão tiveram que se preparar mais uma vez para um novo e atual modelo de racionamento, adotado em julho deste ano, quando o manancial estava com apenas 8,5% da capacidade total. No atual modelo, a companhia abastece a cidade por zonas. A zona 1 é abastecida a partir das 5h das segundas-feiras até a meia noite das quartas-feiras. Enquanto que o abastecimento da zona 2 ocorre das 5h das quintas-feiras até as 13h dos sábados. Ambas ficando sem água nos fins de semana. 

Cagepa garante que tomou medidas para evitar perdas de água

O gerente regional da Cagepa, Ronaldo Meneses, informou que a companhia iniciou procedimentos de combate a perdas de água desde 2012, quando ainda nem havia racionamento de água. Meneses esclareceu que o gerenciamento do açude Epitácio Pessoa é feito pela Agência Nacional das Águas (ANA) e que a Cagepa é apenas uma usuária do manancial. “ Quem vai definir quem deve usar e em que quantidade é a ANA, através de outorgas. Os principais usuários oficiais são os irrigantes e a companhia para abastecimento de sistemas urbanos,” explicou.

Ainda conforme o gerente da companhia, a Cagepa é a única usuária das águas do açude atualmente, visto que a ANA publicou uma resolução que destina a água do reservatório apenas para consumo humano e animal. De acordo com a última resolução, a Cagepa pode retirar 650 litros de água por segundo e o modo como essa água é distribuída sempre vai estar relacionado com a quantidade permitida pela ANA. “Começamos o racionamento quando a ANA fazia inúmeros estudos sobre chuvas e chegada do rio São Francisco e definiu limites de água retirada”, disse.

Meneses explica que, paralelo ao início do racionamento, a Cagepa iniciou uma série de medias de combate a perdas de água. É o caso da intensificação nas fiscalizações de furto de água nas adutores, instalação de 42 mil medidores em instalações prediais para minimizar o consumo, intensificações na busca por irregularidades nas instalações, melhoramento na frota de veículos. Além disso, o plano de contingenciamento do órgão também colocou em prática a instalação de micro e macromedidores para registrar e controlar o uso da água, como também a retirada de vazamentos.

Posicionamento da ANA

Em comunicado, a ANA afirmou que "o reservatório Epitácio Pessoa, popularmente conhecido como açude Boqueirão, tem capacidade de armazenamento de 411,69 hm³ conforme levantamento batimétrico realizado pelo estado da Paraíba em 2004, e sangrou pela última vez em 21/09/2011. De acordo com a agência, desde então, por não haver recarga significativa, o volume armazenado tem sido progressivamente reduzido em razão dos usos associados e da evaporação".

A ANA ressaltou que "em junho de 2013, quando o volume do reservatório chegou a aproximadamente 50% de sua capacidade de armazenamento, foram debatidas e pactuadas com os irrigantes a restrição do uso da água para irrigação de, no máximo, 5 ha por propriedade e também regras para culturas temporárias e permanentes. Segundo a agência, como não houve recuperação dos volumes armazenados no reservatório no período úmido de 2014 (quadra chuvosa ou invernosa), determinou-se a interrupção de todos os usos consuntivos associados ao reservatório a partir de 08/07/2014 (inclusive da agricultura irrigada), com exceção dos usos destinados ao consumo humano e dessedentação animal".

O comunicado aponta que "a vazão captada pela CAGEPA, por sua vez, foi gradativamente reduzida de aproximadamente 1600 L/s para os sistemas adutores Cariri (ETA Boqueirão) e Campina Grande (ETA Gravatá) para 650 L/s, que é a máxima autorizada por meio da Resolução ANA n.º  1.197/2016. De forma geral e conforme medições encaminhadas pela CAGEPA, este limite tem sido atendido".

"A partir de 2013, a CAGEPA adotou iniciativa pioneira, desenvolvendo um forte trabalho de controle de perdas físicas e não físicas, envolvendo inúmeras atividades relacionadas ao tema, como por exemplo automatização, automação de reservatórios, combate a vazamentos, aquisição de equipamentos monitoramento, renovação e complementação do parque de hidrômetros, campanhas de redução de consumo, entre outros, o que não havia sido operacionalizado até então", frisou o comunicado.

Conforme a ANA, "a continuidade da operação das captações de água no açude Boqueirão para suprimento dos sistemas adutores Cariri e Campina Grande está condicionada ao monitoramento da qualidade da água no ponto de captação, conforme estabelecem os artigos 40 e 41 da Portaria 2.914/2011 do Ministério da Saúde, observando, em particular, a frequência mensal para o monitoramento de cianobactérias e cianotoxinas no manancial.Há previsão de aporte hídrico ao açude Boqueirão a partir de junho/2017 por meio do Eixo Leste do Programa de Integração do Rio São Francisco – PISF (deságue no rio Paraíba), segundo informações do Ministério da Integração Nacional".