Lucas Sá e organizador do concurso do TJPE trocam acusações

Delegado diz que houve obstrução na investigação; instituto nega.

O delegado titular da Delegacia de Defraudações Defraudações (DDF) de João Pessoa, Lucas Sá, responsável pela Operação Gabarito, rebateu nesta terça-feira (24) as justificativas do Instituto Brasileiro de Formação e Capacitação (IBFC), organizador do concurso do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE), sobre possíveis obstruções nas investigações de prováveis fraudes no certame. A operação, iniciada na Paraíba, já prendeu 31 pessoas e identificou mais de 100 concursos fraudados no Nordeste.

Em entrevista ao JORNAL DA PARAÍBA, Sá informou que os indícios de fraude no concurso são fortes, uma vez que as investigações da operação comprovaram que os suspeitos já estavam "vendendo" vagas para o TJPE em março.

“Três pessoas presas — a Poliana de Alencar Holanda, o Jamerson Izidro de Oliveira e o Thiago Nogueira Leão — se inscreveram para esse concurso, até para atender à determinação criminosa, ou seja, eles eram alvos”, disse, complementando que alertou a Polícia Civil de Pernambuco e o IBFC.

“Encaminhei material para a Polícia Civil de Pernambuco, através da inteligência, e para o IBFC para que eles atuassem na segurança [do certame]. Mas no dia 17 de outubro, ou seja, dois dias depois do concurso, quando surgiram as denúncias, eu entrei em contato com a polícia e o delegado disse que não havia sido possível identificar atitudes suspeitas porque o instituto não permitiu que houvesse investigação”, comentou.

Em nota, o IBFC expôs que, ao contrário que foi divulgado por Sá, “nunca impediu qualquer investigação policial realizada na Operação Gabarito” e que tem “contribuído ativamente com todas as autoridades envolvidas”.

O instituto ainda ressaltou que Sá nunca solicitou “qualquer acesso aos locais de prova do concurso público, tendo o IBFC encaminhado ao mencionado delegado, todas as informações acerca dos candidatos que já eram investigados pelas autoridades policiais, garantindo o amplo acesso a estas informações”.

Prováveis falhas na aplicação

De acordo com Sá, houve denúncias de falhas na aplicação do concurso do TJPE, o que levantou ainda mais suspeitas da Polícia Civil da Paraíba. “Não sou eu que estou dizendo que houve falha, mas mais de 400 denúncias feitas ao Ministério Público de Pernambuco (MPPE), apontando falhas. Todos os candidatos perceberam isso”, observou.

Em resposta, o IBFC frisou que já adota medidas para coibir fraudes e que “continuará ativamente avaliando o concurso público em questão, inclusive aplicando sobre os gabaritos de resposta de todos os candidatos um sistema próprio de detecção de fraude com o cruzamento dos gabaritos entre si para verificação de eventual cópia ou quebra de sigilo entre os candidatos”.

O IBFC garantiu também que “reitera seu apoio à Operação Gabarito da Polícia Civil, estando à disposição para contribuir com novas informações que venham a ser solicitadas formalmente pelas autoridades policiais”.

Conduta do delegado posta em xeque

Por causa da polêmica envolvendo as acusações, o IBFC mencionou que iria procurar a “Corregedoria Geral da Polícia Civil da Paraíba, solicitando que adote os procedimentos administrativos para apuração das falhas funcionais do Dr. Lucas Sá, tendo protocolado Representação formal contra o mencionado delegado”.

Sobre a possível abertura dos procedimentos, Sá não quis entrar em detalhes. “A minha opinião é que em vez de solicitarem que a Corregedoria apure essas falhas, eles deveriam investir na segurança da aplicação do exame”, criticou ele, esclarecendo que deve participar de uma reunião nesta semana com o MPPE e com o TJPE para debater o caso. “Nessa ocasião, vai ser proposta a anulação do concurso”, frisou.