Cultura
8 de março de 2022
06:16

Eu-mulher artista: conheça o trabalho de Cris Peres

Em comemoração ao mês da mulher, o JORNAL DA PARAÍBA divulga uma série com histórias de artistas visuais paraibanas ou radicadas no estado.

Matéria por Lara Brito e Luana Silva

Durante a história, muitas mulheres têm encontrado na arte formas de expressar seus ideais, desejos e anseios. Em comemoração ao mês da mulher, durante março, o JORNAL DA PARAÍBA divulga uma série com histórias de artistas visuais paraibanas ou radicadas no estado, que atuam em áreas como pintura, escultura, fotografia, grafite, entre outras. O nome escolhido para a série faz referência ao versos de Conceição Evaristo, no poema “Eu-Mulher”.

Eu força-motriz.
Eu-mulher
abrigo da semente
moto-contínuo
do mundo

A primeira artista da série é Cris Peres, de João Pessoa. A paraibana é bacharela em Artes Visuais pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), onde também faz mestrado em processos teóricos pelo PPGAV UFPB-UFPE (2021-2023).

Cris busca pensar o vazio, por meio do hibridismo das linguagens artísticas, unindo os processos gráficos com materialidades brutas ou naturais. A artista já realizou três exposições individuais: Vocabulário do Vazio (2019 – João Pessoa); Por uma arqueologia do descarte (2020 – João Pessoa); Área de risco (2021 – João Pessoa).

Ela também participou de coletivas na cidade de João Pessoa, Recife e São Paulo. Integrou a V Bienal do Sertão (2021) e duas residências artísticas: Movimento Arapuca – Conde/PB (2019-2020) e Vozes Agudas/Ateliê 397 na Usina de Arte -PE (2021). Confira aqui seu portfólio completo.

Sobre o Eu-mulher artista

Se pesquisarmos pintoras paraibanas no Google, todos os nomes que aparecem nas pesquisas são de homens. Mudando pintoras para escultoras, colagistas, muralistas, o problema permanece. Ao colocar “artistas visuais paraibanas” na mesma pesquisa o resultado é incipiente. No campo acadêmico, é difícil encontrar online bibliografias e trabalhos no campo das artes visuais que falam sobre artistas mulheres do estado. Nos museus, são poucas obras que trazem o nome de mulheres em sua autoria.

Segundo Luciana Gruppelli Loponte, a história da arte priorizou “um olhar masculino, branco, europeu e heteronormativo.” A luta por visibilidade surge no Brasil principalmente durante os anos 70 e 80, com a segunda onda do feminismo chegando no país. Porém, nessa época o Nordeste ainda seguia sob uma ótica coronelista muito forte e o mais importante era continuar viva e segura. Aqui, fazemos questão de relembrar da história da poetisa Violeta Formiga, brutalmente assassinada por seu marido no dia 21 de agosto de 1982, por conta de um ciúmes e machismo que fazia com que ele a visse como um mero objeto de sua posse.

É verdade que o cenário vem mudando. Nos últimos anos, a Paraíba teve um crescimento de mulheres produzindo arte e expondo, principalmente com o auxílio da gestão pública através de editais. Entretanto, é uma produção subvalorizada que ainda tenta reescrever e reaver a história de muitas artistas que passaram pelo estado e que seguem com nomes apagados e não tão marcados na história quanto nomes masculinos.

Porque não falamos sobre arte de mulheres produzidas no estado? Porque não temos um nome de referência quando se fala sobre arte visual? Porque, quando decidimos fazer essas série, não conseguíamos pensar de cabeça em uma pintora, desenhista, escultora, paraibana igual eu penso em nomes nacionais como Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Lygia Pape?

Conforme a mestra em artes visuais Clara Nogueira de Carvalho, na capital e no estado há a quase inexistência de mulheres no campo das artes:

“Na Paraíba, somente em 1920, por exemplo, uma mulher artista, a pintora Amelinha Theorga, aparece nas páginas de jornais da época suscitando alguma crítica, mas é posteriormente esquecida por ter se casado e esse espaço de “amadora” das artes ter ficado restrito somente ao tempo de solteira”, escreve.

Diante desse cenário, o JORNAL DA PARAÍBA propõe uma chance que se conheça as artistas mulheres do estado, porque a arte é, sobretudo, uma investigação do mundo. Se podemos estudar e entender melhor nosso redor, as pautas e questões que movem a sociedade, podemos mudar. Mas não só isso, a arte tem um poder catalizador de expressão. Expressão essa que é válida e necessária apenas porque exprime, porque sentimentos são válidos e indagar é preciso. É somente olhando para si que podemos entender o outro. É somente ouvindo mulheres, consumindo produções de mulheres, incentivando sua produção e centralizando seu olhar e vivências em pautas de mulheres que podemos, talvez, fazer com que o ideal feminista não seja uma ideia utópica e sim uma realidade material.