Julgamento de paraibano que matou família na Espanha chega ao último dia

Júri começou na última quarta-feira (24), em Guadalajara, e o veredicto deve ser dado nesta terça.

Patrick Gouveia
Patrick Gouveia está sendo julgado por ter assassinado quatro familiares na Espanha, no caso conhecido como Chacina de Pioz.

Chega ao último dia nesta quarta-feira (31) o julgamento do paraibano François Patrick Gouveia, assassino confesso de quatro familiares na Espanha. O júri começou na última quarta-feira (24), em Guadalajara, e o veredicto deve ser dado nesta quarta. A acusação acredita que Patrick vai ter a pena máxima permitida no país, a prisão permanente revelável, que é uma espécie de perpétua. A defesa afirma que os assassinatos foram motivados por problemas psicológicos e pede redução da pena.

Durante o julgamento, foram ouvidas mais de 30 pessoas, incluindo Patrick, guardas civis e policiais envolvidos na investigação, psicólogos e técnicos forenses.

O depoimento de Patrick ocorreu no primeiro dia de júri. O réu se negou a responder às perguntas da acusação e do Ministério Público espanhol e se limitou a responder apenas à sua própria defesa, representada pela advogada Bárbara Royo. “Eu sabia que queria fazer, mas não como ia acontecer”, declarou, de acordo com informações da rede espanhola Antena 3. “Queria ter evitado tudo isso (…). Não escolhi funcionar da maneira como funciono. Os sentimentos vêm e não sei como controlá-los”, disse, acrescentando que sofreu com bullying e alcoolismo.

Policiais da Guarda Civil espanhola que depuseram na sexta-feira (26) afirmaram que Patrick já era o principal suspeito do crime cinco dias depois que os corpos da família esquartejada foram encontrados. “Se ele tivesse ficado dois dias a mais na Espanha, nós o teríamos prendido”, explicou um dos agentes durante o depoimento.

Segundo os agentes, várias evidências os fizeram suspeitar que Patrick era o autor dos crimes, entre elas o fato de que ele parou de ir para academia, que frequentava diariamente, imediatamente nos dias após a data do crime, 17 de agosto de 2016. Além disso, os agentes ficaram surpresos com a saída rápida de Patrick da Espanha para o Brasil, dias depois que os corpos foram achados.

Acusação e defesa divergem

Os médicos que analisaram o réu após sua prisão afirmaram, na segunda-feira (29), que Patrick não demonstra remorso e que sabia perfeitamente o que fazia quando matou os tios e primos, classificando-o como “psicopata sem empatia”. “Ele queria fazer isso, então ele nos disse ‘eu já tinha pensado como fazer isso’, portanto não podemos considerar um ato impulsivo. Ele não tem capacidade limitada para conhecer ou entender o que faz”, explicou uma das psicólogas forenses, conforme divulgação feita pela emissora de TV espanhola Antena 3.

patrick
Defesa apresentou laudo que atestaria deformidade cerebral de Patrick.

A defesa de Patrick, entretanto, argumentou na terça-feira (30) que os atos dele foram influenciados por um suposto dano cerebral no lóbulo frontal direito, o que afetaria tomada de decisões e justificaria a atenuação da pena. Segundo o médico José Miguel Gaona, cujo laudo embasa a tese da defesa, Patrick teria afirmado que “nas guerras morrem muitas crianças e muitas pessoas e nada acontece”.

Para José Miguel Gaona, a declaração sobre as mortes nas guerras alertou para a possibilidade de dano cerebral. “’Aqui algo está errado’, eu pensei. Ele não só não tem empatia, mas também não sabe como imitá-la, um psicopata pode imitar empatia”, comentou.

O problema no lóbulo frontal direito “aumenta a irritabilidade, a agressividade, a desinibição, a impulsividade, o reconhecimento dos rostos, o que tem muito a ver com empatia. Sem inibição, nos esquecemos de que nascemos selvagens”, completou José Miguel Gaona. Os peritos contratados pela defesa também negaram que haja indícios de psicopatia em Patrick Nogueira, justamente por essa deformação no cérebro.

O crime

De acordo com a denúncia da promotoria, o acusado foi até a casa onde a família vivia na cidade de Pioz no dia 17 de agosto de 2016 “com o propósito de acabar com a vida” de seus tios e primos, utilizando uma faca de grandes dimensões.

Conforme o processo, a tia do acusado abriu a porta da casa na presença de seus filhos e permitiu a entrada de Patrick. Em um dado momento, no qual ambos estavam na cozinha, ele a atacou de forma surpreendente e fez um corte em seu pescoço, que veio a causar sua morte.

Em seguida, o acusado foi ao encontro de seus primos, um de quatro e outro de um ano de idade, e também os degolou. Depois, com a intenção de ocultar o crime, o jovem esquartejou o corpo da sua tia e colocou as partes em sacolas plásticas, fazendo o mesmo com os corpos de seus primos, mas sem desmembrá-los, e começou a limpar o local, aguardando a chegada de seu tio.

Quando o tio entrou na residência, foi recebido pelo assassino, que esperou que ele virasse as costas para atacá-lo, desferindo várias facadas. Depois, esquartejou o corpo como fez com sua tia, com a intenção de ocultá-lo.