Integrantes do MST foram mortos por conta de briga envolvendo extração de areia

Polícia prendeu três pessoas envolvidas no crime, que aconteceu em dezembro.

Integrantes do MST foram mortos por conta de briga envolvendo extração de areia
A morte de dois integrantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) em um acampamento na cidade de Alhandra foi causada por uma discussão envolvendo extração de areia na área. A revelação foi feita pela delegada Flávia Assad, que investiga o caso, em entrevista coletiva nesta sexta-feira (17). Três pessoas foram presas por suspeita de envolvimento no duplo homicídio ocorrido em dezembro de 2018 no acampamento Dom José Maria Pires.

A delegada explicou que no acampamento tem uma área de extração de areia, que é feita com permissão do MST. Para que haja a exploração, os areeiros precisam fazer um pagamento de R$ 2 mil por mês ao movimento. Uma das pessoas que realizava a extração não estava fazendo o repasse e ainda estava retirando a areia de forma clandestina durante a madrugada. Os dirigentes do MST José Bernardo da Silva, que era conhecido como Orlando, e Rodrigo Celestino descobriram a extração irregular e proibiram que ele continuasse a prática.

Três pessoas presas

O homem que estava retirando a areia de forma irregular era Rawlinson Bezerra de Lima, conhecido como Ralph. Após ser barrado pelos dirigentes do MST, segundo a delegada, ele planejou a morte dos dois homens. Ralph foi preso nesta sexta-feira em casa, na Avenida Cabo Branco, em João Pessoa.

Os outros presos são Leandro Soares da Silva, detido no próprio acampamento Dom José Maria Pires, e uma mulher que ainda não teve o nome revelado, presa no bairro José Américo, também em João Pessoa. A Polícia Civil não detalhou a participação dos dois, alegando que as investigações ainda estão em curso.

A superintendente regional da Polícia Civil, delegada Roberta Neiva, disse que o assassinato não tem nenhuma ligação com o MST. “Não há nenhum tipo de criminalização do Movimento Sem Terra, o crime não tem nenhuma relação com a atividade social do movimento. É um crime motivado por questões pessoais, econômicas, de pessoas que se relacionavam com membros, integrantes do movimento”, explicou.

coletiva mortes do MST (Foto: Herbert Araújo/CBN João Pessoa)
Delegada disse que investigações seguem em curso e por isso não detalhou participação de dois dos presos (Foto: Herbert Araújo/CBN João Pessoa)

O Crime

José Bernardo da Silva e Rodrigo Celestino foram mortos a tiros por homens encapuzados e fortemente armados que invadiram o acampamento Dom José Maria Pires. O crime aconteceu no momento em que as duas vítimas estavam jantando. O acampamento fica na fazenda Garapu e o local está ocupado pelas famílias desde julho de 2017.

Na época do crime, a delegada Lídia Veloso, que estava à frente do caso, disse que o crime tinha características de execução, porque os atiradores mandaram outras pessoas se afastarem e atiraram somente nas duas vítimas. “Falaram que queriam só eles, mandaram os outros saírem do meio, renderam e atiraram. Por isso trabalhamos com execução”, afirmou na época.

José Bernardo da Silva, que era conhecido como Orlando, era um dos diretores do MST na Paraíba. Ele não morava no Acampamento Dom José Maria Pires e estava visitando o local quando acabou sendo assassinado. Ele foi o segundo membro da família ligado a movimentos sociais vítima de assassinato. Em 2009, o irmão dele, Odilon Bernardo, que integrava o Movimento dos Atingidos por Barragens na Paraíba (MAB/PB) foi assassinado em uma emboscada. Depois disso, um outro irmão deles, Osvaldo entrou no programa de proteção aos defensores dos direitos humanos.

A outra vítima, Rodrigo Celestino, tinha 38 anos, e morava no acampamento onde aconteceram os assassinatos.