Famílias se dividem entre ‘vitória’ sobre a Covid-19 e o luto pelas perdas

Mais de 120 mil paraibanos se recuperaram da doença e devem celebrar neste Natal.

Famílias se dividem entre ‘vitória’ sobre a Covid-19 e o luto pelas perdas
José Rogério Silva e Gláucia Almeida deixando o hospital. Foto: Arquivo Pessoal

A pandemia do novo coronavírus já retirou a vida de milhares de pessoas em todo o mundo. Na Paraíba, infelizmente, mais de 3,5 mil pessoas tiveram seus sonhos, projetos e planos interrompidos e deixaram famílias inteiras em luto. Outros 124 mil paraibanos aproximadamente, contraíram a Covid-19 mas conseguiram se recuperar, dando aos seus familiares e amigos um motivo a mais para celebrar o Natal, nestas quinta (24) e sexta-feira (25).

O casal Gláucia Almeida e José Rogério Silva, com 44 anos de idade cada, experimentam essa sensação de alívio. Eles, que nasceram no município de Barra de Santa Rosa, no Agreste paraibano, foram infectados pelo novo coronavírus e ficaram internados, juntos, se tratando de complicações da Covid-19 no Hospital de Clínicas, em Campina Grande.

Rogério conta que os primeiros sintomas de infecção pelo novo coronavírus que sentiu foi febre, dor de cabeça e ardor nos olhos. Com o passar dos dias, a Covid-19 se manifestou de forma um pouco mais agressiva, através de uma tosse seca e isso fez acender um alerta na família. Gláucia, esposa de Rogério, também ficou doente.

“Tomamos os cuidados necessários, mas mesmo assim fomos acometidos pelo vírus. A cada dia foram aparecendo sintomas diferentes e eu pensava que era uma gripe. Mas, chegou ao ponto de minha esposa começar a sentir sintomas também. Fizemos testes rápidos e os resultados deram negativo. No dia seguinte continuamos com sintomas, fomos encaminhados à Campina Grande para fazer o teste SWAB e nesse momento caiu a ficha que de estávamos com coronavírus”, explicou Rogério.

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Rogério, Gláucia e a família (Foto: Reprodução/Arquivo Pessoal)

Após a doença se agravar, Rogério e Gláucia precisaram ficar internados na enfermaria do Hospital de Clínicas. Inicialmente, apenas Gláucia precisou de oxigenação intensa para sanar a falta de ar, mas seu esposo ficou tão abatido e também foi submetido à internação.

“Quando deixei minha esposa no hospital, fiquei na dúvida se seria o último momento junto à ela. Mas, uma enfermeira me viu abatido, cansado e me encaminhou para fazer exames. Os médicos me deixaram internado e ficamos juntos, um ao lado do outro. Foi um momento ímpar onde eu pude estar ao lado dela e junto superarmos a doença. Mas, não foi fácil”, lembrou Rogério.

Gláucia conta que a presença do marido durante a internação foi fundamental para que ela superasse o momento. Sem ele, ela ficaria impedida de ter qualquer contato com familiares e amigos, isolada em uma ala específica para pacientes infectados pelo novo coronavírus.

“É muito ruim a sensação. Eu tive medo de não ver minhas filhas, de ter minha vida interrompida por esse vírus, mas graças a Deus estamos bem. Eu acredito que se eu não tivesse meu esposo ali ao meu lado, eu teria me entregado à doença e não teria saído tão rápido”, comentou.

Famílias se dividem entre ‘vitória’ sobre a Covid-19 e o luto pelas perdas
Foto: Arquivo Pessoal

Passados três dias da internação, o casal conseguiu se recuperar e recebeu alta médica. Fora do hospital, eles foram recebidos com muita festa pelos profissionais de saúde e pela família, que agora, só consegue expressar um único sentimento: gratidão pela recuperação e pela vida.

“Nosso presente de Natal é a saúde. O aconchego do nosso lar, junto com nossos filhos e a sensação de que o pior já passou. Estamos com sequelas, nosso emocional zera, mas vamos superar”, disse Rogério.

O outro lado

Para outras famílias, no entanto, o momento ainda é de dor. Isso porque, infelizmente, familiares e amigos morreram em decorrência do novo coronavírus, tirando o brilho e qualquer celebração natalina. O pastor evangélico Jefferson James, de João Pessoa, conta que ao longo da pandemia, mais de 50 pessoas de sua convivência contraíram o novo coronavírus. Destas, ao menos 26 morreram.

“Em março não tínhamos compreensão de que tal mal pudesse atingir lares de pessoas tão próximas. Perdemos mais de 20 amigos, entre eles dois parentes, então esse é um momento terrível para minha família. O ano de 2020 tem um gosto diferente e o Natal não será o mesmo de antes”, contou.

Jefferson explica que seu cunhado testou positivo para a Covid-19 e também precisou ficar internado. No período, ele e a esposa foram ao estacionamento do Hospital Clementino Fraga, onde o cunhado estava se tratando do novo coronavírus para pedir a Deus pela vida do ente querido, com base na fé que pratica.

“Quando fomos orar por ele, um segurança perguntou o que eu estava fazendo e pediu para que orasse por ele também, pois estava saindo de casa sem saber se voltaria. É uma situação muito difícil”, disse.

Já para quem conseguiu se recuperar e não perdeu ninguém para o novo coronavírus, o desejo de comemorar ficou ainda mais forte. No fim de ano, então, o clima de festas fica ainda mais evidente. Com a pandemia do novo coronavírus, no entanto, as autoridades de Saúde recomendam que as pessoas não se aglomerem e comemorem Natal e Réveillon apenas com pessoas que residem na mesma casa.

A família de Carla Miranda, estudante de 20 anos, vai seguir a recomendação e não deve se reunir neste Natal. Ela, que contraiu a Covid-19 e agora luta contra as sequelas da doença, conta que motivos para comemorar não faltam: a recuperação e todas as vitórias conquistadas em 2020. O momento é de gratidão, mas também de cautela.

“O ano de 2020 foi muito difícil, principalmente para as famílias que perderam alguém para a Covid-19. Graças à Deus esse não é o caso da minha família, apesar de várias pessoas terem contraído o coronavírus, inclusive em outros estados, ninguém evoluiu para casos graves. O que levamos ao fim de ano é o sentimento de gratidão”, comentou.

Carla, inclusive, foi entrevistada pelo JORNAL DA PARAÍBA em maio, no Dia das Mães, quando demonstrou cautela ao deixar de comemorar a data com uma festa feita há 40 anos. De lá pra cá, algumas coisas mudaram. Pessoas da família contraíram o novo coronavírus e a expectativa de comemorar as festas de fim de ano juntos foi frustada pela alta no contágio pela Covid-19 registrada no Brasil, nas últimas semanas.

Famílias se dividem entre ‘vitória’ sobre a Covid-19 e o luto pelas perdas
A tradicional festa natalina da Família Miranda, de Campina Grande, este ano não acontecerá. Foto: Arquivo Pessoal

“Lá no início do ano, quando a pandemia começou, a expectativa era de poder passar o Natal juntos, mas continuamos sem poder nos confraternizar. No Natal, ficaremos em nossas casas e não vamos realizar ‘festão’, pois não temos tantos motivos. Está todo mundo bem na nossa família, mas com tantas mortes, temos uma consciência coletiva que o final de 2020 está sendo mais difícil que o normal para muitas famílias”, explica.

A estudante reitera, ainda, que apesar da expectativa pela chegada da vacina contra o novo coronavírus ser grande, a pandemia continua. O momento requer cautela para que em 2021 a luta contra a Covid-19 seja, finalmente, vencida.

“Esse ano está acabando, mas 2021 não trará milagres. É óbvio que temos expectativa pra vacina, mas não podemos jogar tudo pro alto nesse fim de ano. Vamos manter todos os cuidados, por respeito aos nossos familiares. É melhor deixar de se ver neste Natal, do que deixar de se ver em todos os outros”, concluiu.

*Sob supervisão de Jhonathan Oliveira