Bolsonaro e Braga Netto não querem somente o voto impresso, querem plantar o “clima de fraude”

Por LAERTE CERQUEIRA e ANGÉLICA NUNES 

Bolsonaro e Braga Netto não querem somente o voto impresso, querem plantar o "clima de fraude"
Foto: Foto: Alan Santos/PR

O presidente Jair Bolsonaro disse que semana que vem vai provar uma fraude nas eleições de 2014. Deve apresentar algo para abastecer as redes de desinformação dos seus seguidores.

Nesta quinta-feira (22), disse que a apuração é feita por meia dúzia de pessoas no Tribunal Superior Eleitoral. O TSE teve que emitir nota e falar o que todos já sabem. O relatório de urna é público, divulgado após o encerramento da votação e entregue aos partidos. A urna eletrônica é auditável por partidos e órgãos de controle.

O ministro Walter Braga Netto (Defesa) negou que tenha enviado um emissário para avisar ao presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, que não terá eleição sem voto impresso, como já falou o presidente semanas atrás.

Na nota, Braga Netto não garantiu, no entanto, que vai ter eleição, mesmo com voto eletrônico, como afirmou claramente o vice-presidente, Amilton Mourão (PRB).

O presidente da Câmara disse que vai ter eleição, a soberania do voto está garantida. Mas silenciou sobre a suposta ameaça, divulgada em matéria do Estadão, hoje. Não negou claramente.

A questão é que o presidente e os seus prepostos, como Braga Netto, não estão querendo apenas o voto impresso ou a transparência no sistema. Eles querem tumultuar, gerar a desconfiança, a descrença.

Assim, plantando a deslegitimação do sistema eleitoral, também deslegitimam a vitória de um candidato que não seja o próprio Bolsonaro. Planta-se o clima de caos, de golpe.

Projeto tramita na Câmara

Não há nenhum problema em defender a impressão do voto, a melhoria do nosso sistema eleitoral. Buscar mais transparência e aperfeiçoar os eventuais problemas encontrados. O presidente, qualquer parlamentar ou cidadão têm todo direito de questionar.

Mas o debate do tema deve ser no parlamento, com as regras institucionais, da democracia, não com ameaças ‘descaradas’ do presidente, de qualquer militar ou parlamentar.

O convencimento tem que ser feito no Legislativo, com aprovação em tempo, para, constitucionalmente, ser implantado. 

O presidente e a claque já sabem que não há disposição no Congresso para fazer isso. Não há necessidade, agora. E aproveita a resistência para mobilizar sua base, amedrontada com sua falta de popularidade e com o péssimo resultado nas pesquisas eleitorais.

O mais “louco” de tudo isso é que esse debate, desnecessário, acontece em um país com mais de 14 milhões de desempregados, no meio de uma pandemia que tem mais de 540 mil mortos; com a fome dentro da casa de milhões de miseráveis, com a falta de perspectiva.

O presidente até pode reverter esse cenário de queda, se governar. Ainda tem tempo de apresentar seus programas para o país.

A sensação é que ele desistiu disso e resolveu apostar na desconfiança para continuar na presidência a qualquer custo, antes da eleição, abraçado ao PP de Arthur Lira e Ciro Nogueira, e depois, afirmando que o processo eleitoral foi fraudado.