Desfile de tanques no dia da análise do “voto impresso” é intimidação ao Parlamento

Por LAERTE CERQUEIRA e ANGÉLICA NUNES

Discussão e votação de propostas. Presidente da Câmara, dep. Arthur Lira PP - AL
Sessão do Plenário da Câmara dos Deputados. Foto: Agência Câmara

Uma trágica coincidência. Foi assim que o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), descreveu o desfile militar programado para esta terça-feira, no dia em que os deputados federais analisam a PEC do voto impresso. A sessão do Plenário está marcada para as 15 horas.

O texto foi rejeitado pela comissão especial na última sexta-feira (6), por 22 votos a 11, mas mesmo assim o presidente resolveu, de um lado, agradar a Bolsonaro, do outro, abrir a possibilidade de enterrar o debate. Ninguém sabe ao certo qual foi a real intenção.

Sobre o desfile, não há porque ter dúvidas. Bolsonaro não se defende, ele sempre ataca. O desfile, mantido por ele, é mais uma forma de ataque, de intimidação, tenha sido ele programado ou pura coincidência trágica.

Por causa da coação ao Parlamento, que será o primeiro alvo de um eventual golpe pavimentado pelo presidente, a votação poderá ser adiada.

No dia 5, a comissão já havia rejeitado o parecer do deputado Filipe Barros (PSL-PR), cujo substitutivo propunha a contagem pública e manual dos votos a partir de cédulas impressas no momento da votação. No dia seguinte, o colegiado aprovou parecer do deputado Raul Henry (MDB-PE), que recomenda a rejeição também da proposta original.

Para ser aprovada, uma PEC precisa do voto favorável de 308 deputados em dois turnos de votação, além de passar pelo Senado, também em dois turnos.

Parlamentares de oposição reagiram ao anúncio da exibição militar com blindados e acionaram a Justiça para pedir a proibição do evento. Muitos defendem, no entanto, que a PEC seja votada e rejeitada o quanto antes para botar fim ao inflamado debate sobre o tema.

O desfile

De acordo com comunicado divulgado pela Marinha, o desfile será para entrega de um convite ao presidente Jair Bolsonaro e ao ministro da Defesa, Walter Braga Netto, para que assistam a um treinamento da Marinha que acontece anualmente na cidade goiana de Formosa, a cerca de 80 km de Brasília. Segundo a nota, este ano participarão do exercício também, pela primeira vez, o Exército e a Força Aérea.