Instabilidade: Patos atinge a marca de cinco prefeitos em dois anos e meio

Sales Júnior assumiu na sexta (5) como prefeito interino.

Foto: Leonardo Silva/Jornal da Paraíba
Instabilidade: Patos atinge a marca de cinco prefeitos em dois anos e meio
Prefeitura de Patos tem tido intensa troca de comando (Foto: Leonardo Silva/Jornal da Paraíba)

Em dois anos e meio, cinco prefeitos diferentes. Essa é a situação da cidade de Patos, no Sertão da Paraíba, que tem vivido uma descontinuidade administrativa desde 2016. A última mudança no cargo aconteceu na sexta-feira (5) quando o presidente da Câmara Municipal, Francisco de Sales Júnior (PRB), foi empossado como prefeito interino. A reportagem do JORNAL DA PARAÍBA relembra os passos dessa ‘dança das cadeiras’ na prefeitura sertaneja.

Eleita em 2012, a prefeita Francisca Motta (MDB) foi quem abriu o processo de troca de chefes do Executivo em Patos. Em setembro de 2016, ela foi um dos alvos da Operação Veiculação da Polícia Federal (PF). A investigação desarticulou um esquema direcionamento de procedimentos licitatórios e superfaturamento de contratos, para locação de veículos. As fraudes, segundo a PF, aconteciam em Patos, Emas e São José de Espinharas. Os três prefeitos foram afastados por decisão judicial e apenas Francisca Motta não foi presa.

Instabilidade: Patos atinge a marca de cinco prefeitos em dois anos e meio
Lenildo Morais assumiu na vaga de Chica Motta (Foto: Divulgação)

Com a saída de Francisca Motta, quem passou a administrar Patos foi o então vice-prefeito, Lenildo Morais (PT). O petista prometeu, assim que tomou posse, um choque de gestão, anunciando uma sindicância para apurar irregularidades cometidas na administração da antecessora.

Francisca ainda tentou retomar o comando da cidade por meio de recursos judiciais, mas não teve êxito.Com isso, Lenildo ficou na prefeitura e buscou a reeleição no pleito de outubro de 2016.

O petista, no entanto, teve que enfrentar representantes dos dois grupos políticos que dominam a política de Patos. Lenildo teve como adversários Dinaldinho Wanderley (PSDB), então deputado estadual e filho do ex-prefeito Dinaldo Wanderley, e o deputado estadual Nabor Wanderley, na época no MDB, que tinha sido prefeito de Patos antes de Francisca Motta, sua ex-sogra. Dinaldinho acabou sendo eleito com 51,94% dos votos.

DINALDO WANDERLEY
Dinaldo venceu as eleições de 2016 (Foto: Arquivo)

Operação Cidade Luz

Em agosto de 2018, uma nova operação balançou as estruturas da administração municipal de Patos. Intitulada de ‘Cidade Luz’, a investigação apurava um esquema de desvio de recursos públicos da prefeitura de Patos, principalmente em contratos com empresas que prestavam serviço de iluminação.

Poucos dias depois da ação ser deflagrada, o Ministério Público denunciou 13 pessoas, entre elas o prefeito Dinaldinho e também pediu o afastamento dele, que foi acatado pela Justiça.

A investigação mostrou que, em 10 meses, a organização criminosa obteve um enriquecimento ilícito de mais de R$ 739 mil, desviados dos contratos firmados com a prefeitura de Patos. Dinaldinho, segundo o MP, organizou o esquema de recebimento de vantagens antes das eleições.

O prefeito desde que foi afastado tem tentado meios para reassumir, mas tem perdido em todas as instâncias judiciais. A última derrota aconteceu no começo de março. Na ocasião, o Wanderley apresentou uma medida cautelar, com pedido de liminar, para que o Supremo Tribunal Federal (STF) revisse uma negativa do Superior Tribunal de Justiça (STJ) em um habeas corpus, de novo não teve sucesso.

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Bonifácio apresentou a renúncia na quinta-feira (Foto: Divulgação)

Bonifácio governa por menos de oito meses

A cidade de Patos viu, em 15 de agosto de 2018, mais um vice virar prefeito. Bonifácio Rocha (PPS) assumiu de forma interina a cadeira de Dinaldinho. Assim como aconteceu com Lenildo, ele logo se apressou em mostrar que era diferente do antecessor, dizendo que ia mudar a forma de fazer política na região.

Bonifácio encontrou um ‘rombo” financeiro na Prefeitura e baixou um pacote de medidas de cortes de gastos, a exemplo da demissão de comissionados e prestadores, além de reduzir despesas com energia, água, telefone e combustível. Apesar das medidas, não conseguiu equilibrar as finanças do município.

Quando se acreditava que apenas uma vitória de Dinaldinho na Justiça tiraria Bonifácio do poder, ele surpreendeu a cidade e decidiu renunciar ao mandato, na quinta-feira (4). A carta-renúncia foi lida na sessão ordinária da Câmara pelo presidente Sales Júnior. “Chegamos num momento que, por tudo que envolve a briga insana pelo poder, já não vejo as mesmas condições para continuar avançando, mesmo retornando a cidade para os trilhos. A eleição que se aproxima contamina uma oportunidade e passa a ser objetivo principal de muitos”, justificou Bonifácio. A decisão de Bonifácio foi motivada por pressão de adversários e também de familiares.

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Posse de Sales Júnior (Foto: Epitácio Germano/Divulgação)

Sales assume e a prefeitura de Patos ‘muda de lado’

O presidente da Câmara, Francisco Sales Júnior (PRB), assumiu de forma interina a prefeitura com a renúncia de Bonifácio Rocha. Na posse, ele repetiu o discurso de mudança que tinha sido defendido pelos antecessores.

“Meu sentimento é entender que a nossa cidade precisa encontrar novos rumos, buscar caminhos, a curto e médio prazo, para resolver os principais problemas de Patos. A população entende este momento de instabilidade governamental. Sou primeiro da linha sucessória e irei me doar o máximo e fazer o possível pela cidade”, prometeu Sales.

Além do registro númérico, de ser o quinto prefeito em pouco mais de dois anos e meio, a posse de Sales tem um outro detalhe. A prefeitura de Patos muda de grupo político com ele no poder. O novo prefeito interino é filiado ao PRB, partido que é presidido no estado pelo deputado federal Hugo Motta, neto de Francisca Motta, que abriu o ciclo de instabilidade política na cidade sertaneja. Ele, inclusive, acompanhou a posse de Sales, junto com o pai, o deputado Nabor Wanderley (PRB).