Calvário: João queria expandir ‘esquema’ para outras áreas do governo, diz delator

Fantástico trouxe novos trechos do depoimento do empresário Daniel Gomes.

Calvário: João queria expandir 'esquema' para outras áreas do governo, diz delator
Segundo delator, João continuaria o que foi feito na gestão de Ricardo (Foto: Arquivo)

O empresário Daniel Gomes, principal delator da Operação Calvário, disse aos investigadores do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) do Ministério Público da Paraíba (MPPB) que o governador João Azevêdo (sem partido) se comprometeu em expandir o esquema criminoso para outras áreas do governo da Paraíba. A informação foi divulgada em reportagem do Fantástico, da TV Globo, no domingo (22), que trouxe novos trechos do depoimento do delator.

“Começou na Saúde e funcionou depois na Educação. Eu quero expandir. Tô precisando de ajuda pra campanha”. Segundo Daniel, esse pedido foi feito pelo próprio João Azevêdo quando ainda era candidato ao governo do estado, em 2018.

Os investigadores questionaram se a ajuda seria por uma possível contrapartida na gestão de João, o que Daniel Gomes confirma. “Cem por cento. Tanto é que ele falou: ‘queremos expandir, mas preciso de ajuda’”, disse. “Ricardo e João. Tudo é uma continuidade”, ressaltou o delator.

Veja a reportagem exibida pelo Fantástico

Durante a 7ª fase da Operação Calvário, na terça-feira (17), o governador João Azevêdo foi alvo de mandado de busca e apreensão. A parte da investigação que tem relação com ele está tramitando no Superior Tribunal de Justiça (STJ) por conta das prerrogativas do cargo.

Ao Fantástico, o Governo do Estado encaminhou uma nota, na qual diz que “”nunca houve acerto para manutenção da prestação de serviço na saúde, que o governador João Azevêdo não compactua com qualquer ato irregular que tenha sido praticado anteriormente e muito menos se envolve com atos que não sejam de moralidade administrativa”. João convocou uma coletiva para falar sobre a Operação Calvário nesta segunda-feira (23).

A Operação Calvário investiga uma suposta organização criminosa que desviou R$ 134,2 milhões de recursos da saúde e educação. Foram presas 14 pessoas, sendo nove na Paraíba, duas no Rio Grande do Norte, uma no Rio de Janeiro e uma no Paraná. Todos os 54 mandados de busca e apreensão foram cumpridos.

Mais acusações contra Ricardo

A reportagem do Fantástico também trouxe novas acusações contra o ex-governador Ricardo Coutinho (PSB), principal alvo da Calvário e apontado como chefe da organização criminosa. Coutinho chegou a ser preso, mas foi libertado no sábado (21) após uma decisão do STJ.

O empresário Daniel Gomes disse que pagou com dinheiro de corrupção as despesas de Ricardo em São Paulo, no show do Roger Waters em 2018, e no Rio de Janeiro, no desfile das escolas de samba de 2012.

Daniel, que representava a Cruz Vermelha Brasileira e o IPCEP, organizações que tinha contrato com o governo da Paraíba, responde em liberdade, após entregar aos investigadores gravações de conversas com o ex-governador Ricardo Coutinho e com assessores dele sobre acordos fraudulentos e entregas de propinas. Segundo Daniel, o valor médio das propinas era de 10% sobre os contratos.

O Fantástico também trouxe trechos da delação de Livânia Farias, ex-secretária de Administração do Estado. Ela citou entrega de dinheiro vivo nas mãos de Ricardo. “Entreguei ao governador Ricardo Coutinho. Era um valor de R$ 800 mil. Nas mãos dele”, diz Livânia Farias na delação, sobre repasse que teria sido feito em 2018. Em outros trechos, Livânia afirma que entregou R$ 1 milhão ao ex-governador.

A defesa de Ricardo Coutinho disse à reportagem da Globo que “não se pode concluir que numa conversa gravada há tantos anos, por exemplo, implique necessariamente num ato de corrupção. Até porque são valores estratosféricos. O ex-governador não tem patrimônio”.