Alternância de poder, mas sem reeleição. Que assim seja!


Alternância de poder, mas sem reeleição. Que assim seja!

Em mais um dia de convenção do Partido Democrata, a senadora Kamala Harris foi confirmada candidata a vice na chapa de Joe Biden.

Mulher e negra na vice-presidência dos Estados Unidos.

Talvez eu ainda seja um ingênuo em relação à superação dos conflitos raciais na América, mas há uma força simbólica nessa escolha.

Se pensarmos nos últimos 50 anos, veremos como os americanos levam a sério a alternância de poder. Os democratas ficaram oito anos com Kennedy e Johnson, mas depois veio Nixon. O desfecho foi o pior possível: o escândalo de Watergate e a renúncia, já no segundo mandato.

De Carter, a gente lembra sobretudo da defesa dos direitos humanos. O eleitor não quis que ele ficasse oito anos. Os republicanos voltaram com Reagan, canastrão do cinema que governou a Califórnia e terminou presidente. Em 1980, admirávamos a velocidade da apuração dos votos nos Estados Unidos. A nossa era obsoleta, e os brasileiros estavam enferrujados se o assunto fosse eleição.

Esperávamos o pior de Reagan, um ultraconservador no comando da Casa Branca. Era assustador para nós, que vivíamos sob governos de exceção e sonhávamos com um país redemocratizado. A realidade foi menos sombria. O velho ator ficou oito anos e fez o sucessor, Bush pai, que não se reelegeu.

Aí veio Clinton, um cara da geração que se rebelou nos anos 1960. Da Casa Branca ao show dos Rolling Stones – dá para traduzir assim. No ano 2000, seu vice, Al Gore, ganhou no voto popular, mas perdeu no número de delegados para Bush filho. Os oito anos que se seguiram confirmaram que o pesadelo não atendia pelo nome de Ronald Reagan.

Em 2008, os democratas queriam uma mulher no poder. Quando vi Obama pela primeira vez, não pensei que ele ultrapassaria Hillary para ser o primeiro negro na Casa Branca. Na madrugada em que discursou como presidente eleito, a imagem mais forte, para mim, foi a do reverendo Jackson com lágrimas nos olhos, no meio da multidão. Resumia a longa caminhada. Havia muitos símbolos ali, embora a vida real fosse menor do que o sonho.

Em 2016, a eleição de Donald Trump mostrou que Bush filho estava longe de ser o pior que imaginávamos. Daqui a pouco mais de dois meses, em meio à pandemia do novo coronavírus, os americanos têm a chance de mandá-lo embora.

Alternância de poder sem reeleição. Que assim seja!