Vejo Luíza Erundina, às vésperas de completar 86 anos, como vice na chapa de Guilherme Boulos à prefeitura de São Paulo e lembro de uma pequena história de redação de 1988.
Sim. 1988 foi o ano em que essa paraibana de Uiraúna (em foto de Heitor Marcon) derrotou Paulo Maluf e se elegeu prefeita da maior cidade brasileira.
Naquela época, a eleição era no dia 15 de novembro (como, excepcionalmente, por causa da pandemia, será agora em 2020), o feriado da proclamação da República. E ainda não havia segundo turno. Naquele ano, caiu numa terça-feira.
A divulgação de pesquisas também não era livre, como se tornou logo depois. Havia algumas restrições, sob o argumento de que influenciavam o eleitor, interferiam na eleição.
O que se tinha, ao longo da campanha, era o favoritismo de Paulo Maluf. Ninguém tirava dele a vitória – diziam.
O PT de Erundina era um partido novo, visto com grandes reservas pelo eleitorado mais conservador, de modo que as chances da candidata eram consideradas remotíssimas.
Novembro começou, e as coisas foram mudando.
A despeito da ausência de pesquisas, algo no ar dizia aos paulistanos que Erundina estava crescendo.
Na sexta-feira, 11 de novembro, a quatro dias da eleição, através de um jornalista paraibano radicado em São Paulo, recebi a informação de que o crescimento de Erundina era expressivo. As chances de vitória já não eram mais remotas.
Chegou o dia 15 de novembro.
Dia de eleição, logo cedo, estava na redação da TV Cabo Branco, cuidando da cobertura das eleições paraibanas (Wilson Braga foi o prefeito de João Pessoa; Cássio Cunha Lima, o de Campina Grande), quando recebi um telefonema da Globo São Paulo.
O cara da redação de lá, que sempre falava com a redação daqui, me fez uma pergunta que já veio com resposta e tudo:
“Sílvio, qual a distância entre João Pessoa e Uiraúna?”
“Perto de 500 quilômetros”, respondi.
E segui com a pergunta óbvia, mas necessária: “Erundina é a prefeita de São Paulo?”
E ele respondeu:
“Sim. Prepare a equipe. Precisamos ir para Uiraúna.”
