Derrota de Ricardo Coutinho foi didática. Devotos brigaram com Ibope entre ignorância e má fé

Derrota de Ricardo Coutinho foi didática. Devotos brigaram com Ibope entre ignorância e má fé

Ricardo Coutinho foi um grande prefeito de João Pessoa. Talvez o melhor de todos.

A Operação Calvário, no entanto, tirou dele as condições de disputar uma eleição. Pelo menos por enquanto.

A esse efeito sobre sua candidatura somou-se mais um na reta final da campanha de 2020: a decisão do TSE de torná-lo inelegível, ainda que podendo ser votado, por causa de um episódio de 2014, quando foi reeleito governador.

Admitamos que é difícil votar num candidato com as acusações que lhe são feitas pela Calvário e ainda por cima inelegível.

Mas o tema desse post é outro: a briga insana dos apoiadores de Ricardo com o Ibope. Li alguns, conversei com outros.

São de má fé ou são simplesmente ignorantes?

Vi de tudo: dos que mentiram sobre a série histórica de pesquisas do Ibope na Paraíba (Sim, houve o erro grosseiro em 1990, na disputa entre Ronaldo Cunha Lima e Wilson Braga!) aos que questionaram o método científico de amostragem utilizado pelo instituto. Nesse questionamento, porque tentaram desqualificar a estatística, usaram argumentos tão rasteiros quanto os de um bolsonarista.

Testemunhei com tristeza: gente de esquerda e da academia, com nome a zelar, confundindo o desejo que tinham de ver o candidato ganhar com a realidade da campanha.

As pesquisas do Ibope estavam corretas. Fotografaram três vezes o atipismo da campanha e a proximidade que havia entre os candidatos, o que poderia conduzir a resultados surpreendentes.

Brigaram com o óbvio, com o que estava na cara: o favoritismo de Cícero Lucena e as chances reais que o radialista Nilvan Ferreira tinha de ir para a disputa no segundo turno.

Ouvi que Nilvan não poderia ter mais voto do que Ricardo. Logo Nilvan, um novato na política, contra Ricardo, um político tão experiente. Argumentei que sim. Afinal, Jair Bolsonaro é o presidente da República.

Vi gente da academia ilustrar texto contra o Ibope com imagem que, se vista com atenção, desmentia o que estava escrito.

Vi respeitado cientista político chamar as pesquisas de coisa de espertos (ou sabidos) dirigida a incautos.

Nada disso. Os números do Ibope não eram uma chanchada, muito menos uma armação para inviabilizar a vitória de Ricardo Coutinho. Não. Os números do Ibope eram simplesmente os números do Ibope. Frios como costumam ser os números. E muito próximos da verdade.

Ricardo Coutinho não seria o quarto colocado na pesquisa e estaria presente no segundo turno, como “chutou” o cientista político que, mais tarde, parece ter deletado o que postara. Abertas as urnas, contados os votos, amargaria um sexto lugar. Perderia, vergonhosamente, para Cícero, Nilvan, Ruy, Virgolino e Edilma.

A derrota de Ricardo Coutinho é didática. Deixa grandes lições. Flagra em seu inferno astral uma expressiva liderança política que veio do nada e chegou a governar a Paraíba por duas vezes.

A derrota de Ricardo Coutinho, mesmo no micro (João Pessoa é micro), fala sobre o macro.

Errando desse modo, a esquerda chegará mal às eleições de 2022. Fará a sua parte para que o Brasil permaneça nas mãos da ultradireita que hoje nos governa.

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Não, devotos, não estou cumprindo nenhuma missão a mim atribuída pela Rede Paraíba de Comunicação. Não recebi missão alguma. Sou apenas um velho jornalista que observa os fatos e os comenta.