De volta à cena política como protagonista, Renan Calheiros é o Eduardo Cunha do momento

Por LAERTE CERQUEIRA

De volta à cena política como protagonista, Renan Calheiros é o Eduardo Cunha do momento
Foto: Geraldo Magela/Agência Senado

O mar da política se movimentou como nunca e trouxe o senador Renan Calheiros (MDB-AL) ao protagonismo da cena política. Seu “poder institucional” tinha ficado para trás, após deixar a presidência do Senado.

Como peripécia do destino, volta ao palco atacado por bolsonaristas, que há cinco anos ovacionavam o senador quando votou pelo impeachment da presidente Dilma.

À época, com o mesmo rosário de processos no Supremo Tribunal Federal. Só, agora, usado como problema para sua atuação.

O novo relator da CPI da Covid-19 chega com discurso de imparcialidade, mas as primeiras palavras são de claro emparedamento do governo Bolsonaro. Governistas sabem que há evidências fortes para sangrar o presidente.

Os recados 

Renan deu muitos recados e já disse para onde vai.

“Não foi o acaso ou flagelo divino que nos trouxe a este quadro. Há responsáveis, há culpados, por ação, omissão, desídia ou incompetência e eles serão responsabilizados. Essa será a resposta para nos reconectarmos com o planeta. Os crimes contra humanidade não prescrevem jamais e são transnacionais. Slobodan Milosevic e Augusto Pinochet são exemplos históricos. Façamos nossa parte”, disse.

E continuou:

“Os verdugos são inservíveis no Estado democrático de Direito. Eles negaram apoio a esta CPI. Negaram, por todo os meios, a chance que ela fosse instaurada. Agora tentam negar que ela funcione com independência […] Entre a ciência e a crença, fico com a ciência; entre a vida e a morte, a vida eternamente; entre o conhecimento e obscurantismo; óbvio escolho o primeiro; entre a luz e as trevas; a luminosidade; entre a civilização e a barbárie, fico com a civilidade e entre a verdade e a mentira, lógico que a verdade sempre”, completou.

Alguém tem dúvida que essas palavras têm destino certo?

Acusações conhecidas 

A Casa Civil entregou a lista de acusações naturais. Pelo menos 23. Todas já amplamente divulgadas pela mídia. Um roteiro sistematizado de supostos crimes. Nele, um alvo principal evidente, mas que pode se tornar o bode expiatório: o ex-ministro Eduardo Pazuello. Se precisar, vão-se os anéis e ficam os dedos.

Mas a CPI, com seu poder de inquirição, vai colocar na voz dos personagens da pandemia as acusações, as defesas, as decisões. Vai dar materialidade ações equivocadas e omissões do governo. Da negação da gravidade da Covid-19 à negação da vacina,  do gasto desnecessário com a cloroquina à falta de oxigênio no Amazonas.

Não faltam exemplos de má gestão. A CPI, a depender do “humor” e da vontade política do relator, pode potencializar o estrago ou dar aquela amenizada. Bolsonaro já se convenceu e foi convencido que é bom evitar ir para o confronto com Calheiros, conhecido pelo intempestividade. Conhecedor, como poucos, do jogo político.

A presença de Renan como histórico de político “sujo” pode ser combustível para bolsonaristas diminuíram a importância da CPI. Mas o “coronel” alagoano não vai deixar barato, responsável pelo ritmo e intensidade das cores da CPI, sabe que tem na mão elementos suficientes para mexer profundamente com o futuro da política do país.

Renan Calheiros é o Eduardo Cunha desse nosso momento político. Ambos, caciques do MDB.