Comandante-geral da PM da Paraíba critica alinhamento ideológico nas polícias e defende pacificação social

Por LAERTE CERQUEIRA e ANGÉLICA NUNES 

Comandante-geral da PM da Paraíba critica alinhamento ideológico nas polícias e defende pacificação social
Foto: Reprodução/Rede Social

O comandante-geral da Polícia Militar da Paraíba, coronel Euller Chaves, de 54 anos, é crítico do alinhamento ideológico nas polícias e defende que a instituição se dedique a buscar pacificação social.

O coronel acredita que a proposta de eleição e mandato de comandante-geral da polícias pode politizar instituições de Estado, de um ponto de vista que não seja o mais justo e o mais adequado para o exercício daquela função.

Há mais de dez anos como comandante-geral da PM paraibana, Euller tem perfil humanista e educador, diz jornal Estadão. 

O paraibano é primeiro nordestino a presidir o Conselho Nacional de Comandantes-Gerais das PMs (CNCG). A ascensão dele ocorre no momento em que cresce os conflitos entre polícias e governos.

Em entrevista ao jornal, o comandante-geral da PM paraibana lembrou que a eleição dele (para o CNCG) foi por unanimidade. “Temos mais de dez anos no comando da PM da PB, é um período importante para o contexto nacional. Sou o decano do Conselho. Talvez esse aspecto tenha sido importante no contexto, mas, como somos conselho, buscamos ouvir todos”, afirmou.

Euller falou sobre riscos de motins e politização da tropas pelo país.  Veja outros trechos da entrevista feita pelos repórteres Vinícius Valfré e Felipe Frazão, d’O Estado de S.Paulo.

O Conselho fez alguma proposta de Lei Orgânica da PM ao Congresso?

É uma vontade histórica, desde o início de 2000, a concepção de uma lei orgânica nacional que nos dê identidade. O conselho fez uma proposta no ano passado. Algumas pessoas fizeram outras. A nossa está ligada ao respeito à autoridade constituída, à constituição estadual, à leitura de que somos instituição de Estado. Entregamos ao deputado Capitão Augusto e ao ministro da Justiça na época, André Mendonça.

A proposta em discussão no Congresso tira poderes de governadores sobre as polícias. Institui, por exemplo, lista tríplice, eleição interna e mandato para comandante-geral.

Eu falo da proposta do Conselho. Nossa leitura é a de vinculação, de subordinação direta aos comandantes-em-chefe das polícias e dos bombeiros, que são os governadores. Em momento nenhum desvinculamos. A proposta de escolha por eleição não é nossa. Buscamos fortalecer a autoridade dos governadores e a concepção da instituição de Estado pautada na leitura da democracia.

Por que considera eleição e mandato de comandante-geral negativo?

Porque pode politizar instituições de Estado, de um ponto de vista que não seja, talvez, o mais justo e o mais adequado para o exercício daquela função. Colocar uma votação para comandante-geral e fazer um mandato. Desconheço dentro da concepção do militarismo. A maioria do conselho achou inconveniente para o momento que estamos vivendo. Vai vencer o mais justo, o melhor, o mais disciplinador ou o mais agradável?

Há riscos de novos motins nos Estados ?

Não temos sinais nesse sentido. O momento tem exigido muito das PMs e do Corpo de Bombeiros. Além de cuidar da criminalidade violenta, que já é pandêmica, estamos cuidando também de uma pandemia. Estamos fazendo com que as pessoas se conscientizem e se protejam. Perdemos companheiros. Já são mais de mil PMs e bombeiros que se foram por causa dessa pandemia.

A politização das tropas e dessas associações é algo que o preocupa ?

Sempre preocupou. Temos sinais pretéritos que recomendam olhar diferenciado para algumas das associações. Não quero generalizar. Por isso, dizemos aqui aos comandantes: cuidem dos seus comandados como filhos, porque se não cuidarmos alguém vai tentar cuidar. E cuidar às vezes não é para o lado bom.

A polarização política e as crises têm tornado mais difícil cuidar dos comandados?

Lá atrás já falávamos do papel do militar como pacificador social. A gente tem que conceber esse papel. Passamos isso nos bancos escolares, diariamente, mas as pessoas são pessoas. As escolhas precisam ser legais. O trabalho das instituições militares do Brasil é a legalidade, o respeito à autoridade constituída dos governadores de Estados.

Que juízo o senhor tem sobre a influência do presidente Bolsonaro e dos aliados dele sobre as polícias dos Estados ?

O presidente é uma autoridade constituída. A influência nas pessoas vai haver, mas sempre buscamos a linha da pacificação social e a concepção de que somos instituições de Estado. Tenho conversado com os comandantes e nossa missão é pacificar. Tenho dito aos meus comandantes e conversado com comandantes-gerais que nosso papel é pacificar. Não devemos estabelecer linha ideológica de A, B ou C. Precisamos buscar a compreensão dos lados, que podem ser dois, três ou quatro, e buscar a nossa missão, que é a manutenção da ordem pública e cumprir nosso dever constitucional.