Fake news: Bolsonaro relaciona vacina a HIV e entidades médicas desmentem

Presidente disse em live que pessoas completamente imunizadas contra a Covid-19 estão desenvolvendo HIV ‘muito mais rápido que o previsto’.

Fake news: Bolsonaro relaciona vacina a HIV e entidades médicas desmentem
O presidente associou a vacina contra Covid-19 ao HIV. Foto: Reprodução

A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) teve que entrar no circuito para desmentir uma fala do presidente Jair Bolsonaro, na última quinta-feira, na live semanal. Baseado em sites (aqueles que falam o que ele quer ouvir), o presidente relacionou as vacinas contra Covid-19 ao vírus da imunodeficiência humana (HIV).

A entidade  condenou “toda e qualquer notícia falsa que circule e faça menção a esta associação inexistente”.

A informação “jogada” na live dizia que relatórios oficiais do governo do Reino Unido sugerem que as pessoas completamente imunizadas estão desenvolvendo a síndrome de imunodeficiência adquirida “muito mais rápido que o previsto”.

O Comitê de HIV/aids da SBI disse, em nota, que não se conhece nenhuma relação entre qualquer vacina contra a COVID-19 e a Aids. Esclareceu ainda que pessoas que vivem com HIV/aids devem ser completamente vacinadas contra a Covid-19.

“Destacamos inclusive a liberação da dose de reforço (terceira dose) para todos que receberam a segunda dose há mais de 28 dias”, diz o texto, endossado pela Associação Médica Brasileira (AMB). “Repudiamos toda e qualquer notícia falsa que circule e faça menção a esta associação inexistente”, afirmou na nota.

Reação de cientistas à fake news

Em monitoramento de O Globo no Twitter, pesquisadores e médicos se manifestaram sobre a fala do presidente Jair Bolsonaro.

A epidemiologista Denise Garrett, do Instituto de Vacinas Sabin (dos EUA), reiterou que nenhuma das vacinas para Covid-19 aprovadas pela Food and Drug Administration (FDA), agência reguladora dos EUA, e pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), causam HIV. Isso inclui todos os imunizantes disponíveis no Brasil, além da vacina da Moderna.

O infectologista Evaldo Stanislau, diretor da Sociedade Paulista de Infectologia, publicou um vídeo no qual critica a disseminação de mentiras sobre o assunto e esclarece que não há nenhuma base científica para afirmar que pessoas que tem HIV e estão vacinadas completamente contra a Covid desenvolvem aids. “Vacinas não transmitem doenças. Vacinas previnem doenças. Vacina contra a Covid salva vidas”, afirma o médico.

A declaração é corroborada por outros especialistas, que também se manifestaram, como o médico e pesquisador Daniel Dourado; a microbiologista Natalia Pasternak, colunista do GLOBO; Isaac Schrarstzhaupt, coordenador na Rede Análise Covid-19; e o oncologista Bruno Filardi. Todos afirmaram que a informação divulgada pelo presidente Jair Bolsonaro é falsa e ressaltaram que não existe nenhuma possibilidade de vacina causar aids.

“Vacinas contra a COVID-19 não transmitem HIV, quem divulga o contrário além de colaborar com a hesitação vacinal ainda amplia a estigmatização das pessoas que vivem com HIV, no Brasil mais de 900.000 pessoas – parem!”, escreveu o médico Gerson Salvador, especialista em infectologia e autor do livro “O pior médico do mundo”.

Vacina e HIV foi cortina de fumaça

Para muitos, o presidente apostou em mais uma ‘cortina de fumaça’ , na semana que foi acusado de crimes na CPI da Covid-19 e no dia em que Paulo Guedes teve que se explicar sobre ‘furar o teto de gastos’ para garantir o Auxílio Brasil de R$ 400, no ano da eleição.

Com informações de O Globo (Rodrigo Castro e Giulia Vidale)