Opinião: aumento da participação feminina na política começa com mais compromisso dos partidos

Não basta apenas criar “alas”, “grupos” femininos, para cumprir tabela. É fundamental um planejamento estratégico, com metas de curto, médio e longo prazos.

Ilustração: divulgação campanha do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos
Opinião: aumento da participação feminina na política começa com mais compromisso dos partidos
Ilustração: divulgação campanha do Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos

Nesse dia 8 de março, vimos muitos dirigentes partidários, deputados federais, estaduais, prefeitos e outros gestores públicos paraibanos homenageando as mulheres.

Uns, lembrando das figuras femininas que passaram nas suas vidas. Outros, lembrando dos projetos de lei que aprovaram, criaram ou defendem em casas legislativas, a favor de mais “igualdade”, de respeito às diferenças e de combate a todo tipo de violência que a mulher é vítima, desde sempre.

Mas, há muito mais a fazer. E uma das maiores homenagens que os políticos do sexo masculino podem fazer às mulheres é lutar, trabalhar duro, empenhar-se na formação e consolidação de lideranças femininas para ocupar cargos públicos.

Estamos falando de uma força-tarefa permanente que, logo de primeira, precisa retirar os obstáculos colocados por uma cultura machista; derrubar barreiras mantidas por tradição e costumes; arrancar a violência política, que intimida, implanta o medo.

Mais: se incomodar com o preconceito dos pares e, além de não passar para frente, assumir postura de combate e desconstrução nesse ambiente político erguido sob a perspectiva masculina.

Não podemos mais esperar essa mudança de cultura. O tempo é agora.

Todas as soluções passam pela atuação dos partidos que podem e devem exigir aperfeiçoamento da lei, mas, mais do que isso, respeitar e aplicar as normas.

Não basta apenas criar “alas”, “grupos” femininos para cumprir tabela. É fundamental um planejamento estratégico, com metas curto, médio e longo prazos.

Metas sólidas, que sejam firmes o suficiente para aguentar a troca de “caciques” e de pensamentos do homens, que tem quase 100% do comando da maioria das legendas.

Leis recentes já garantem, por meio de “cotas” de recursos e de vagas, a participação feminina na política. Mas não basta abrir espaço e esperar que a maioria tenha “um estalo”, ouça um chamado divino e apareça pra fazer campanha.

A sensação é que a maioria das legendas não se esforça da forma que o tempo e a necessidade desse mundo exige para provocar a transformação que ele necessita.

Uma das formas de iniciar esse trabalho estão na formação política das mulheres, com cursos, rodas de conversa, estímulo para fazer crescer o desejo de participar mais ativamente da ações, com incentivo e campanhas permanentes. Iniciativas que devem ser atividades centrais nos partidos e, infelizmente, não são.

Verdade seja dita, na Paraíba, recentemente, vimos o PP, a Rede e o Pros fazendo esse trabalho. Talvez pequemos por omissão, mas, como são 32 partidos, com certeza, não deve chegar a 30% as legendas que tomaram a inciativa.

Mas a maioria se resume a cumprir a lei. Fingindo estímulo, sem real compromisso com a transformação que acontece mais lenta do que desejamos e, em muitos casos, como aqui na Paraíba, é marcada por retrocessos eleitorais.

Tivemos, por exemplo, redução do número de prefeitas entre 2016 e 2020 e a representação parlamentar continua tímida.

Claro que não existe uma única solução. Vários fatores serão observados no meio do caminho. Ao menos a sociedade precisa perceber que, de fato, há compromissos reais com essa mudança.

E se há esse compromisso, ele ainda não é suficiente para suprir anos de silenciamento, omissão e violência.