CONVERSA POLÍTICA
CPI da Pandemia já mostrou que tinha uma "quadrilha" no Ministério da Saúde
Publicado em 09/07/2021 às 14:41 | Atualizado em 30/08/2021 às 18:55
Por LAERTE CERQUEIRA e ANGÉLICA NUNES
O presidente Jair Bolsonaro não vai admitir que tinha uma "quadrilha" no Ministério da Saúde, mas deveria. Eleito com o discurso anticorrupção deveria ser o primeiro a pedir apuração rigorosa. Assumir o comando, para desvendar os supostos esquemas do seu governo.
Não fez nada até agora. Só encontrou inimigos e se colocou como perseguido. Mas não tem mais como esconder que a CPI, ajudada por um deputado bolsonarista (Luiz Miranda), provavelmente com interesses contrariados, e um irmão, pressionado, revelou algo podre embaixo dos olhos dele. Na pasta mais importante desse momento de pandemia.
A partir dos irmãos, os senadores, alguns muito ruins na arte de questionar, foram tirando de um baú nomes e mais nomes de diretores, fiscais de contratos, militares e civis que, de alguma forma, estão envolvidos em compras e negociações suspeitas de vacinas.
A Comissão, que queria confirmar a negligência do governo na gestão da pandemia, montou o roteiro da omissão na compra de vacinas, e também mostrou que as autoridades da pasta estavam prestes a se aproveitar de farto recurso para imunizantes.
Ao ir além, demonstrou que empresas intermediárias, representadas por picaretas engravatados, tiveram acesso fácil às salas do Ministério, com garantia de pagamentos, contratos superfaturados, arrumadinhos para comprar vacinas, sem garantia de entrega. E ainda: com a certeza de pagamento antecipado e de que alguns, no meio do caminho, poderiam se beneficiar com o desespero brasileiro por vacinas.
Em meio às peças desse rolo, às vezes difícil de acompanhar, a CPI prendeu Roberto Dias, ex-diretor de Logística do MS - indicado dos poderosos da política - que supostamente pediu propina. Recebeu ordem de prisão porque teria mentido à Comissão. Talvez um exagero porque só foi mais um enganador sentado à frente dos parlamentares.
Nos gabinetes do MS, estaria de mãos dadas com um militar, o Coronel Élcio Franco, o segundo do Ministério, responsável pela compra de vacinas. Alguém que foi colocado para evitar negócios "escusos", agora, vai responder por eles.
Os nomes que pipocam a cada depoimento, lobistas picaretas e servidores, têm muito a explicar, para além da CPI.
E, a cada avanço, vai exigir que o presidente "saia do banheiro" e fale sobre os supostos esquemas de corrupção montados no seu Ministério. Seja para negar ou admitir que houve algo errado longe de seus olhos. Vê seu discurso de moralidade se despedaçar. Pode "cagar" para a CPI, mas não para povo brasileiro.
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