POLÍTICA
Transposição: governo garante que água chega à Paraíba até dezembro
“Mesmo antes disso, populações já serão abastecidas pela água do rio São Francisco”, diz o Ministério da Integração.
Publicado em 10/05/2016 às 11:39
Contrariando previsões e argumentos técnicos de renomados especialistas em recursos hídricos, o Ministério da Integração garante que a água do São Francisco chegará à Paraíba, Pernambuco e Ceará antes mesmo de dezembro deste ano, último prazo anunciado pelo Governo Federal para a conclusão das obras do projeto.
“O aporte de recursos nos últimos anos e o ritmo de trabalho impresso ao longo dos 477 quilômetros por onde passa o projeto permitem ao governo manter o calendário de conclusão previsto para dezembro deste ano. Mesmo antes disso, populações já serão abastecidas pela água do rio São Francisco em estados como Pernambuco, Ceará e Paraíba”, afirma o MI em nota sobre a visita da presidente Dilma Rousseff na sexta-feira (6) à segunda estação de bombeamento (EBI-2) do Eixo Norte, em Cabrobó (PE).
Acompanhada dos governadores Ricardo Coutinho (Paraíba) e Camilo Santana (Ceará) e dos ministros Josélio Moura (Integração) e Maurício Muniz (Portos), Dilma sobrevoou trechos daquela que é a maior obra de infraestrutura hídrica do país e lembrou em pronunciamento público que a transposição é promessa feita por sucessivos governantes brasileiros desde Dom Pedro II. Na ocasião, o MI informou que o Projeto de Integração do Rio São Francisco alcançou o índice de 86,3% de avanço físico nos dois eixos de obras.
Autoridades acadêmicas e profissionais da Engenharia Civil como o Professor Francisco Jácome Sarmento não contestam o dado divulgado pelo governo. Mas, conforme observou o ex-secretário de Recursos Hídricos da Paraíba em entrevista a este portal na segunda-feira (9), o estágio em que se encontra a obra diz respeito exatamente ou exclusivamente às estruturas em pedra e cal do projeto. O grande problema da transposição estaria no sistema operacional. O governo ainda não licitou e, portanto, não comprou nem testou a maior parte dos equipamentos das estações de bombeamento que permitirão elevar a água até 300 metros em alguns pontos e fazê-la correr por dentro dos canais dos eixos leste e norte. Essas máquinas, especialmente bombas hidráulicas de alta potência e complexidade, têm que ser encomendadas e fabricadas no exterior.
Como se não bastasse, ainda segundo Sarmento, o projeto não possui as licenças de instalação, de operação e ambiental do Ibama, que dificilmente as concederá. Principalmente porque em todos os estados beneficiados, Paraíba incluída, muito pouco ou quase nada avançou em matéria de saneamento nas cidades que lançam esgotos nos cursos de água que serão abastecidos ou reforçados pelos canais da transposição.
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