“Eles Não Usam Black Tie” evoca hoje mais sonho do que realidade

Neste primeiro de maio, vou lembrar de um filme brasileiro de que gosto imensamente:

Eles Não Usam Black Tie.

"Eles Não Usam Black Tie" evoca hoje mais sonho do que realidade

A peça de Gianfrancesco Guarnieri é do final da década de 1950, alguns anos antes do golpe de 64.

O filme de Leon Hirszman é do início da década de 1980, nos estertores da ditadura iniciada com o golpe.

Os dois – peça e filme – são de momentos de esperança.

Sou contemporâneo do filme. Evocava sonhos interrompidos (porque remetia ao original do paulistano Teatro de Arena), mas falava, sobretudo, de sonhos em construção.

Era comovente vê-lo ali no Brasil de 1981/1982. Por mais universal que seja sua temática, o que nos pegava mesmo era a conexão que fazia com a realidade brasileira de então.

Vindo do Cinema Novo, Hirszman superava as dificuldades que o movimento tivera de dialogar com o público. Em parte, talvez, porque a censura, que tantas vezes levara ao hermetismo, já fora distensionada quando o filme chegou às telas.

Quando vi, na estreia, Eles Não Usam Black Tie, tive a nítida sensação de estar diante de um filme anterior a 1964. Ainda que tudo o que ele mostrava nos lembrasse das greves recentes do ABC, da fundação do PT, do surgimento e ascensão da figura de Lula, etc.

Essa mistura de passado e presente só engrandecia o filme de Hirszman.

Foi com esse encantamento que voltei várias vezes ao cinema para revê-lo (naquele tempo, ainda não tínhamos filmes em casa).

E é assim que ele está muito bem guardado na minha memória afetiva.

Vê-lo outra vez, no Brasil de hoje, certamente confirmaria que Eles Não Usam Black Tie contém mais sonho do que vida real.

"Eles Não Usam Black Tie" evoca hoje mais sonho do que realidade