Aquarius e Elis abrem mostra hoje em João Pessoa. Vamos?

Os filmes indicados à edição 2017 do Grande Prêmio do Cinema Brasileiro serão exibidos gratuitamente em João Pessoa e Sousa.

Em João Pessoa, de 21 a 29 de agosto no Cine Aruanda do CCTA, no campus da UFPB.

Em Sousa, de 23 de agosto a 02 de setembro no Centro Cultural do BNB.

As exibições começam nesta segunda-feira (21) em João Pessoa com Aquarius (às 16h30)  e Elis (às 19h00).

Seguem minhas impressões sobre os dois.

Aquarius e Elis abrem mostra hoje em João Pessoa. Vamos?

AQUARIUS

Aquarius é um grande filme. No nível de qualquer grande filme realizado no mundo atualmente.

O tema da resistência, traduzido no comportamento da personagem de Sônia Braga, combina com os que aplaudem o filme com o mesmo sentimento que levou Kleber e equipe a um protesto legítimo contra o governo Temer no Festival de Cannes. Mas seria reducionista vê-lo apenas por esse prisma.

Um filme com os méritos que esse ostenta não pode estar circunscrito às paixões do Brasil de hoje.

Impressiona em Aquarius (como em O Som ao Redor) o fato de que estamos diante de um realizador excepcional. Como nenhum outro que vimos surgir no Brasil desde que o cinema nacional começou a se recuperar da destruição imposta pelo governo Collor.

Kleber Mendonça Filho soube, com maestria, transformar teoria em prática. O que ele escrevia como crítico virou filmes. O domínio da arte de fazer cinema está em cada momento de Aquarius.

A construção da trama, as suas tensões, o texto, as sutilezas da narrativa, as marcas de originalidade, a dimensão humana dos personagens, as referências, a direção de atores, o uso da trilha pré existente, os ruídos de fora – tudo é enormemente bem resolvido. Como já era em O Som ao Redor.

Posso dizer que ver Aquarius é uma experiência fascinante e perturbadora. Mas a verdade é que não há palavras que traduzam o prazer estético de assistir a um filme de Kleber Mendonça Filho.

Aquarius e Elis abrem mostra hoje em João Pessoa. Vamos?

ELIS

João Marcello, o filho de Elis Regina com Ronaldo Bôscoli, disse que Elis é um bom filme. Entendi assim a fala dele: é apenas bom, mas não deixe de ver!

Saí do cinema com essa sensação: é correto, bem realizado, não é excepcional, mas como é necessário!

No passado, as estrelas da música popular viravam estrelas de cinema. Ou, aqui, acolá, apareciam num documentário sobre um grande show ou uma turnê.

Agora, depois que o tempo passou, elas se transformaram em personagens de cinebiografias ou de documentários que olham as coisas de longe.

O cinema brasileiro está cheio desses filmes. Faz uns 15 anos. São importantes para a construção da memória.

Elis é o mais recente. Quem viu Elis, a Musical, pode achar que há muitas semelhanças entre os dois. E há. Eles, na verdade, se completam.

No teatro, vivemos um pouco a ilusão de que estamos diante de Elis. Isso impressiona contemporâneos e não contemporâneos dela.

No cinema, não. Mas há o impacto de uma atriz (Andreia Horta) que ficou muito parecida com a cinebiografada. Em muitos momentos, ela “recebe” Elis. Não tem nada de caricatural, como andaram dizendo!

E há o impacto da música. Andreia dubla. A voz é de Elis, cantora extraordinária que surgiu e cresceu no Brasil da ditadura e se consolidou pelo singular domínio da voz, entre a técnica e a emoção, e pelo marcante repertório que gravou em seus muitos discos.

O filme de Hugo Prata tem o contexto histórico em que Elis se firmou, seus (grandes) dramas pessoais, que acabaram levando ao desfecho trágico e prematuro, e tem muita música. Números muito bem filmados que impressionam os que admiram a artista.

A música de Elis e o desempenho de Andreia Horta são os destaques desse filme que emociona os que viram Elis em seu tempo e ensina algo aos que não viram.