Vaia em cenas gays do filme sobre o Queen. Que chato ir ao cinema!

Vaia em cenas gays do filme sobre o Queen. Que chato ir ao cinema!

Leio que brasileiros vaiam as cenas gays (estão chamando assim) do filme Bohemian Rhapsody, que conta a história de Freddie Mercury e do Queen, uma das grandes bandas do rock.

Vou contar o que testemunhei.

Há uma cena em que, de volta de uma turnê, Freddie Mercury tem uma conversa difícil com sua mulher, Mary Austin. Ela diz que algo está errado na relação e pede que ele se abra, seja verdadeiro. Ele diz que andou pensando muito e que chegou à conclusão de que é bissexual. Mary traduz melhor: “Não, Freddie, você é gay”.

A conversa marca o fim do casamento e o começo de uma amizade profunda que se estendeu até a morte do artista. É um diálogo sério. É uma cena triste.

Pois bem, na fila onde estou, duas garotas caem na risada depois que Mary diz que Freddie não é bissexual, mas gay.

E não há nada de engraçado na cena.

A reação das meninas na sala escura do cinema de shopping talvez dê conta do conflito entre os avanços civilizatórios e essa onda neoconservadora que se ergue sobre nossas praias.

*****

Mas vamos ao filme.

Bohemian Rhapsody é somente mediano. Como outras cinebiografias realizadas nos últimos anos, inclusive no Brasil. Mediano, mas necessário. Do mesmo modo que esses musicais que a gente tem visto nos teatros (Elis, Cássia Eller, Cartola, etc.).

Filmes assim são necessários porque cumprem um papel positivo quando o assunto é a preservação da memória. Ou a manutenção do que produziram os artistas populares.

O tempo está passando (o Queen é dos anos 1970, Freddie Mercury morreu há quase três décadas), e lá estamos nós indo ao cinema ver um filme que conta a história da banda e do seu líder. Cá estamos nós falando do Queen – da música que eles criaram, dos dramas pessoais que os integrantes do grupo viveram. Da intensidade das suas canções, da beleza dos seus discos, da força das suas performances ao vivo.

Bohemian Rhapsody tem tudo isso. Tem boas caracterizações, embora tenha imprecisões cronológicas. Tem ótimos números musicais, mesmo que se exceda um pouco no melodrama.

Mas não faz mal. É bom de ver. Dá vontade de voltar para casa e ouvir os discos. De cantar as baladas. De fazer “air guitar” ouvindo os rocks pesados.

A sequência final é irresistível. 100 mil pessoas espremidas em Wembley no show do Live Aid. Uma performance histórica recriada para que, na tela grande, com os recursos tecnológicos de hoje, a gente imagine como foi.

Não há do que rir. Não tem porque vaiar.

Quando Freddie Mercury morreu, um amigo meu mandou celebrar uma missa de sétimo dia na Igreja do Carmo, aqui em João Pessoa, e justificou:

“Puxa, o cantor me deu tantas alegrias!”.