Bruno acerta ao defender economia de Campina, mas erra com a argumentação “separatista”

Por LAERTE CERQUEIRA 

Bruno acerta ao defender economia de Campina, mas erra com a argumentação "separatista"
Foto: Reprodução/TV Paraíba

Imagine se o prefeito Cícero Lucena (PP) tivesse questionando que João Pessoa chegou à bandeira laranja, com necessidade de mais restrições, porque muitos pacientes de outras cidades estão internados nos leitos da capital? “Recebemos essas pessoas com coração aberto, mas JP não pode ser penalizada”, poderia dizer Cícero. Mas ele não disse. Felizmente.

Mas esse foi um dos primeiros argumentos do prefeito Bruno Cunha Lima (PSD) para justificar o aumento de casos em Campina Grande e o possível rebaixamento da bandeira da cidade, de amarela para laranja. A mudança aconteceu no último sábado. “A prefeitura entende que o crescimento dos índices de ocupação de leitos em Campina é um reflexo da chegada de pacientes de outras cidades, o que não justificaria o ‘rebaixamento’ da bandeira”, disse Bruno. 

Essa argumentação para questionar a bandeira é, no mínimo, frágil. Porque dá a impressão que Campina faz um favor ao receber esses pacientes e não faz. O sistema público de saúde brasileiro, pactuado, é feito para que as cidade maiores recebam pacientes de cidades menores para internações de média e alta complexidade. Não tem favor. É obrigação. Os leitos não são de Campina. Estão em Campina. A fonte de recurso é a mesma: o dinheiro do contribuinte.

E a gestão de Campina tem obrigação de tomar conta do “pacote regional”.

Porque não há muros. Quem se contamina em Lagoa Seca, Queimadas, Esperança tem que ir para Campina e o vírus não fica restrito. Aliás, essas pessoas podem ter sido contaminas em Campina. Na Empasa, na Feira da Prata ou na Central, nos ônibus, nos bares e restaurantes, na Maciel Pinheiro, e depois voltado para sua cidade.

É fundamental pensar como região. O sistema de tratamento é pensado de maneira regional. Nada que Bruno não saiba, mas, infelizmente, usou esse discurso.

Fiscalização isolada. Cadê a ação regional? 

Numa ação importante, o prefeito de Campina foi às ruas sábado (06) à noite fiscalizar aglomerações nas ruas, bares. Mas os prefeitos das cidades vizinhas fizeram isso? Qual foi a última reunião que o principal prefeito da região fez com os gestores? Soube que vai ter. Mas chega tarde.

Não adianta Campina fiscalizar, ser efetiva na adoção de medidas, se na Região Metropolitana campinense, com 19  municípios, os prefeitos não fazem o mesmo. Ali há um “mesmo corpo”. Como acontece com os 12 municípios da Região Metropolitana de JP. Não dá para pensar isoladamente.

Estive em Lagoa Seca no fim de semana. Sábado de manhã. Quem estava de máscara? Dois “gatos pingados”. Os contaminados de lá vão pra onde? Para Campina.

Números de João Pessoa e não de Campina 

Em transmissão ao vivo, após reunião com governador e outras autoridades, Bruno voltou a questionar a classificação, mas  resolveu atacar, também de maneira falha. Usou dados de uma suposta diminuição de leitos de João Pessoa para dizer que o governo do estado é incompetente.

Acabou atingindo um “aliado”, Cícero Lucena, que também é responsável pelo número de leitos na capital. Os dados foram questionados pela secretaria de Saúde da Paraíba, que mostrou que houve aumento e não diminuição da crise passada para essa agora. Números da prefeitura de JP e do governo, por aqui, estão batendo.

A informações sobre leitos de CG

Poderia ter usado os dados de Campina. Desde o início, lá em março de 2020. Mostrar quantos leitos CG tinha no pico de 2020, qual foi diminuição ao longo do ano, que pode ter ocorrido com seu antecessor por causa da redução do número de contaminações.

Depois podia ter trazido os dados de agora. Quantos leitos o estado abriu em CG agora em 2021. Quantos a prefeitura abriu em pouco mais de 2 meses de governo?

Poderia ter mostrado a suposta inoperância do estado em CG, mas precisou trazer João Pessoa para o debate para falar para a torcida. O que acrescentou? Só reacende uma disputa desnecessária porque, agora, a gente precisa de bombeiros e não de fogo.

Claro, que argumentação vai agradar o empresariado, os comerciantes e os informais campinenses e da região que, no desespero, com receio da quebradeira, se apegam a qualquer fala que combine com seus medos.

A defesa da economia 

Mesmo na bandeira laranja, o prefeito pode negociar um decreto menos restritivo. Cícero fez isso. Inclusive com um questionamento do MPF, na reunião de ontem (07), que pediu uma normativa do governo do estado para adequar a bandeira laranja às medidas menos restritivas que foram adotadas em divergência ao Plano Novo Normal.

Foi a melhor solução? Foi questionável e questionado. Mas vamos saber se valeu em breve, nos próximos dias. Mas foi o possível no momento crítico, com olhar nos dados da saúde e no impacto ao setor produtivo.

O prefeito deve defender a economia da cidade com todas as forças. Foi eleito para isso. Vai ter que negociar soluções para o agora e para um momento posterior, quando as restrições forem inevitáveis.

Mas não com discurso bairrista, separatista, dando a entender que um possível colapso no sistema não é problema de Campina, mas das cidades vizinhas, ou do governo. Não é saudável, não é oportuno porque, agora, é gestão.

Enfim, a solução tem que ser coletiva. Difícil. Só não dá para colocar o dedo em riste e dizer que o problema é do outro quando ele, nesse caso, está ao seu redor e também é problema seu.