CULTURA
A Odisseia de José Rufino
Artista plástico paraibano José Rufino, lança no Rio de Janeiro a exposição 'Ulysses' que fica aberta na Casa Brasil-França até 17 de fevereiro.
Publicado em 30/01/2013 às 6:00
Um trabalho homérico. Não é à toa que a nova obra do paraibano José Rufino se intitula Ulysses. A estrutura de 23 metros de comprimento consiste em um gigante adormecido na Casa Brasil-França, no Rio de Janeiro, formado por nacos de madeira, restos de concreto, cacos de cerâmica, pedaços de ferro, armários, entre outros elementos garimpados de escavações na cidade que já foi a capital do país. “É um corpo arqueológico feito com fragmentos da cidade”, explica o artista ao JORNAL DA PARAÍBA.
A instalação está aberta ao público até o dia 17 de fevereiro.
Amanhã, o artista plástico estará na capital fluminense lançando o catálogo oficial da exposição, às 18h, com uma mesa redonda formada pelo crítico Paulo Herkenhoff e o curador Marcelo Campos.
“É uma espécie de viagem no tempo que virou uma 'Odisseia' pra mim”, confessa Rufino, enfatizando que se espelhou tanto no personagem mitológico de Homero quanto na obra homônima do escritor irlandês James Joyce. “Toda dimensão foi pensada para o espaço. O edifício todo virou um mausoléu e eu costumo dizer que a Casa Brasil-França virou meu palácio de Ítaca”, faz a alusão.
Ainda fazendo jus ao nome e tamanho da instalação, Rufino fala que o público também corresponde à magnitude da obra. “É o trabalho mais importante que já fiz”, aponta. “Nunca vi um público tão grande”.
Para o artista, a concepção de seu Ulysses é terminantemente ligada ao ‘renascimento’ do Rio de Janeiro, onde estão desenterrando muitos objetos históricos que vão parar nos museus. Acompanhando o processo, o que seria descartado foi anatomicamente incorporado ao gigante. “É uma visão do Rio de Janeiro ao avesso por lugares que não são turísticos”.
MACUNAÍMA
As obras de José Rufino são permeadas de memória, tema recorrente em vários de suas exposições, a exemplos de Cartas na Areia, realizada com desenhos e pinturas sobre os próprios documentos de família, e Plasmatio, uma série feita com documentos de desaparecidos durante a ditadura militar.
De acordo com o artista, os elementos que formam o corpo híbrido da criatura têm pedaços aleatórios de vários passados do Rio de Janeiro: materiais indígenas, afro-brasileiros pertencentes ao candomblé e também da igreja católica fazem parte da ‘carcaça exumada’ por José Rufino. “Chegaram a dizer que é um pouco Macunaíma”, afirma. “Tem a antropofagia do território, que vem engolindo o seu passado”.
A mostra conta com 76 desenhos que compõem uma “cartografia do processo do trabalho”, que levou mais de um ano de feitura, desde a pesquisa passando pela criação apoiada por maquetes virtuais.
O público também pode interagir com o “Cadáver Esquisito”, jogo criado por surrealistas franceses na década de 1920.
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