SILVIO OSIAS
Caetano Veloso diz que é cancelamento ridículo censura a música de John Lennon
A canção Woman is the Nigger of the World foi excluída do box Power to the People.
Publicado em 01/10/2025 às 8:43

O jornalista e produtor musical Marcelo Fróes entrevistou Sean Lennon. O conteúdo ocupou três páginas do Estadão na segunda-feira, 29 de setembro de 2025.
O "gancho" da entrevista foi o lançamento, agora em outubro, do box Power to the People, que se debruça sobre o que John Lennon e Yoko Ono produziram logo no início da década de 1970, quando resolveram morar em Nova York.
O curioso é que o produto principal daquele período é o álbum Some Time in New York City, mas, no box Power to the People, ele aparece quase como um bônus.
O motivo seria a retirada da canção Woman is the Nigger of the World do repertório do disco. A exclusão foi por causa da palavra nigger, considerada ofensiva.
Composta por John e Yoko, Woman is the Nigger of the World é uma canção feminista. Ela não usa a palavra nigger como ofensa, mas como contestação.
Nigger como contestação, e não como ofensa, era mais ou menos normal em 1972, quando o álbum foi lançado. O mundo mudou, e, hoje, não é mais aceitável.
A decisão de retirar a balada do repertório não foi de Sean Lennon, responsável pelos discos que serão lançados nos próximos dias. Foi da gravadora Universal Music.
Mas Sean compreende e, de certo modo, até justifica a postura da gravadora. O que é uma pena, porque, no fundo, está admitindo censura a uma música do pai e da mãe.
Woman is the Nigger of the World é uma canção linda, visceral, arrebatadora e completamente feminista. É retrato do contexto histórico em que foi composta e gravada. E é, portanto, uma pena que seja "rifada" por regras do politicamente correto.
Na matéria que o Estadão publicou, Marcelo Fróes ouviu Caetano Veloso. Por que Caetano? Porque em dezembro de 1969, quando estava exilado na Inglaterra, ele viu ao vivo o show de John Lennon, Yoko Ono e a Plastic Ono Band em Londres.
Caetano Veloso, sempre lúcido, disse o seguinte a Marcelo Fróes: "Sou contra esse cancelamento ridículo. Não há nenhuma palavra em português brasileiro que seja ofensiva aos negros. 'Meu nego' é carinhoso, 'neguinho' é amoroso. Mas se os que cancelam 'nigger' falam inglês e são os donos do mundo, o que fazer?".
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