MERCADO EM MOVIMENTO
Enem 2025 traz envelhecimento da população ao centro e amplia discussão sobre economia dos 60+
Com população idosa somando 15% dos brasileiros e movimentando R$ 1,8 trilhão por ano, a chamada "Economia Prateada" impulsiona novos negócios.
Publicado em 10/11/2025 às 19:33

A demografia do Brasil está passando por uma transição silenciosa, mas poderosa, com implicações econômicas de longo alcance. O envelhecimento da população, tema da Redação do Enem 2025, não é apenas uma questão social, mas um fenômeno com repercussões profundas e imediatas na economia do país. O chamado “mercado sênior”, hoje responsável por impressionantes 39% do PIB nacional, segundo o Data8, movimenta mais de R$ 1,8 trilhão por ano no Brasil. Essa cifra o estabelece não apenas como um segmento de consumo expressivo, mas como um dos principais motores da atividade econômica, impulsionado por um poder de compra consolidado e uma maior estabilidade financeira.
Segundo o IBGE, 32 milhões de brasileiros têm 60 anos ou mais, o equivalente a 15,6% da população. O ritmo de crescimento desse grupo é acelerado, configurando uma verdadeira "onda prateada". Até 2031, as projeções indicam que o número de idosos deve superar o de crianças e adolescentes de 0 a 14 anos no país, um ponto de virada demográfico crucial. O próprio IBGE projeta que, em 2050, mais de um terço dos brasileiros terá mais de 60 anos, marcando o início de uma sociedade predominantemente idosa.
Além do volume populacional, outro dado impressiona e desafia estereótipos: 77% dos brasileiros com 50 anos ou mais acessam a internet diariamente. Este alto índice de conectividade configura um público digitalmente ativo e integrado, com grande potencial para compras online, telemedicina e uso de plataformas diversas. Essa realidade exige que as empresas repensem suas estratégias de marketing e canais de comunicação, investindo em interfaces amigáveis e acessibilidade digital para capturar esse mercado em expansão.
Mercado de Trabalho
Barreiras e desafios persistem no mercado de trabalho. Apesar do discurso cada vez mais forte sobre diversidade e inclusão, o mundo do trabalho ainda impõe barreiras significativas. Dados da plataforma de recrutamento e emprego Catho revelam que 61% das empresas brasileiras não têm programas específicos para profissionais acima dos 50 anos, e 40% dos gestores resistem a contratá-los ou desenvolvê-los. Esse etarismo limita o aproveitamento de um capital humano com vasta experiência prática e comprovada capacidade de reaprendizagem e atualização profissional. Tal atitude não apenas priva as organizações de valiosa expertise, mas também contribui para a perda de produtividade e a dificuldade na transmissão de conhecimento intergeracional.
Ao mesmo tempo, a longevidade impõe a necessidade urgente de novas políticas públicas. Com a expectativa de vida já próxima a 77 anos no país, de acordo com os dados mais recentes do IBGE, é imperativo adaptar os sistemas de previdência social, reformar a infraestrutura de saúde para focar em cuidados preventivos e doenças crônicas, e promover programas que permitam a requalificação contínua dos trabalhadores seniores.
Especialistas, a exemplo de Roberto Kanter, professor de MBAs da FGV, afirmam que o envelhecimento populacional é uma tendência irreversível, que alterará profundamente a estrutura econômica e social brasileira.

Economia do cuidado e a emergência de novos mercados
Os impactos da revolução prateada já são sentidos em áreas como educação, tecnologia, finanças, bem-estar e, especialmente, na chamada "economia do cuidado". Este setor engloba uma vasta gama de serviços e produtos ligados à saúde (como telemedicina e dispositivos corporais inteligentes), assistência domiciliar (incluindo monitoramento e segurança), e soluções para mobilidade e autonomia pessoal.
Segundo o IBGE, 87,5% dos idosos vivem em áreas urbanas, onde o acesso à infraestrutura e a serviços de saúde tende a ser maior. Essa concentração favorece o surgimento de negócios inovadores voltados para esse público, como plataformas de cuidados geriátricos, serviços de transporte adaptado e atendimento domiciliar de dentistas.
A força desse público impulsiona não só o consumo direto, mas também investimentos em inovação, alimentação saudável, habitação adaptada, turismo (com pacotes personalizados), cultura, lazer e produtos financeiros especializados, como seguros de vida e planejamento sucessório. Com a produtividade do país crescendo 2,2% em 2025, segundo a Agência Brasil, a mobilização e integração do mercado sênior tornam-se ainda mais relevantes em um cenário de desaceleração demográfica dos jovens, gerando um verdadeiro bônus prateado para a economia nacional.
O envelhecimento da população é, portanto, um fator-chave e estratégico para a agenda de desenvolvimento econômico sustentável do Brasil. Exige uma resposta ágil e proativa do mercado, do setor público e da sociedade para enfrentar os desafios e, principalmente, aproveitar as vastas oportunidades geradas por essa nova e poderosa onda prateada, construindo uma sociedade que valorize e integre todas as gerações.

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