Minha ligação com o Jornal da Paraíba começou antes que ele viesse a circular. Tem a ver com minha ligação nativa com a cidade que inspirou e motivou circunstancialmente a sua criação.
Aos 88 anos, não consigo me descartar do adolescente que descobriu em Campina Grande que existia outro mundo, vasto mundo além de Alagoa Nova. Campina tinha uma tela, ou mesmo um telão aberto para as praças externas que dependiam de algodão, de agave, de gado, de couro, de minérios e de gente de talento que os cines Capitólio, Babilônia, Avenida e o São José não tinham. E não havia porteiro corcunda e chato para cobrar a entrada. Da Rua Presidente João Pessoa a gente via, ou da Índios Cariris, onde o sertão do Nordeste vinha trocar as juntas de fábrica pelas de Luiz de Tem-tem, meu primo.
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Foi num prelo moído a braços de ‘O Rebate’ do professor Luiz Gil que surgiu a sedução do texto impresso, tal como na crestomatia.
- Tu já ouviste falar em Crestomatia, Angélica? Pois foi através dela, da seleção de textos que reunia, que me fez ingressar na crônica de Humberto de Campos, na página perfeita de Raul Pompéia, e daí nos sentimentos e ideias impressos, disponíveis a qualquer tempo impressos.
E o que é que o Jornal da Paraíba tem com isso? Muita coisa. Me conhecendo, Humberto Almeida achou de me convidar para pensarmos num jornal que ele e José Carlos da Silva Junior, líderes empresariais, cogitavam como porta-voz do novo empresariado industrial. Ele me creditava alguma competência para colaborar no projeto. Cheguei a sugerir nomes para a montagem gráfica, foram adquiridos os primeiros equipamentos da época, impressora plana, linotipo, coisas do gênero, aí veio um hiato. Não me lembro mais de detalhes. Voltei aos meus pagos, o jornal instalou-se, semanário a princípio, prosperou, destacando-se meus saudosos amigos Tarcísio Cartaxo e William Tejo.
Eu via, tendo Campina como mirante de cima da Borborema, a peculiaridade vantajosa do jornal, fazendo jus ao título. Ei o que sofri nos dois jornais que me confiaram a expansão fazer cidades como a própria Campina entrarem bem na pauta. Esse tempo estava muito longe ainda de cada leitor, esteja onde estiver, dispor do jornal que bem deseje, fique em Londres ou em Arara.
E terminou o jornal de uma bela equipe largando o papel e os velhos sonhadores como eu. Mas apenas isso, que é um detalhe mínimo e de nenhuma importância. O jornal continua, emplaca os 50 anos, e ainda tenho esperança de me adaptar ao texto fugidio que não depende daquelas folhonas dobradas que o europeu não abriu mão nem no escritório, nem na praça nem na beira da piscina..
Em junho de 2010, acompanhado de uma filha que mora na Normandia, fui na banca de Caen, próxima da Bayeux de lá, onde desembarcaram os aliados, e comprei o Le Monde, que registrava 265 mil de tiragem. Sem o incômodo de abrir os braços, vez em quando estou de frente com a sua 1ª página, só para conferir.