A palavra ‘pai’, para alguns, é sinônimo de acolhimento, carinho e cuidado, é se dedicar ao outro integralmente e incondicionalmente. Essa palavra, que possui em sua gênese tamanha empatia, foi incorporada em outras configurações de amor e de família, a ponto de fazer pessoas que encontraram em um animal a necessidade de dedicar tempo e afeto se consideram ‘pais de pet’.
A ressignificação da palavra ‘pai’, quando incorporada aos cuidados dos humanos para com os pets, é uma forma de dimensionar o amor que existe nas relações de assistência aos animais domésticos. Pois, nestes casos, os amores são de "mãos duplas", levando em consideração que: quem cuida de uma animalzinho garante que, também, recebe amor de volta.
Às vezes, quando esses animais são adotados existe uma pressuposição, por parte de quem adota, de que o gato, ou cachorro, que está saindo da rua está sendo salvo. Porém, quem adota percebe que a realidade é outra, quando passam a conviver com esses animaizinhos, pois esses pets tiram os tutores da solidão e igualmente acolhem o humano, também - mesmo sem terem a obrigação. É nesse momento que cria-se a sensação de família, por parte de ambos, como explicar o tutor e instrutor de treinamento, Emanuel Araújo.
"Não tenho dúvida que meus gatos fazem parte da família, não há sensação melhor do que chegar do trabalho e ter a companhia deles". afirmou.
Emanuel atualmente mora em Campina Grande, no Agreste da Paraíba, mas ele é natural do município de Areia, no Brejo do Estado. Ele nem sempre pode cuidar de um animal em casa, pois a mãe dele não permitia que ele levasse um pet para conviver com eles, porém a vontade de dedicar essa energia que culmina em cuidado e afeto sempre continuo com o instrutor de treinamento.
Ele foi morar em Campina Grande por causa da universidade, em 2017, e ficou até 2021 morando na casa da tia dele no município. Na residência, tinha uma cachorro, mas mesmo assim o sonho de Emanuel de ter uma casa própria onde ele pudesse cuidar de um pet, constituir uma própria família, perdurava. "Eu queria meu espeço", disse.
Foi então que em 2021 ele foi morar com uma amiga. Neste momento, ele tinha o próprio lar e a amiga dele já tinha um gato, chamado de Drack. Ele se apegou ao pet da amiga e ajudou a cuidar. Mas, ainda sentia que precisava de um gatinho que ele escolhesse... Então, aconteceu.
"Eu estava no meu quarto, quando eu vi um gato na janela. Era, uma gatinha. Ela começou a frequentar o prédio onde eu moro, até que uma vizinha trouxe ela pra mim e perguntou 'essa gata é sua', e eu respondi que sim. Na naquele momento Sarita me escolheu", falou com afago.
Até então, a família era Vitoria (amiga de Emanuel), Emanuel, Drack e Sarita, foi então que chegou o quinto integrante, Sharlie.
"Sharlie era um gatinho que eu pedi para um amigo, antes de encontrar Sarita. Mas, mesmo depois de ter encontrado Sarita, decidi continuar com Sharlie", contou com felicidade.
Agora, a família é Vitoria (amiga de Emanuel), Emanuel, Drack, Sarita e Sherlie.
O Body Xadrez Rosa
Despois de compreender o amor que o filho sentia pelos animais que considera da família, a mãe de Emanuel agora quer levar um dos gatos para Areia, cidade natal dela, para cuidar. Emanuel contou que Sarita "se tornou o xodó" dela e que ela ficou completamente fascinada quando recebeu a foto super fofa da gata com o body xadrez rosa novo que ganhou do tutor.
"Agora minha mãe que cuidar de Sarita, mas eu não deixo", contou sorrindo.
A responsabilidade de adotar
Adotar um animal é um ato de solidariedade, porém a essa ação precisa estar atrelada a responsabilidade. Pois, é preciso levar em consideração todas as mudanças que a escolha de adotar um pet trás para a vida de quem adota, como conta Emanuel.
"Adotar é muito importante, mas é preciso levar em consideração todas as questões que estão ligadas a essa ação, como por exemplo: o dinheiro que é investido na alimentação e cuidados de saúde do animal. Mas eu não vejo isso como um fardo, de jeito nenhum. Quando eu olho para os meus gatos e vejo o amor que eu recebo dele, percebo que tudo é recompensado" , contou com carinho.
Emanuel ainda falou que não tem a intenção de ter um filho humano, então que encontra nos animais o amor familiar que precisa para cuidar e ser cuidado. Ele se considera um pai de pet.
O amor que acolhe mais um
Ainda em Campina Grande, no Agreste da Paraíba, um servidor público que se chama Seu Tota, decidiu cuidar dos animais que estavam em situação de rua, perto da casa dele. Ele não tinha espaço em casa para acolher esses animais, levando em consideração que ele já criava três cachorros dentro da própria residência.
Unindo a vontade de ajudar e a falta de espaço, Seu Tota decidiu construir casas de madeira para os gatos e cachorros se abrigarem da violência urbana e mudanças climáticas em um campo vazio em frente a casa dele no bairro do Cruzeiro, "fiz de madeira para que eu pudesse mudar de lugar, caso eu escutasse alguma reclamação", contou.
Porém, para Seu Tota, casas de madeiras e um terreno ermo, que poderia não abrigar mais os animais um dia, era uma situação muito complicada, então ele entrou em contato com órgãos públicos e cuidadores de animais para poder encontrar um espaço maior afim de construir um lar mais seguro e instável para os animais.
A Arca do Tota
Seu Tota conseguiu um lugar maior para abrigar os animais e nomeou esse espaço de "A Arca do Tota", em alusão ao conto da mitologia bíblia cristã "A Arca de Noé", levando em consideração que parecido com Nóe, Seu Tota construiu um lugar para abrigar o maior número de animais possíveis com a intenção de protege-los.
Na 'Arca do Tota', que se mantem através de doações e fica no bairro do Quarenta, para além da alimentação, os animais também recebem cuidados médicos, como por exemplo: vacinas e castração.
Atualmente, o local abriga 210 animais, sendo 50 cães e 160 gatos. Para Seu Tota não existe dúvidas, ele é o pai desses animais. Ele se sente acolhido por cada um deles, quando está perto e recebe carinho dos animais.
"Sim, eu sou pai deles. Eu cuido e quero tirar eles da rua, porque não aguento ver eles sofrerem", falou;
A legislação sobre a guarda dos pets
Para além da questão sentimental, os pais de pet também tem garantias jurídicas sobre os animais. O advogado Jairo do Nascimento Silva, Presidente da Comissão de Direitos Humanos (CODAN) da OAB em Campina Grande, explica que os tutores devem criar os bichos de forma adequada.
"A lei em si não garante a tutoria, mas também não proíbe. Então o tutor deve criar o animal de forma adequada, sabendo que trata-se de um ser sensitivo, que sente falta, que sente quando é bem cuidado", diz.
O especialista também afirma que pessoas com histórico de maus tratos a animais não podem ser tutores e diz que, em caso de separação de conjugal, o ideal é haver diálogo para decidir com quem o animal fica.
"Em caso de separação, é sempre bom haver diálogo. Quando não se consegue chegar a um senso de guarda, tem que buscar a Justiça, que determina [a guarda] assim como em caso de crianças. Há uma analogia à situações envolvendo filhos, também, no caso dos pets", explica.
Além dos direitos e deveres legais, o advogado reitera que os pais de pet devem priorizar o bem estar do animal, sempre considerando o que é melhor para o bicho.
"É direito também do tutor oferecer cuidado devido ao animal. Ele que decide acerca da convivência daquele animal com ele, respeitando a legislação e dando cuidado, amor, carinho, atenção, brincadeiras, e principalmente, evitando infrações contra o animal", conclui.