No bairro Jardim Sorrilândia II, na cidade de Sousa, no Sertão da Paraíba, há uma das maiores comunidades ciganas do Brasil, a Comunidade Cigana de Pedro Maia. São mais de 300 famílias da etnia Calon, que se estabeleceram na cidade na década de 1980, após anos de nomadismo. Nesta terça-feira (24) é o Dia Nacional do Povo Cigano, em referência à padroeira desses povos, Santa Sara Kali.
A professora Marcilânia Gomes, de 35 anos, é uma das moradoras da comunidade cigana de Sousa. Ela já nasceu na cidade, após a instalação das famílias que chegaram em grupos, mas aprendeu, por meio da oralidade, as danças, músicas e o idioma, o calon, que é falado dentro da comunidade.
Nossos valores são passados para os mais jovens pela oralidade. Mantemos a língua viva, o calon, utilizando ela no contexto de nossas casas, da nossa comunidade. A dança é algo muito presente, temos muitos músicos, que são cantores, tocam violão e diversos outros instrumentos”.
Marcilânia conta que, até hoje, as ciganas mais velhas ainda mantêm os costumes de utilizar saias longas e estampadas diariamente. Já as mais novas, vestem em ocasiões culturais. Além disso, a quiromancia, que é a leitura das mãos, e a cartomancia são praticadas por elas.
A professora da educação básica preserva sua identidade por meio da música e da dança, no grupo Dirachin Calim, com seu pai Manoel Pereira, seus irmãos Gradycelia e Gradival Alcântara, além de seu marido Pedro Bernadoneles. Juntos, eles apresentam o espetáculo ‘Vida Cigana’, que mostra ideais da cultura desses povos, como o espírito de liberdade, o sentido da vida e da morte, as tristezas e a certeza de um novo sol, uma nova lua que brilha para os horizontes do amor e da fraternidade.
Chegada dos Calon no Brasil
A pesquisadora e professora da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) Patrícia Goldfarb explica que a chegada dos Calon no Brasil começou a partir do século XVI. Eles vieram, em sua maioria, deportados Portugal, para fugir da perseguição. No entanto, o surgimento dos povos ciganos é bem mais antigo, tendo Índia e Egito citados como países de origem.
No Brasil, as etnias mais conhecidas são a Calon, Sinti e Rom. Patrícia Goldfarb relata que são grupos heterogêneos e diversos. “Os ciganos são grupos heterogêneos, não existe um único modelo, uma vez que tem essa diversidade econômica, linguística e cultural”.
Estigmas enfrentados pelos ciganos
Historicamente, os ciganos são vítimas de preconceitos e estigmas, como de trapaceiros, impuros ou até adoradores do demônio. Essa perseguição que resultou na migração de vários grupos de Portugal para o Brasil fez com que esses povos se instalassem em periferias e dificuldades no acesso a políticas públicas. Como explica a professora Patrícia Goldfarb.
Os ciganos compartilham uma história de diáspora e de perseguições, muitos estigmas. São discriminados, por conta de uma série de imagens que foram construídas historicamente para diferenciar esses povos. Isso pode ser visto no cotidiano quando indivíduos ciganos vão buscar empregos, escolaridade, acesso a políticas públicas”.
Marcilânia relata que já sofreu preconceito ao procurar emprego depois de dizer que residia na comunidade cigana.
Era preconceito na escola , quando fazia entrevistas de emprego e falava o lugar que moro, na rua pelo fato de estar vestida diferente. Dizem que somos ladrões, pedintes, desocupados e que não gostamos de trabalhar”.
Por isso, a professora Patrícia Goldfarb ressalta que, além de políticas públicas, é necessário combater os estigmas sobre os ciganos. “Não basta se criar uma política pública voltada para os ciganos se não se combater os estigmas que são transmitidos cotidianamente”.
Plano para a Comunidade Cigana de Sousa
Em março, o governo da Paraíba anunciou um plano de desenvolvimento para os ciganos da região de Sousa. O plano conta com quatro eixos, que são: Censo Cigano e ações de inclusão social; inclusão produtiva e segurança alimentar; integração e consolidação da rede de proteção social; e território e moradia.