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COTIDIANO

Memórias: casal se dedica à reconstituição histórica de Campina Grande

Publicado em: 11/10/2022 às 6:25 Atualizada em 11/10/2022 às 9:07

Em 158 anos de emancipação política, comemorados nesta terça-feira (11), Campina Grande escreveu uma história marcada por grandes conquistas. A cidade que outrora foi exportadora de algodão, atualmente envia talentos da tecnologia para outros países, respira cultura e se alimenta da própria memória.

Ao longo dos anos, as dificuldades enfrentadas pela cidade muito se assemelham ao caminho percorrido pela própria história de Campina Grande para se solidificar estrutural e economicamente. Neste percurso, algumas iniciativas ajudam não apenas a reconstituir o memorial histórico do município, como também a fortalecer sua identidade frente aos novos desafios.

É o sentimento que cultiva o Instituto Histórico de Campina Grande (IHCG). Fundado em 1948 por Elpídio de Almeida, ex-prefeito da cidade, o local hoje funciona no antigo prédio da Câmara Municipal de Campina Grande, na rua Maciel Pinheiro, o ‘coração’ da cidade.

A organização não governamental passou por quatro reformulações desde sua primeira fundação, e a história de Ida Steinmuller, mulher responsável pela mais recente refundação do IHCG, também se confunde com a memória da cidade.


				
					Memórias: casal se dedica à reconstituição histórica de Campina Grande
Ida Steinmuller. Foto: Amy Nascimento/TV Paraíba. Ida Steinmuller. Foto: Amy Nascimento/TV Paraíba

Ida e Campina Grande

A relação entre Ida Steinmuller e Campina Grande começa antes mesmo de seu nascimento. Em 1954, os pais dela, um casal de austríacos, foram trazidos à cidade pela esperança de viver dias melhores.

Segundo Ida, seus pais vieram para o Brasil fugindo da crise econômica que atingiu a Europa no período pós-guerra. O primeiro destino do casal foi a capital pernambucana Recife, mas a mãe da memorialista não se adaptou ao clima local. Foi quando o pai de Ida avistou embarcações com o algodão de Campina Grande, no porto de Recife, e decidiu conhecer a cidade famosa pelo clima ameno.

Quando chegou em Campina o pai da memorialista se apaixonou, e em um único fim de semana chuvoso, decidiu trazer a família para a cidade. Alugou o galpão que tempos depois se tornaria um bar famoso pelas cervejas europeias, o 'Chopp do Alemão’ - nome dado por um amigo, carinhosamente se referindo ao sotaque do empresário.


				
					Memórias: casal se dedica à reconstituição histórica de Campina Grande
Bar 'Chopp do Alemão', na década de 1960. Arquivo Pessoal. Bar 'Chopp do Alemão', na década de 1960. Arquivo Pessoal
Citação

Meu pai dizia que quando chegou aqui, pensou: ‘é uma cidade limpa, organizada e rica’. Foi essa situação que ele imprimiu nos olhos e ficou encantado com a cidade, o comércio… Ele voltou [para Recife], pediu demissão e veio pra cá. Eu estava no ventre da minha mãe e nasci no ano seguinte”.

Ida Steinmuller

				
					Memórias: casal se dedica à reconstituição histórica de Campina Grande
Família de Ida Steinmuller (pais, irmãos e Ida, a mais nova). Arquivo Pessoal. Família de Ida Steinmuller (pais, irmãos e Ida, a mais nova). Arquivo Pessoal

A partir de então a família criou raízes com Campina Grande. O casal teve oito filhos, entre eles Ida Steinmüller, que viu a relação com a cidade ser ainda mais fortalecida pelo contato com a família de Elpídio de Almeida, médico, historiador e ex-prefeito da cidade. Ida casou com um dos filhos do político, teve dois filhos com ele e ficou responsável pelo acervo do sogro após a morte de sua esposa.

Em 1993, ela, amigos e familiares de Elpídio promoveram eventos em comemoração ao centenário do político. A essa altura, Ida já pensava em criar um memorial com a biblioteca e os pertences de Elpídio. Guardou com cuidado todos os documentos que tinha, catalogou cerca de cinco mil livros e guardou máquina de escrever e outras mobílias que tinham valor histórico.

Mas, somente cerca de 20 anos depois, Ida recebeu a missão de criar, de fato, o Instituto Histórico de Campina Grande, e reunir o acervo de Elpídio e de outras personalidades históricas em um só lugar.


				
					Memórias: casal se dedica à reconstituição histórica de Campina Grande
Ida Steinmuller no centenário de Elpídio de Almeida, em 1993. Arquivo Pessoal. Ida Steinmuller no centenário de Elpídio de Almeida, em 1993. Arquivo Pessoal

Segundo Ida, a decisão de refundar o IHCG surgiu em 2011, quando foi convidada pelo então diretor do Instituto Histórico Paraibano para conhecer o Instituto Histórico Geográfico do Rio de Janeiro. Ela conta que ouvir palestras sobre a importância dos institutos históricos municipais a encorajou para aceitar o desafio de se aprofundar na história de Campina Grande e cuidar de um instituto.

Fiquei um pouco alarmada mas aceitei o desafio. Falei com a família e alguns amigos, e depois de seis meses, no dia 19 de abril de 2012, refundamos o Instituto Histórico de Campina Grande. É um trabalho de dedicação, abnegação e entrega total ao projeto. Vencidas as muitas dificuldades, as conquistas foram se solidificando. Me senti muito bem e realizada com essa missão que assumi”, diz.

				
					Memórias: casal se dedica à reconstituição histórica de Campina Grande
Fundação do novo IHCG, em 2012. Arquivo Pessoal. Fundação do novo IHCG, em 2012. Arquivo Pessoal

A memória campinense

Ao longo dos anos Ida recebeu o apoio de vários campinenses para dar continuidade aos trabalhos no IHCG. Médicos, advogados, jornalistas e vários outros profissionais compõem o quadro de associados ao instituto, que não tem ligação direta com o poder público e se mantém do trabalho voluntário.

Entre os membros está o historiador e arqueólogo campinense Vanderley de Brito, atual presidente do instituto. Formado pela Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), Vanderley também dedicou a vida à história e publicou várias obras relacionadas a Campina Grande.

Em 2006, o historiador fundou a Sociedade Paraibana de Arqueologia. Quando conheceu Ida, ficou encantado com o acervo de Elpídio de Almeida que ela possuía e aceitou o convite para conhecer, também, o IHCG. Um caminho sem volta.

Hoje, Vanderley também se dedica à cultivar a memória de Campina. O historiador afirma que o trabalho que o IHCG desempenha é fundamental para tornar conhecidas as raízes da cidade.

Citação

A partir do conhecimento do passado você evita cometer erros que já ocorreram e toma como espelho o sucesso do que foi bem sucedido. A história é fundamental porque é a nossa identidade. Somos resultados do processo de construção de Campina Grande, e ter o conhecimento sobre a cidade é ter o conhecimento de si mesmo”.

Vanderley de Brito
  • Memórias: casal se dedica à reconstituição histórica de Campina Grande
    | Foto:
  • Memórias: casal se dedica à reconstituição histórica de Campina Grande
    | Foto: Ida Steinmuller e Vanderley de Brito. Foto: Amy Nascimento/TV Paraíba

Entre os frutos do trabalho desenvolvido pelo instituto ao longo dos últimos está, um dos mais importantes e recentes é a publicação de um livro sobre a história da cidade. A obra “História de Campina Grande: de aldeia a metrópole” foi lançada em 2021, resultado de anos de pesquisa e dedicação de Ida Steinmüller e Vanderley de Brito.

O historiador explica que, durante a escrita do livro (a partir de 2014), um dos principais objetivos era conseguir desenvolver ludicamente um texto que conseguisse transmitir aos campinenses os detalhes históricos que tornaram Campina Grande a cidade que é hoje.

Nesse processo, os autores acabaram descobrindo vários episódios inusitados e até mesmo inverdades até então contadas de geração em geração. Falhas que se justificam, ainda segundo Vanderley, pela ausência de obras recentes sobre a memória do município.


				
					Memórias: casal se dedica à reconstituição histórica de Campina Grande
Capa do livro "História de Campina Grande: de aldeia à metrópole". Arquivo Pessoal. Capa do livro "História de Campina Grande: de aldeia à metrópole". Arquivo Pessoal

Desde a década de 1960 ninguém pesquisava a fundo a história da nossa cidade, só repetiam o que já existia. Nossa pesquisa trouxe alguns capítulos inusitados em uma linguagem lúdica, moderna, para que se possa compreender melhor nossa história”, explicou.

Depois do livro, o casal criou o Jornal do Instituto Histórico de Campina Grande. No noticiário, além de fatos recentes sobre a sociedade civil campinense há também um capítulo chamado ‘Errata da História’, onde Alexandre de Brito traz ao conhecimento fatos reportados erroneamente. Um serviço de checagem feito com cuidado para preservar, corretamente, fatos que ajudam a narrar a história da Rainha da Borborema.


				
					Memórias: casal se dedica à reconstituição histórica de Campina Grande
Jornais do Instituto Histórico de Campina Grande. Foto: Bruna Couto/Jornal da Paraíba. Jornais do Instituto Histórico de Campina Grande. Foto: Bruna Couto/Jornal da Paraíba
Imagina-se que a história é passado, mas não é. A história é presente, acontece todo dia”, diz Vanderley.

Próximos passos

Mesmo com todos os avanços e tendo conseguido reconstituir a história da cidade em livros e outras obras, o casal segue alçando novos voos. O instituto funciona no mesmo prédio da Biblioteca Municipal de Campina Grande, possui acervos e a reconstituição da casa de Elpídio de Almeida.

Tudo fruto de um esforço feito para agradecer à cidade, segundo Ida Steinmuller e Vanderley.

“Com esse trabalho estou tentando dizer obrigada por tudo que Campina Grande fez por mim e pela minha família. Essa cidade é fantástica, tem uma história extraordinariamente bela desde a fundação até os dias atuais. Tem visão de futuro, espírito empreendedor, oferece oportunidades… Por tudo isso digo que estou fazendo um pouco como forma de agradecimento a cidade”, relata a memorialista.

“É um trabalho de gratidão à cidade que nos deu tudo. Nos deu berço, oportunidades e formação. Nada mais natural que retribuir à Campina parte do que recebemos dela. É uma questão de gratidão ao povo”, conclui Vanderley.

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Bruna Couto

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