Cultura
4 de novembro de 2021
11:56

Flávio Tavares propõe imersão na América Latina a partir da obra de Gabriel García Márquez

Artista plástico já finalizou três quadros de sua nova série, “Cem Anos de Solidão”, e promete outros tantos inspirados na fantasia literária do escritor latino-americano.

Matéria por Phelipe Caldas

O artista plástico paraibano Flávio Tavares iniciou nos últimos meses uma imersão no mundo fantástico da América Latina, tomando como ponto de partida a obra do escritor colombiano Gabriel García Márquez, Prêmio Nobel de Literatura de 1982 e autor, entre tantos, do livro “Cem Anos de Solidão”. Aliás, a série de quadros que ele vem produzindo a partir dessa experiência artística leva o nome do título mais famoso de Márquez.

Até o momento, já foram três quadros finalizados. Mas Flávio avisa que virão outros. Quantos? Nem ele mesmo sabe ainda. “Às vezes, o limite vem do próprio esgotamento físico”, comenta o artista plástico, que é imortal da Academia Paraibana de Letras e já tem mais de 50 anos de carreira.

As obras já finalizadas são “Macondo” (em referência à cidade fictícia de “Cem Anos de Solidão”), “Maurício Babilônia” (um dos personagens do livro, conhecido por ser sempre seguido por borboletas amarelas) e “A bela Remédios” (em referência a outra personagem do romance).

 Quadro "Macondo", do artista plástico paraibano Flávio Tavares 

A série “Cem Anos de Solidão”, na verdade, é a continuação de um projeto anterior, que ele chama informalmente de “diários da pandemia”, que se iniciou com a produção em 2020 do painel “O Claustrum”, que, a propósito, vai entrar em exposição a partir da próxima terça-feira (9) na Galeria de Arte Archidy Picado, localizada no Espaço Cultural José Lins do Rêgo.

De toda forma, Flávio explica que a sua paixão pelo universo de Márquez e da América Latina é antiga, remonta o início dos anos 1980.

Minha obra tem muito dessa liberdade de Gabriel García Márquez. Uma estética da fantasia, do realismo fantástico, que me segue há muito tempo.
Flávio Tavares, artista plástico
 "A bela Remédios", de Flávio Tavares 

E é justo por isso que ele resolveu, instigado pelo casal de amigos Wanessa e Pedro Peixoto durante um papo informal, fazer essa imersão criativa. Uma espécie de diálogo entre a literatura e as artes plásticas produzidas no continente. Uma releitura do brasileiro sobre a obra, sobre a mensagem transmitida pelo colombiano no passado.

“Não é nada literal. É uma série mais aberta. Pretendo me soltar mais do roteiro dos romances e dos contos e trabalhar o imaginário do autor. Não quero ser puramente ilustrativo. Quero algo mais amplo. Uma descoberta do mundo dele. Da literatura da América Latina”, descreve.

Inclusive, o próprio artista explica que o escritor colombiano é apenas o ponto de partida para uma dimensão maior do que ele almeja. “De certa forma, ao falar de García Márquez pode se chegar a Jorge Amado, a Ariano Suassuna, a José Lins, ao cordel”.

 "Maurício Babilônia", de Flávio Tavares 

O que Flávio Tavares diz buscar, no fim das contas, é uma certa “latinidade”. Algo que, segundo ele, está muito presente na música brasileira, mas não está tão presente nas artes plásticas brasileiras, essas mais influenciadas pela escola europeia.

O projeto é uma viagem pela fantasia que permeia o continente latino-americano.
Flávio Tavares, artista plástico

A exposição de “O Claustrum”

Flávio Tavares explica que o convite para a exposição de “O Claustrum” partiu de Pedro Santos, presidente da Fundação Espaço Cultural. Vai haver uma abertura simbólica, restrita para poucas pessoas, ainda por causa dos cuidados exigidos pela pandemia, e a partir de terça-feira (9) estará aberta ao público.

Ao falar sobre a obra, a propósito, o artista destaca que se trata de um painel muito comovente para ele, produzido em meio à quarentena compulsória provocada pela pandemia de Covid-19, e que retrata muito fortemente o momento difícil que vive a humanidade na atualidade.

O painel, ao ser montado, se transforma num retângulo, que de certa forma ajuda a passar uma certa ideia de enclausuramento. Uma obra que, ainda segundo o autor, fala de fantasia e juízo final, algo “muito importante para a época em que a gente vive”.

 O Clautrum, de Flávio Tavares