O artista plástico paraibano Flávio Tavares iniciou nos últimos meses uma imersão no mundo fantástico da América Latina, tomando como ponto de partida a obra do escritor colombiano Gabriel García Márquez, Prêmio Nobel de Literatura de 1982 e autor, entre tantos, do livro “Cem Anos de Solidão”. Aliás, a série de quadros que ele vem produzindo a partir dessa experiência artística leva o nome do título mais famoso de Márquez.
Até o momento, já foram três quadros finalizados. Mas Flávio avisa que virão outros. Quantos? Nem ele mesmo sabe ainda. “Às vezes, o limite vem do próprio esgotamento físico”, comenta o artista plástico, que é imortal da Academia Paraibana de Letras e já tem mais de 50 anos de carreira.
As obras já finalizadas são “Macondo” (em referência à cidade fictícia de “Cem Anos de Solidão”), “Maurício Babilônia” (um dos personagens do livro, conhecido por ser sempre seguido por borboletas amarelas) e “A bela Remédios” (em referência a outra personagem do romance).
A série “Cem Anos de Solidão”, na verdade, é a continuação de um projeto anterior, que ele chama informalmente de “diários da pandemia”, que se iniciou com a produção em 2020 do painel “O Claustrum”, que, a propósito, vai entrar em exposição a partir da próxima terça-feira (9) na Galeria de Arte Archidy Picado, localizada no Espaço Cultural José Lins do Rêgo.
De toda forma, Flávio explica que a sua paixão pelo universo de Márquez e da América Latina é antiga, remonta o início dos anos 1980.
Minha obra tem muito dessa liberdade de Gabriel García Márquez. Uma estética da fantasia, do realismo fantástico, que me segue há muito tempo.
E é justo por isso que ele resolveu, instigado pelo casal de amigos Wanessa e Pedro Peixoto durante um papo informal, fazer essa imersão criativa. Uma espécie de diálogo entre a literatura e as artes plásticas produzidas no continente. Uma releitura do brasileiro sobre a obra, sobre a mensagem transmitida pelo colombiano no passado.
“Não é nada literal. É uma série mais aberta. Pretendo me soltar mais do roteiro dos romances e dos contos e trabalhar o imaginário do autor. Não quero ser puramente ilustrativo. Quero algo mais amplo. Uma descoberta do mundo dele. Da literatura da América Latina”, descreve.
Inclusive, o próprio artista explica que o escritor colombiano é apenas o ponto de partida para uma dimensão maior do que ele almeja. “De certa forma, ao falar de García Márquez pode se chegar a Jorge Amado, a Ariano Suassuna, a José Lins, ao cordel”.
O que Flávio Tavares diz buscar, no fim das contas, é uma certa “latinidade”. Algo que, segundo ele, está muito presente na música brasileira, mas não está tão presente nas artes plásticas brasileiras, essas mais influenciadas pela escola europeia.
O projeto é uma viagem pela fantasia que permeia o continente latino-americano.
A exposição de "O Claustrum"
Flávio Tavares explica que o convite para a exposição de "O Claustrum" partiu de Pedro Santos, presidente da Fundação Espaço Cultural. Vai haver uma abertura simbólica, restrita para poucas pessoas, ainda por causa dos cuidados exigidos pela pandemia, e a partir de terça-feira (9) estará aberta ao público.
Ao falar sobre a obra, a propósito, o artista destaca que se trata de um painel muito comovente para ele, produzido em meio à quarentena compulsória provocada pela pandemia de Covid-19, e que retrata muito fortemente o momento difícil que vive a humanidade na atualidade.
O painel, ao ser montado, se transforma num retângulo, que de certa forma ajuda a passar uma certa ideia de enclausuramento. Uma obra que, ainda segundo o autor, fala de fantasia e juízo final, algo "muito importante para a época em que a gente vive".