O Dia do Disco é comemorado no Brasil nesta quarta-feira (20), em homenagem ao músico Ataulfo Alves, que morreu em 20 de abril de 1968 e era um colecionador desse formato de mídia. Mesmo com o surgimento do streaming, ainda há muitos amantes do disco de vinil, que colecionam e movimentam o comércio. O JORNAL DA PARAÍBA conversou com três deles.
Em João Pessoa, Robério Alves é dono da loja Música Urbana que existe há 24 anos. Já Flávia Tabosa iniciou em 2020, com o marido Ícaro Freire, a Joquinha Discos, como uma consequência da paixão pelo vinil. Em Campina Grande, Fellipe Pereira coleciona vinis de uma artista que ficou famosa já na época do mp3, a cantora Lady Gaga.
Robério Almeida
O interesse por discos de Robério Almeida surgiu ainda na infância, quando os irmãos dele compraram uma vitrola. Na adolescência, qualquer dinheiro que ele ganhava era usado para comprar algum vinil. O apego persistiu até a fase adulta, levando Robério a sonhar em montar uma loja de discos. O sonho finalmente se realizou em 1998, quando inaugurou a Música Urbana.
“Chegou uma época em que eu sonhava em trabalhar em uma loja de discos. Aí quando saí do emprego que eu estava há muitos anos, pensei ‘eu vou montar uma loja de discos’ e tá dando certo até hoje”.
Localizada no Centro Histórico de João Pessoa, a loja vende, além dos discos, CD’s, livros e camisetas, atraindo colecionadores e apaixonados por música. Quem chega por lá é sempre recebido com alguma banda das décadas de 1980 e 1990 tocando no ambiente, além de um acervo de discos que traz desde Rolling Stones a boleros cubanos.
Robério conta que, mesmo com o surgimento do streaming, a loja tem boas vendas. Ele sente o interesse por mídias físicas aumentar.
Vendemos bem, não tenho o que reclamar (risos). Apesar de ter diminuído o número de compradores, ainda há muitas pessoas interessadas. O interessante é que tem gente trocando as plataformas digitais pelas mídias físicas. Digo que estamos nos vingando do mp3, (risos)”.
O acervo da loja é adquirido de outras pessoas, que chegam lá querendo vender, seja por falta de espaço, necessidade financeira, ou até discos que pertenciam a algum parente falecido e que a família não tem interesse em ficar. Clientes da loja também levam discos para trocas.
O resultado é uma coleção variada, e não é difícil encontrar algum disco com uma dedicatória na capa.
Sobre os discos mais raros que já chegaram ao acervo, Robério cita “Paêbirú” de Lula Cortes e Zé Ramalho, “Paraibô”(um disco de paraibanos lançado em 1978), "Imagem e Som" de Cassiano, “Tim Maia” (1970), Flaviola e o Bando do Sol, Alceu Valença e Geraldo Azevedo, “A Tábua de Esmeralda”, de Jorge Ben Jor, Compactos de Jarbas Mariz e de The Gentlemen. entre outros. A maioria da música brasileira.
Flávia Tabosa
Flávia Tabosa e o marido Ícaro Freire decidiram, durante a pandemia, movimentar a coleção de discos próprios e até fazer uma renda extra no isolamento social. Foi então que em 2020 abriram em casa a loja Joquinha Discos. Além de curadoria de discos, eles revendem, recuperam capas antigas e divulgam a cultura do disco.
Com as dificuldades para conciliar rotina, trabalho e pesquisa acadêmica, Flávia conta que a Joquinha Discos se tornou uma loja itinerante, ou seja, marca presenças em eventos esporádicos, mas a curadoria ainda acontece. Já o marido, Ícaro Freire, montou com dois sócios a Balaio Discos, que é focada em discos lacrados e importados, apesar de possuir uma sessão de garimpos.
Os discos que Flávia e Ícaro encontram são garimpados na internet ou em lojas físicas. “Há quem venda lotes de discos, há leilões na internet. Aqui em João Pessoa, temos lojas consolidadas de música, como Big ou a Música Urbana. Além da Joquinha Discos e da Balaio Discos, ainda há a ‘nova geração’ dos vinis, com a Tigresa Discos e a Estilhaços”.
Ela conta que além do vinil em si, os colecionadores constroem amizade e compartilham experiências. “Encontramos amigos que nos acompanham, que compartilham músicas, que dão a mesma importância que nós à essa experiência que os vinis proporcionam”.
Para a jornalista, o motivo do disco permanecer vivo é a qualidade sonora, o ritual de acompanhar faixa a faixa, bem como as informações dos encartes.
“O vinil fornece um tipo de experiência com a música muito boa para ambientes controlados, como casa, ou uma discotecagem. Oferece mais qualidade, informações sobre cada música, encartes. É muito além do áudio, é uma imersão”.
Se depender de Flávia e Ícaro, a mídia vai continuar conquistando fãs por muito tempo. Em casa, eles têm o hábito de ouvir discos com o pequeno João, o filho de dois anos do casal. Nosso filho já tem o hábito de escutar música conosco, e vai herdar também a forma concreta dessas músicas, com essa mídia que é tão duradoura”.
Fellipe Pereira
Diferentemente de Flávia e Robério, Fellipe Pereira, de Campina Grande, coleciona discos de artistas da era do CD e Streaming, especialmente da cantora Lady Gaga. Para o operador de telemarketing, a mídia física promove uma sensação de maior proximidade com o artista.
Felipe Pereira considera os discos mais bonitos visualmente e com qualidade sonora superior. A coleção dele possui 12 discos em vinil comum; sendo 10 álbuns e 2 outros modelos de vinis dos mesmos álbuns; 9 picture discs de singles, sendo 2 no tamanho normal e 7 em tamanho menor. Além de 3 boxes edição limitada de colecionador. Todos os discos são de Lady Gaga.
O colecionador considera como item favorito o box colecionador de Born This Way, pois, por ser um item mais caro, ele demorou algum tempo para conseguir comprar. “O box de colecionador de Born This Way, que tem um disco para cada duas músicas, totalizando 9 discos no mesmo box, é meu preferido. Isso porque, quando comecei a colecionar mídias físicas, ele era meu sonho de consumo. Mas como eu comecei ainda muito jovem, não tinha condições financeiras para adquiri-lo. Quando pude comprar, foi como uma realização de um desejo. Sem contar que ele é lindíssimo”.