Em comemoração ao mês da mulher, durante março, o JORNAL DA PARAÍBA divulga uma série com histórias de artistas visuais paraibanas ou radicadas no estado, que atuam em áreas como pintura, escultura, fotografia, grafite, entre outras.
A quarta artista da série é Bebel Lélis, que nasceu em João Pessoa, cresceu em Taperoá e morou em Campina Grande onde cursou Arte e Mídia. A paraibana tem experiência no audiovisual, já trabalhou com aquarela, pintura digital e até com tatuagem, mas foi na xilogravura que ela se encontrou.
Atualmente, além de criar obras estáticas, aproveitou o conhecimento no audiovisual e chegou a fazer um curta animado com o personagem de cordel ‘Chico’. Na obra, ele dá dicas para “não vexar o juízo” durante a pandemia.
“Estudei xilogravura digital, mais voltada para a estética do cordel. Juntei com o audiovisual e desenvolvi trabalhos além daquela ilustração estática. Aí surgiu, de um personagem de cordel que eu tenho, Chico. Ele é um personagem sertanejo que quebra todos os estereótipos que a gente costuma encontrar na nossa literatura. Foi com Chico que a gente começou a se animar com a xilogravura”, relata.
Em suas obras, Bebel explora lugares afetivos e marcantes de sua vida, como a ponte de Taperoá que se transformou em xilogravura. “Eu fiz essa gravura munida de um sentimento de saudade, munida de um sentimento de afeição”. Para isso, ela faz uso de detalhes como luz, sombra e profundidade, buscando retratar o máximo possível de emoção que aquele lugar representa.
Sobre o Eu-mulher artista
Se pesquisarmos pintoras paraibanas no Google, todos os nomes que aparecem nas pesquisas são de homens. Mudando pintoras para escultoras, colagistas, muralistas, o problema permanece. Ao colocar “artistas visuais paraibanas” na mesma pesquisa o resultado é incipiente. No campo acadêmico, é difícil encontrar online bibliografias e trabalhos no campo das artes visuais que falam sobre artistas mulheres do estado. Nos museus, são poucas obras que trazem o nome de mulheres em sua autoria.
Segundo Luciana Gruppelli Loponte, a história da arte priorizou “um olhar masculino, branco, europeu e heteronormativo.” A luta por visibilidade surge no Brasil principalmente durante os anos 70 e 80, com a segunda onda do feminismo chegando no país. Porém, nessa época o Nordeste ainda seguia sob uma ótica coronelista muito forte e o mais importante era continuar viva e segura. Aqui, fazemos questão de relembrar da história da poetisa Violeta Formiga, brutalmente assassinada por seu marido no dia 21 de agosto de 1982, por conta de um ciúmes e machismo que fazia com que ele a visse como um mero objeto de sua posse.
É verdade que o cenário vem mudando. Nos últimos anos, a Paraíba teve um crescimento de mulheres produzindo arte e expondo, principalmente com o auxílio da gestão pública através de editais. Entretanto, é uma produção subvalorizada que ainda tenta reescrever e reaver a história de muitas artistas que passaram pelo estado e que seguem com nomes apagados e não tão marcados na história quanto nomes masculinos.
Porque não falamos sobre arte de mulheres produzidas no estado? Porque não temos um nome de referência quando se fala sobre arte visual? Porque, quando decidimos fazer essas série, não conseguíamos pensar de cabeça em uma pintora, desenhista, escultora, paraibana igual eu penso em nomes nacionais como Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Lygia Pape?
Conforme a mestra em artes visuais Clara Nogueira de Carvalho, na capital e no estado há a quase inexistência de mulheres no campo das artes:
“Na Paraíba, somente em 1920, por exemplo, uma mulher artista, a pintora Amelinha Theorga, aparece nas páginas de jornais da época suscitando alguma crítica, mas é posteriormente esquecida por ter se casado e esse espaço de “amadora” das artes ter ficado restrito somente ao tempo de solteira”, escreve.
Diante desse cenário, o JORNAL DA PARAÍBA propõe uma chance que se conheça as artistas mulheres do estado, porque a arte é, sobretudo, uma investigação do mundo. Se podemos estudar e entender melhor nosso redor, as pautas e questões que movem a sociedade, podemos mudar. Mas não só isso, a arte tem um poder catalizador de expressão. Expressão essa que é válida e necessária apenas porque exprime, porque sentimentos são válidos e indagar é preciso. É somente olhando para si que podemos entender o outro. É somente ouvindo mulheres, consumindo produções de mulheres, incentivando sua produção e centralizando seu olhar e vivências em pautas de mulheres que podemos, talvez, fazer com que o ideal feminista não seja uma ideia utópica e sim uma realidade material.