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CULTURA

Eu-mulher artista: conheça o trabalho de Carinne Lira

Publicado em: 21/03/2022 às 10:35 Atualizada em 21/03/2022 às 22:03

Carinne Lira nasceu em João Pessoa, filha de mãe paraibana e pai carioca. Ainda criança, mudou-se com a família para o Rio de Janeiro e hoje vive em Foz do Iguaçu. Por meio da fotografia e de colagens, a artista explora a relação entre natureza e ancestralidade, por uma perspectiva decolonial. Carinne está na série “Eu-mulher artista”, do JORNAL DA PARAÍBA. Em comemoração ao mês da mulher, durante março, serão publicadas diversas histórias de artistas visuais paraibanas ou com atuação no estado, que trabalham nas áreas como pintura, escultura, fotografia, grafite, entre outras. O nome escolhido para a série faz referência ao versos de Conceição Evaristo, no poema “Eu-Mulher”.

Eu força-motriz. Eu-mulher abrigo da semente moto-contínuo do mundo

Nas obras, ela cria colagens de fotografias feitas por ela ou de família, tendo as mulheres como eixo, com raízes de plantas sobrepostas.

A primeira exposição que Carinne participou foi a “Panorama das Artes Visuais da Bacia do Paraná III”, em 2020, com o trabalho "O que a natureza desnuda, eu incorporo". Esta exposição passou pelo Museu de Arte de Cascavel e pelo Paraná Itaipu Ecomuseu, em Foz do Iguaçu. Depois, participou da "Raízes", no Instagram, bem como da exposição "Poéticas Femininas nas Periferias", no Rio de Janeiro.

A artista explica que o interesse em explorar a ancestralidade, sob uma perspectiva decolonial, é motivado também pela dificuldade que ela mesma encontrava em encontrar registros fotográficos de suas ancestrais não-brancas. Ela enxerga essa questão além do âmbito familiar, alcançando dimensões políticas, sociais e culturais, atreladas ao projeto de nação, bem como ao colonialismo.

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  • Eu-mulher artista: conheça o trabalho de Carinne Lira
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  • Eu-mulher artista: conheça o trabalho de Carinne Lira
    | Foto: (Foto: Carinne Lira/Arquivo pessoal)
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    | Foto: (Foto: Carinne Lira/Arquivo pessoal)
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Sobre o Eu-mulher artista

Se pesquisarmos pintoras paraibanas no Google, todos os nomes que aparecem nas pesquisas são de homens. Mudando pintoras para escultoras, colagistas, muralistas, o problema permanece. Ao colocar “artistas visuais paraibanas” na mesma pesquisa o resultado é incipiente. No campo acadêmico, é difícil encontrar online bibliografias e trabalhos no campo das artes visuais que falam sobre artistas mulheres do estado. Nos museus, são poucas obras que trazem o nome de mulheres em sua autoria.

Segundo Luciana Gruppelli Loponte, a história da arte priorizou “um olhar masculino, branco, europeu e heteronormativo.” A luta por visibilidade surge no Brasil principalmente durante os anos 70 e 80, com a segunda onda do feminismo chegando no país. Porém, nessa época o Nordeste ainda seguia sob uma ótica coronelista muito forte e o mais importante era continuar viva e segura. Aqui, fazemos questão de relembrar da história da poetisa Violeta Formiga, brutalmente assassinada por seu marido no dia 21 de agosto de 1982, por conta de um ciúmes e machismo que fazia com que ele a visse como um mero objeto de sua posse.

É verdade que o cenário vem mudando. Nos últimos anos, a Paraíba teve um crescimento de mulheres produzindo arte e expondo, principalmente com o auxílio da gestão pública através de editais. Entretanto, é uma produção subvalorizada que ainda tenta reescrever e reaver a história de muitas artistas que passaram pelo estado e que seguem com nomes apagados e não tão marcados na história quanto nomes masculinos.

Porque não falamos sobre arte de mulheres produzidas no estado? Porque não temos um nome de referência quando se fala sobre arte visual? Porque, quando decidimos fazer essas série, não conseguíamos pensar de cabeça em uma pintora, desenhista, escultora, paraibana igual eu penso em nomes nacionais como Tarsila do Amaral, Anita Malfatti e Lygia Pape?

Conforme a mestra em artes visuais Clara Nogueira de Carvalho, na capital e no estado há a quase inexistência de mulheres no campo das artes:

“Na Paraíba, somente em 1920, por exemplo, uma mulher artista, a pintora Amelinha Theorga, aparece nas páginas de jornais da época suscitando alguma crítica, mas é posteriormente esquecida por ter se casado e esse espaço de “amadora” das artes ter ficado restrito somente ao tempo de solteira”, escreve.

Diante desse cenário, o JORNAL DA PARAÍBA propõe uma chance que se conheça as artistas mulheres do estado, porque a arte é, sobretudo, uma investigação do mundo. Se podemos estudar e entender melhor nosso redor, as pautas e questões que movem a sociedade, podemos mudar. Mas não só isso, a arte tem um poder catalizador de expressão. Expressão essa que é válida e necessária apenas porque exprime, porque sentimentos são válidos e indagar é preciso. É somente olhando para si que podemos entender o outro. É somente ouvindo mulheres, consumindo produções de mulheres, incentivando sua produção e centralizando seu olhar e vivências em pautas de mulheres que podemos, talvez, fazer com que o ideal feminista não seja uma ideia utópica e sim uma realidade material.

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Lara Brito

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