A programação cultural de aniversário de João Pessoa, comemorado em 5 de agosto, teve o clube Astréa como um dos pontos tradicionais por muitos anos, mas não é só nas comemorações que a história do clube e a da capital paraibana se interseccionam. Fundado em 1886, o Astréa passou por prédios históricos e sediou momentos importantes para a capital.
A primeira sede do clube foi na Rua Duque de Caxias, número 77, em um sobrado que pertencia à família do poeta Auguto dos Anjos. Atualmente, o edifício tem o número 242 e não foi tombado pelo patrimônio histórico, antes de ter a fachada alterada. Além deste endereço, o Astréa passou por um palacete no bairro do Tambiá e pela sede moderna, no mesmo bairro, onde funcionou até o encerramento das atividades, no começo da década de 1990.
no aniversário de João Pessoa, nesta sexta-feira (5), o JORNAL DA PARAÍBA percorre caminhos em que a história do Astréa foi importante para a capital paraibana.
Na cultura
Em 5 de agosto de 1933, há 89 anos, acontecia no Astréa um soirée, ou seja, uma noite dançante em comemoração ao aniversário da capital. Os bailes do clube, que eram realizados em diversas datas durante o ano, além do 5 de agosto, reuniam membros das elites paraibanas, como explica o historiador George Henrique.
“O Astréa era o equivalente paraibano dos clubes sociais da elite de outros centros urbanos do país, importantes espaços sociais nas primeiras décadas do século 20, a exemplo do SPAC (São Paulo Athletic Club) de Charles Miller, do Club Athletico Paulistano, do Club Náutico Capibaribe (Pernambuco) e no Rio de Janeiro do Fluminense Football Club. Todos estes clubes citados acima foram fundados e frequentados por gente da elite”, diz o historiador.
No Carnaval, por exemplo, o Astréa chegou a realizar banhos à fantasia, que consistiam em concursos do melhor traje, cujos desfiles aconteciam ao redor da piscina do clube, além das matinês para os mais jovens. A festa era um dos mais famosas da Paraíba.
No esporte
O clube marcou o esporte na capital paraibana, inclusive nas modalidades femininas, especialmente a partir da década de 1930, quando se mudou da Rua Duque de Caxias para o bairro Tambiá. O historiador George Henrique ressalta a importância do Astréa para a prática esportiva de mulheres em João Pessoa.
“Dali em diante, o Astréa passa a exemplo dos seus semelhantes, ter maior presença no esporte: tênis, basquete, e depois, o futebol. É nele que vemos os primeiros registros de atividades esportivas praticadas por mulheres na Paraíba. Nisso, podemos dizer sem sombra de dúvidas, que o Astréa foi inovador, ainda mais em uma época em que o machismo imperava, impedindo a maioria das mulheres de ingressar em atividades esportivas, mesmo amadoras”.
O Astréa contava com escolinhas de esportes variados, como natação, handebol e voleibol, tanto no masculino quanto no feminino.
A professora Ana Maria Leal foi nadadora pelo Astréa na década de 1960. Filha de funcionários públicos, foi na escolinha do clube que ela se encantou pelo esporte, fez amigos e chegou até a representar João Pessoa em uma competição Norte-Nordeste. Ela também trabalhou no Astréa algum tempo depois.
"Eu era nadadora, eu era assim já com 15 anos, representei o Astréa até em jogos Norte e Nordeste, mas cheguei a trabalhar lá também. Também me tornei uma pessoa bem relacionada com os colegas, por isso tenho uma relação muito forte de amor com o Astréa", conta Ana Maria Leal.
Na política
O Astréa foi fundado em 30 de maio de 1886, três anos antes da Proclamação da República, e teve como primeiro presidente Eugênio Toscano de Brito, que era entusiasta da instalação da República na Paraíba. A informação é do historiador Horácio de Almeida, citado no artigo de Luiz Hugo Guimarães, do Instituto Histórico e Geográfico Paraibano (IHGP).
Segundo o artigo, o fundador do Astréa chegou a promover reuniões pela Proclamação da República no Paço Municipal e na sede do clube.
Dessas reuniões, foi escolhida a primeira junta para governar a Paraíba, incluindo o coronel Honorato Caldas, comandante do Batalhão do Exército, o 2º tenente da Armada Artur José dos Reis Lisboa, o Barão do Abiaí – o primeiro adesista -, Dr. Lima Filho e Eugênio Toscano.
Vale ressaltar que, por muitos anos na Paraíba, não havia solidez institucional, com grupos armados paramilitares e repressão, como citou o historiador Diego Gomes, em entrevista ao g1 Paraíba.
"Não havia uma solidez institucional na Paraíba. Grupos armados e paramilitares eram formados a todo o momento. As oligarquias se reuniam constantemente no Clube Astrea, em João Pessoa (na época, ainda chamada de Parahyba). Os combates, a truculência, a repressão eram constantes", destacou.
Nos anos seguintes, como ponto de reunião das elites paraibanas, o Astréa foi cenário de encontros entre nomes da política e provável espaço de decisões importantes da política de João Pessoa e também de todo o estado.