Eles percorriam quilômetros, cruzavam o estado, levando diversos produtos. Os tropeiros e o algodão, principal mercadoria que eles carregavam nas costas dos burros e jumentos são marcas do desenvolvimento de Campina Grande, que completa 157 anos nesta segunda-feira (11).
É até difícil de imaginar, levando em consideração o avanço tecnológico dos anos, como as viagens dos tropeiros aconteceram. Mas eles foram homens dedicados a abastecer o comércio de uma época em que não existia transporte rodoviário e ferroviário. O historiador Ulisses Estrela explica que as viagens do Sertão da Paraíba a centros comerciais do estados duravam até um mês.
Eles conduziam diversos produtos, produtos que não se estragavam, umas vez que a rota deles poderia se estender por muito dias".
Quem conhece essa história de perto é Dona Maria Celma, que vem de uma linhagem direta dos tropeiros e hoje trabalha com algodão colorido. Com orgulho, ela fala sobre como eles ajudaram a economia de Campina Grande crescer.
A cidade começou a crescer com o incentivo da coragem desses tropeiros, que se arriscaram nessas viagens tão enfadonhas, tão cansativa e nunca disseram não. Eu sou neta mesmo de tropeiros".
Com a chegada das ferrovias, o trabalho que os tropeiros faziam foi perdendo espaço por causa da nova velocidade na chegada dos produtos que os trens proporcionaram. Por mais que houvesse resistência por parte dos tropeiros, também existiu a necessidade de trabalho, então alguns homens deixaram de andar com os burros e aderiram a nova forma de locomoção de materiais.
A cultura do algodão ajudou a impulsionar o crescimento de Campina Grande e fez da cidade um centro comercial algodoeiro. Chegando a ser o segundo maior exportador do produto no mundo.
Quando meu pai ficou adulto, ele poderia ser um tropeiro, mas ele tinha um caminhão. A máquina substitui um homem … O homem e os animais. Não é que os tropeiros tiveram um fim a tecnologia que colocou um fim nos tropeiros"
O algodão continua no comércio de Campina Grande
Os tropeiros da Borborema se foram, mas a marca do trabalho deles ainda se faz presente. A principal mercadoria que eles transportavam, o algodão, ainda é fonte de renda para comerciantes de Campina Grande. O algodão branco fez a cidade ser a segunda maior exportadora do material no mundo, hoje o algodão colorido faz o município ser reconhecido no cenário da moda no mundo inteiro. Como conta a designer de moda, Gecilda Souza:
Os turistas amam o nosso algodão, eles percebem o cuidado que a gente tem por causa do material, que passa por um processo de plantação e de fiação"
Gecilda não titubeia ao falar do amor pelo algodão colorido, ela falou que quando acontece a festa de São João, no Parque do Povo, responsável por trazer turistas do mundo inteiro para Campina Grande, ela explica detalhes do material para eles.
Eu me sinto muito orgulhosa de trabalhar com o algodão, eu explico a eles [turistas], eu mostro pra eles [turistas] a semente do algodão, eu levo a pluma do algodão e conto pra eles toda a história".
Para além da história do algodão, a designer explicou a diferença que o produto tem de outros materiais:
Ele [o algodão] é um produto ecológico, ele não agride o meio ambiente e nem as pessoas, ele não causa alergia. Na história da moda, gasta-se milhões de litros d'água para tingir uma peça de roupa, enquanto o algodão não precisa de tingimento, ele é natural. Hoje o mundo reconhece o algodão colorido de Campina Grande"
Algodão colorido em Milão, na Itália
Este ano, roupas produzidas com o algodão colorido orgânico da Paraíba foram expostas durante um desfile de moda, em Milão, na Itália. Os looks femininos e os quatro masculinos fazem parte da coleção "Ipês do Brasil", idealizada pela diretora da empresa paraibana Natural Cotton Color, Francisca Vieira.
O objetivo durante o desfile era reforçar o Brasil enquanto referência de moda sustentável.A pluma da matéria-prima utilizada pela marca é desenvolvida pela Empresa Brasileira de Agropecuária (Embrapa) e já nasce com em tons marrom e bege, sem uso de aditivos ou corantes.