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EDUCAÇÃO

Meninas na ciência: projeto da UFPB ensina programação para alunas da rede pública

Publicado em: 11/02/2023 às 7:10

Ensinar os primeiros passos da robótica e de programação a meninas do ensino médio, em escolas públicas do estado. Esse é objetivo do projeto de extensão 'Meninas na Ciência da Computação', desenvolvido pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

Neste sábado (11) é comemorado o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. A data é usada para dar visibilidade ao papel e às contribuições fundamentais das mulheres nas áreas de pesquisa científica e tecnológica. E o projeto paraibano é um exemplo desse esforço, estimulando o ingresso das meninas em cursos de graduação da área de Informática e promovendo a inclusão digital, ao impulsionar a iniciação no universo da computação.

O Meninas na Ciência da Computação, surgiu em 2013, a partir de um edital para a inserção de mulheres nas exatas. De acordo com um levantamento realizado pelo projeto, apenas 14% dos estudantes do Centro de Informática (CI) são meninas. No CI, existe apenas cerca de 1 mulher para cada 10 pessoas matriculadas. Havia uma necessidade de trazer mais mulheres para os cursos de tecnologia. 

A proposta foi escrita pela professora Josilene Aires, uma das coordenadoras, e foi aprovada no mesmo ano. “Nossas ações são ir às escolas públicas para motivar as meninas a ingressarem na área de tecnologia, mais especificamente em Ciência da Computação”, relata Josilene, ao dizer que mostram que mulheres podem e devem atuar na tecnologia. 

Além de Josilene, os professores Giorgia Mattos e Ricardo Moreira também estão à frente do projeto e atualmente contam com 19 pessoas na equipe.  Ao iniciarem o contato com as estudantes eles encontraram uma dificuldade maior, muitas delas nem aspiravam entrar no ensino superior. “A gente consegue chegar e mostrar que existe a universidade  e é de graça”, conta o professor Ricardo.

Segundo a professora Josilene, o projeto começou atuando em escolas públicas de João Pessoa e a palestra inicial foi remodelada, mostrando o que é a UFPB e o IFPB, onde são ofertados os cursos tecnológicos. E assim dar continuidade aos outros assuntos pretendidos nos cursos. 

Van e visitação de escolas públicas em todo o estado 

A partir de 2021, através também de um edital, o projeto adquiriu uma van e começou a trabalhar em 15 cidades do estado, com de baixo índice de desenvolvimento humano municipal (IDHM). “O projeto após a pandemia, passou a ir com a van nas escolas do interior. E as meninas palestram sempre que podem”, relata a professora Josilene. 

A van foi idealizada pela equipe e foi o professor Ricardo, que atua na área de Engenharia de Produção, quem fez as adaptações necessárias para caber as alunas e o equipamento. A van também conta com placa solar para alimentar as luzes e o equipamento para resfriar. 

As universitárias relembram que também fizeram parte do processo de idealização da van ao desenharem o projeto antes das mudanças no veículo serem realizadas.

Nas palestras, o projeto apresenta a questão da desigualdade de gênero na tecnologia ao mostrar que as mulheres são minoria, mas que as meninas têm capacidade para ocuparem aquele espaço também. Após a apresentação inicial, feita nas escolas, as meninas participaram de oficinas semanais de forma remota. “Ano passado e a gente chegou a ter seis oficinas, até mesmo no sábado”, relembrou Josilene.

Estudantes beneficiadas pelo projeto


				
					Meninas na ciência: projeto da UFPB ensina programação para alunas da rede pública
MCC em escola em Belém, na Paraíba. (Foto: Arquivo do Meninas na Ciência da Computação). MCC em escola em Belém, na Paraíba. (Foto: Arquivo do Meninas na CiÊncia da Computação)

A estudante Cibele Barbosa foi uma das alunas a serem atendidas pelo projeto no Sertão da Paraíba. Residente de Belém, a jovem conheceu o projeto enquanto estava no 2º ano do ensino médio através de uma palestra na escola. 

De acordo com Cibele, as aulas do projeto não atrapalharam nos estudos para o Enem, mas vieram a acrescentar. Mesclando teoria e prática, as alunas tiveram oportunidade de desenvolver o próprio aplicativo para smartphone. "Tivemos a experiência gratificante de baixar um aplicativo que nós mesmas fizemos nos nossos telefones, que colocamos nossos nomes e tudo nele foi idealizado por nós", relata. 

Cibele pretende participar do projeto novamente em 2023 e continuar aprendendo mais desse universo da computação. A estudante reforçou a importância do trabalho para alunos de escola pública e do incentivo para as meninas. "O projeto só veio pra reforçar pra gente que o lugar da mulher é onde ela quiser. Essa foi mais uma porta se abrindo pra gente", reforça. 

Já a aluna Thainá Santos, de Cabaceiras, conheceu o projeto através de uma amiga que já participava dos cursos oferecidos. Em 2022, a estudante estava no primeiro ano do ensino médio e relata que aprendeu muitas coisas que não conhecia antes. “No curso eu aprendi a criar slides, documentos, pastas. Coisas que antes eu não tinha nem noção de como fazer”, explica e revela a vontade de participar novamente de cursos oferecidos pelo Meninas na Ciência da Computação em 2023. 


				
					Meninas na ciência: projeto da UFPB ensina programação para alunas da rede pública
Equipe do MCC em Cabaceiras. (Foto: Arquivo do Meninas na Ciência da Computação). Equipe do MCC em Cabaceiras. (Foto: Arquivo do Meninas na Ciência da Computação)

Realidade das mulheres universitárias

Segundo Nelly Stanford, estudante de Ciências da Computação, além de promover o diálogo com alunas de escola pública para que elas ingressem em cursos de tecnologia, o Meninas na Ciência da Computação também promove eventos dentro do Centro de Informática para as estudantes que já estão cursando a graduação. 

"A gente tá vendo do ano passado para cá, que não adianta, simplesmente você engajar as meninas a entrarem no curso, porque tem uma evasão muito grande", diz Alessandra Barros, aluna de Ciência da Computação. 

O projeto também funciona como uma rede de engajamento para manter as mulheres unidas ao longo da graduação 

Bárbara Cavalcante, estudante de ciências da computação, veio do interior de Pernambuco para estudar na UFPB e um dos motivos para a escolha da universidade foi justamente o MCC. "Quando eu cheguei e todas as vezes que eu precisava de um suporte, de um acolhimento, de um apoio maior, foi justamente as meninas que me proporcionaram isso. Todas as vezes que eu tinha dúvidas em relação ao curso, essa rede que a gente acabou construindo me ajudava a voltar para o motivo de ter escolhido isso" relata a estudante. 

Além disso, as estudantes também contaram experiências vivenciadas nos cursos, majoritariamente masculinos. Elayni Franco, estudante de ciências de dados, veio de outro curso e já ouviu muitas vezes que foi privilegiada por professores por ser mulher. Isso faz com que muitas das vezes as alunas passem a duvidar do seu valor profissional. "Eu já ouvi comentários, como, 'aquela menina ali, ela é monitora só porque ela é menina' ou 'porque ela é menina e o professor gosta', sabe?", relata. 

Já Maria Eduarda, que cursa engenharia da computação, passou por uma situação de assédio moral em uma das disciplinas. "A gente quando foi falar com o professor e eu percebi uma aceitação muito maior do professor quando era um menino. Qualquer coisa que eu falasse era uma afronta e ele encarava como uma provocação. O problema não era o que estava sendo falado, mas quem tava falando", lembra a estudante. 

Além da universidade, durante a atuação no mercado de trabalho as meninas encontram algumas dificuldades, principalmente em posição de liderança. "Ou você é rígida ou você não assume a liderança", conclui Nelly ao falar sobre o posicionamento dentro de equipes masculinas para conquistar o respeito. 

E as estudantes observam que isso também acontece com as professoras do Centro de Informatica. "A primeira aula é uma aula de auto afirmação. Como forma de provar para os alunos é extremamente capacitada para estar dando aquela aula pra turma e para ganhar confiança, e consequentemente o respeito. Enquanto que os professores já começam brincando", relata Maria Eduarda sobre a forma como as mulheres precisam sempre estar provando sua competência.

Projetos futuros 

Em 2022 o projeto Meninas na Ciência da Computação começou a trabalhar com comunidades indígenas. A equipe participou de um evento na cidade de Baía da Traição, ministrando  cursos e palestras dentro das aldeias indígenas. O treinamento foi oferecido para os professores, que agora podem ser multiplicadores dessa iniciativa. 

Completando 10 anos de funcionamento do MCC, em 2023, está em andamento a inserção de pessoas surdas no letramento digital.Os cursos serão oferecidos para meninos e meninas. “Vai ser um desafio muito grande, mas já está sendo desenhado para o MCC atender esse público”, afirma o professor Ricardo Moreira.

Além desses dois grupos, a equipe também pretende incluir quilombolas e pessoas em situação de vulnerabilidade. O foco do projeto, hoje, é transmitir conhecimento.


				
					Meninas na ciência: projeto da UFPB ensina programação para alunas da rede pública
Parte da Equipe do MCC na Van. (Foto: Gabriella Loiola/JORNAL DA PARAÍBA). Parte da Equipe do MCC na Van. (Foto: Gabriella Loiola/JORNAL DA PARAÍBA)
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Gabriella Loiola

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