Cotidiano
12 de outubro de 2021
06:20

Pai pratica karatê junto com filho para desenvolver interação, concentração e disciplina

Rodrigo tem oito anos e faz karatê há cerca de seis meses. Ele tem síndrome de down e tem no esporte uma fonte de desenvolvimento pessoal.

Matéria por Dani Fechine

Rodrigo está no karatê há seis meses. Muitas vezes acorda empolgado, fazendo golpes e mostrando o que aprendeu na aula do professor Joserlan de Oliveira, conhecido como Josa. Morando em João Pessoa, pelo menos duas vezes na semana, o pequeno de oito anos desenvolve a concentração e a disciplina de uma forma lúdica, por meio do esporte. Ele tem síndrome de down e encontrou no karatê o ambiente de interação e controle. 

Incentivado pelo pai, Walmírio José, que sempre gostou muito de esportes e sempre quis incluí-lo nas atividades, Rodrigo foi levado ao karatê. A decisão pela arte marcial surgiu a partir de um convite do pai de uma outra criança com síndrome de down. Desde a primeira aula experimental, Rodrigo participa de todas as atividades assiduamente, ao lado do pai, que desde o primeiro dia se tornou aluno, como forma de apoio e incentivo.

A evolução até o momento é muito boa, pois ele interage com outras crianças, tem disciplina, obedecendo às determinações, regras e ensinamentos em aula, além de demonstrar interesse no aprendizado, desenvolvendo tanto física como intelectualmente”.
Walmírio José de Sousa, pai de Rodrigo
 Rodrigo e o professor Josa, durante competição de karatê 

‘Karatê é filosofia de vida’

Josa ensina karatê há mais de dez anos. Hoje se dedica, principalmente, a transmitir os ensinamentos da arte marcial para crianças, sem limite de faixa etária. Alguns, com dois anos, já chegam observando as aulas e aprendendo desde cedo o que fica de filosofia do karatê.

Na atual turma de Josa estão crianças com autismo, síndrome de down, déficit de atenção. Todos interagindo e aprendendo juntos. “Eu vejo todo dia uma vitória deles, percebo todo dia algo diferente. O karatê é repetitivo, eu repito várias e várias vezes e depois eu vou entrando em todo contexto da luta. Karatê é filosofia de vida”, declara o professor. 

No karatê, ensina-se a técnica, mas a disciplina e o respeito vem junto. Josa trabalha usando a língua japonesa, falando todos os golpes em outro idioma, e todos compreendem e acabam desenvolvendo um pouco do idioma. “O karatê pra mim é para vida. É uma questão de cultura. Uma cultura milenar”, destaca Josa. 

 Turma de karatê do professor Josa, em João Pessoa 

O karatê tem cinco lemas que ajudam na compreensão de uma modalidade voltada muito mais para o desenvolvimento pessoal do que para a luta a dois. Sendo mais um membro do esporte, o karatê constrói pessoas, desenvolve caráter e cultiva seres humanos para o respeito.

Esforçar para a formação do caráter; Fidelidade para com o verdadeiro caminho da razão; Desenvolver o espírito de esforço; Respeito acima de tudo; Conter o espírito de agressão.
Cinco lemas do karatê

De acordo com a psicóloga Patrícia Barbosa, as crianças veem o esporte de uma forma lúdica e assim passam a desenvolver algumas habilidades, como a sociabilidade e a habilidade motora. Além disso, a criança passa a desenvolver no esporte o limite, sabendo o que pode e o que não pode ser feito.

Karatê começa com cortesia e termina com cortesia. As crianças recebem uma melhor qualidade de vida com os resultados do esporte. Generosidade e gentileza. “Fui campeão brasileiro, mas nunca mostrei minha medalha a ninguém, porque medalha enferruja, se acaba, conhecimento não, conhecimento é para vida. A gente aprende com eles [com os alunos]. Eu não dou aula de karatê, eles dão aula de karatê, eu passo o que eu sei, eles passam o que sabem”, diz Josa, em tom de agradecimento.