Uma fonte de energia que coopera cada vez mais com a renda e com os sonhos dos sertanejos: o sol. E, graças à instalação das placas solares, seu Antônio Marcos, agricultor na comunidade Novo Horizonte, na zona rural de Várzea, no Sertão da Paraíba, não desistiu de plantar. Várzea fica 274 quilômetros da capital.
A gente que trabalha na agricultura, trabalha com muito pouco recurso, o custo com energia era muito grande” […] Eu estava pensando em parar, mas com a chegada das placas, eu tanto aumentei o plantio, como...ficou uma coisa que... eu gasto aquilo que eu produzo”, explicou.
O produtor foi beneficiado com um projeto piloto do Comitê de Energias Renováveis do Semiárido Paraibano, o Cersa. O grupo é formado por voluntários, pesquisadores, estudiosos do Semiárido e das energias renováveis, com foco na sustentabilidade do bioma caatinga e do desenvolvimento local e regional, com consciência ambiental.
No teto da casa de seu Antônio, por exemplo, foram instaladas seis placas fotovoltaicas. O suficiente para gerar energia para consumo da família de quatro pessoas, para puxar água para os animais, plantação e irrigação. Tudo em completa harmonia com a natureza.
O agricultor, que cultiva mamão, frutas e hortaliças teve uma economia danada com a chegada da energia solar. O custo baixo de 400 para pouco mais de 20 reais.
“Eu pagava 400 reais, esses 400 reais eu tinha tirar do mamão que eu produzia. Como eu vendo a unidade a um real, eu tive que vendar 400 mamões. E ainda tinha, o dinheiro que eu gastava com a gasolina para ir para feira. Isso, tudinho, tem que colocar na ponta do lápis. Quando chegou a energia solar, o que é que acontece? Esse valor que eu pagava baixou para 21 reais, que era a taxa”, comemorou.
A chuva continua sendo uma benção a qualquer tempo e o sol um novo aliado, o ano inteiro.
As cooperativas
A possibilidade dos consumidores gerarem a própria energia com os raios de sol sertanejo favoreceu também o surgimento das cooperativas. Elas reúnem vários consumidores para a instalação de um sistema fotovoltaico que é compartilhado pelos associados. Há quase três anos, engenheiros eletricistas enxergaram a oportunidade na Paraíba.
Criaram, Região Metropolitana de João Pessoa, a primeira cooperativa solar do Nordeste. Atualmente, esta cooperativa tem duas usinas: uma no Litoral Sul, em Praia Bela, com 240 placas, e outra em Lucena, Litoral Norte, com 180 placas.
Cada cooperado vai ser dono de acordo com a necessidade. Por exemplo, se você precisa de 500 kw e essa usina gera 10 mil, você vai participar com 5% dessa usina. Ou seja, 5% da compra dos equipamentos, 5% da manutenção e você vai ter direito a 5% dos créditos”, explicou o presidente da Coopsolar, Eduardo Braz.
Vinte cooperados partilham a energia produzida aqui, de acordo com o investimento que cada um fez nos equipamentos. eles moram em João Pessoa e em Guarabira. Moram em apartamentos ou não têm um telhado ideal para instalação das placas. Encontraram no cooperativismo uma forma de aproveitar os benefícios do sol e economizar na conta.
As cooperativas não têm fins lucrativos, mas pem alguns custos que são bancados pelos associados. “Existe o custo de manutenção, que é o que for utilizado na manutenção, dependendo se for limpeza do paineis, internet, seguro de proteção contra roupo. Então esse custo é proporcional a sua participação a sua fração”, completou Eduardo.
Antônio Brito Filho apostou na ideia. Investiu em placas. A conta de energia do hotel dele, em Guarabira, a mais de 100 quilômetros da usina geradora, despencou!. No meu setor aqui, a despesa com energia, depois da folha de pagamento, é a principal. Porque o consumo é muito alto. São 30 apartamentos com ar condicionado.
Sem a redução da conta, o negócio estaria inviável. “O meu consumo aqui é de 7 mil kilowatts por mês. Em torno de oito mil reais. Mas essa energia que eu adquiri atráves da coopertativa, dá de 55 a 70% da minha necessidade”, afirmou.
Tem cooperativa também prestes a beneficiar quem mora e trabalha em pequenas cidade do interior do estado. 235 cooperados e 25 agricultores já estão sendo beneficiados com a instalação de 108 placas em terreno do Centro de Educação e Formação Social, na zona rural de Maturéia, no Sertão.
Alguns moram na região. Outros, a quilômetros de distância. É que a luz do sol generosa expande a economia de energia em outros locais.
Uma cooperativa é um local onde muitas pessoas se ajudam em função de um benefício comum […] Há quanto a gente tem essa riqeuza, essa maravilha. Mas tem um ditado popular que diz que a gente aprende toda vida. Nunca é tarde para aprender. E essa implatação dessa cooperativa é um aprendizado, destaca José de Anchieta, cooperado e coordenador do Cersa, Comitê de Energias Renováveis do Semirárido paraibano.
Marcelo Fabrízio é um dos associados da cooperativa, o investimento foi de 7.400 reais. a expectativa é economizar 50% da conta de casa. Detalhe: ele mora em Pombal, a mais de 120 quilômetros de onde estão sendo instaladas as placas da cooperativa. “Todos os sócios tme uma contribuição de quatro modos. E dentre quatro, um é destinado para cota social”.
A cota social é a destinação dos créditos de energia para agricultores, qua podem esocnimizar, guardam para investir e tem uma vida melhor. Walmeran Trindade, professor do IFPB, e especialista no assunto, destaca que essas experiências “microscópicas”, já dá para perceber o efeito transformador”.
“É natural a gente imaginar, e também é uma grande verdade que a água é algo que limita muito o desenvolvimento produtivo no nosso semiárido, sem dúvida. Mas a gente precisa enxergar que há um outro fator limitante também que é a energia”, afirmou.
Na casa de seu Antônio, na zona rural de Várzea, uma cooperativa até chegou a ser cogitada onde seu Antônio mora. Mas a instalação esbarrou em obstáculos. Entre eles, o medo do desconhecido, da incerteza de que iria dar certo.
Mas seja em cooperativa, ou em outras ações, a energia solar já muda a realidade de muitas famílias, e pode transformar ainda a de muitas outras.
"Se nós pensarmos que nós estamos dentro de um semiárido que é o mais habitado do planeta terra, nós estamos falando de mais de um milhão de pessoas que estão morando nele. Imagine se nós temos de mais um milhão de um unidade produtoras de energia. Então, a gente vê que esse modelo distribuído tem essa potencialidade. Nós podemos chegar a ter energia de qualidade para mudar a realidade da Paraíba e do semiárido', destacou a pesquisadores Ricélia
Dona Genilda, mulher de seu Antônio, vive, hoje, uma nova realidade. “A gente vai conhecendo as maravilahs que a gente tem, energia solar, vendo uma coisa dessa ajudar o campo', comemora.