Pensar em João Pessoa como um destino de viagem pode até ser uma opção para quem deseja tirar férias, curtir as praias do litoral, respirar um ar fresco, descansar, viver a cultura paraibana e sentir o 'calor do verão'. Porém, quem visita João Pessoa pode acabar criando um elo muito forte com a cidade, capaz até mesmo de não voltar para onde saiu.
João Pessoa recebeu 283.279 mil desembarques no Aeroporto Castro Pinto, somente nos primeiros 6 meses de 2022. Os dados foram obtidos pelo JORNAL DA PARAÍBA através da Empresa Paraibana de Turismo (PBTur).
No mesmo período do ano passado, foram 216.271 mil. As chegadas ao estado representam um crescimento de 30,98%. No ano todo, foram 1.139.160 milhões de pessoas entrando e saindo pelo estado.
Nas palavras de Jatobá, é a "terra do sol e das rosas. Das praias maravilhosas. Um chão de felicidade". O poeta paraibano diz que, quem procura a capital paraibana, quer "Gozar a tranquilidade que João Pessoa oferece. Também fazer sua prece. Com fervor na Catedral que da nossa capital, você nunca mais esquece".
E é no ritmo dos versos que a cidade se expandiu para o litoral. Nascida de costas para o mar, ao contrário das demais capitais do país banhadas pelo Atlântico, João Pessoa foi fundada no dia 5 de agosto de 1585, pelos colonizadores portugueses. A cidade chega aos 437 anos em 2022.
A capital paraibana tem uma extensão litorânea de aproximadamente 24 quilômetros, divididos em nove praias: Bessa, Manaíra, Tambaú, Cabo Branco, Seixas, Penha, Jacarapé, Praia do Sol e Barra de Gramame.
Do Centro ao Litoral
Conhecida como "Cidade Real de Nossa Senhora das Neves" na Era Colonial Brasileira, as primeiras edificações de João Pessoa foram às margens do Rio Sanhauá, um afluente do Rio Paraíba, hoje conhecido como Porto do Capim, no bairro do Varadouro.
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Somente a partir da segunda metade dos anos 1960, com a ocupação da orla marítima, os olhares para as praias promoveram o crescimento da região litorânea, com moradias, comércios, turistas, que se destaca até os dias atuais.
Esse processo de urbanização se originou a partir de uma onda nacional, caracterizada à época pelos grandes loteamentos oficiais, destinados à população de maior poder aquisitivo.
A construção da Avenida Epitácio Pessoa, por exemplo, foi planejada para ligar o Centro da cidade à Orla, tornando o local um dos principais pontos da cidade. Com o fim das obras, os espaços aos redores foram usados para a construção de casas residenciais, que seriam destinadas a comerciantes e proprietários de terras conhecidos na cidade.
O livro do pesquisador Arion Farias, 'Paraíba ontem e hoje', relata que Cabo Branco foi o primeiro bairro a ser visto, no ano de 1501, pelo navegador português Américo Vespúcio, encarregado de fazer um levantamento dos acidentes geográficos de toda a costa brasileira. Ele batizou o local de São Vicenzo.
Anos depois, o bairro foi nomeado "Cabo Branco", devido ao caulim esbranquiçado presente na água que, na verdade, era uma massa esponjosa branca, muito utilizada para fazer tinta e cerâmicas.
Veio e nunca mais voltou
Em 2010, Mariana Manzano escolheu João Pessoa como destino de férias com a família. Ela tinha 20 anos na época e foi o seu primeiro contato com o litoral nordestino. Nas palavras dela, ao chegar na praia de Cabo Branco, teve uma sensação "de que um dia eu moraria aqui".
Alguns anos depois, Mariana retornou à capital paraibana para aproveitar mais um tempo na cidade, já que, na última viagem, não conseguiu conhecer e abraçar tudo aquilo que João Pessoa oferece.
"Voltei de férias sozinha e novamente uma sensação estranha, não era como "chegar a algum lugar", mas como "voltar pra casa", relatou.
Na ocasião, Mariana chegou a telefonar para o pai e mencionar o sentimento que a cidade causava nela. Desde então, João Pessoa se tornou o seu destino favorito.
"Comecei a estabelecer uma relação mais íntima com a cidade, deixando de frequentar os lugares 'turísticos' e vivendo outras experiências", acrescentou.
Durante o período mais severo da pandemia de Covid-19, Mariana começou a rever sua relação com São Paulo, cidade natal dela. Ela contou que perdia muito tempo com o trajeto para o trabalho, quando gastava mais de quatro horas somando ida e volta.
Por outro lado, a busca por uma cidade pacata se tornou o seu objetivo. E não restou dúvidas de que seria João Pessoa.
"O desejo de sair de lá foi ficando cada vez maior, então em janeiro de 2021 vim passar um mês aqui, uma espécie de test drive, e foi maravilhoso", contou.
Como em um passo de mágica, tudo foi contribuindo para que Mariana pudesse realizar a mudança.
Profissionalmente, ela descobriu a possibilidade de cursar o Doutorado na Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Uma autora que ela pesquisava durante o mestrado, coincidentemente, era professora da pós-graduação em João Pessoa, mas essa descoberta só aconteceu quando ela retornou para a cidade em março deste ano.
"As coisas foram começando a fazer muito sentido. Em março de 2022 mudei definitivamente pra cá, pra fazer o processo seletivo do doutorado e pra tentar a sorte, deu certo", relatou.
Mariana conseguiu se encaixar na cidade como uma criança nos braços de uma mãe. Atualmente, ela mora no bairro dos Bancários, na zona Sul de João Pessoa, estuda na UFPB e, a partir de agora, a capital paraibana finalmente tornou-se sua casa. "Amo muito essa cidade", disse.
É uma cidade tranquila, tenho muito mais qualidade de vida, resolvo quase tudo a pé (a cidade é convidativa ao pedestre), tem um custo de vida muito mais convidativo, além de ser linda, cheia de gente simpática e alegre.