Gilberto Gil e seu cérebro eletrônico

Instituto Tom Jobim disponibiliza na internet acervo com fotos, textos e músicas que abordam vida e obra do cantor Gilberto Gil.

Em 1969, Gilberto Gil amordaçava os computadores na faixa de abertura do seu terceiro disco.

“Cérebro eletrônico faz tudo / Faz quase tudo / Quase tudo / Mas ele é mudo”, dizia o refrão.

Homônimo, o LP lançado pela extinta Phillips (hoje Universal) ficou, ironicamente, mais conhecido pelo título da canção que pelo nome do artista.

Contrariando o resto da letra, o hit "deu socorro” a Gil e foi um dos seus primeiros sucessos, regravado quase 30 anos depois no CD Barulhinho Bom (1996), de Marisa Monte.

A esta altura, o tropicalista já tinha a tecnologia mais em conta.

Nos versos de ‘Pela Internet’, já confessava que queria fazer seu website e aproveitar a vazante da infomaré.

Em 2008, concebeu a turnê ‘Banda Larga’ e se posicionou na linha de frente da militância pelo software livre, discordando até de parceiros como Caetano Veloso, com quem já chegou até a usar saias.

"A batalha pelo software livre, pela internet livre e pelas conexões livres é a mais importante, e também a mais interessante, a mais atual das batalhas políticas”, bradava o então ministro da Cultura em 2005, no Fórum Social Mundial.

O baiano, que queria entrar na rede para "promover um debate" e "juntar um grupo de tietes de Connecticut", acaba de achar a ferramenta ideal para isso.

Após 18 meses de pesquisa, com um projeto levado a cabo pelo Insituto Tom Jobim e patrocinado pela Natura, Gil disponibilizou grande parte de seu acervo pessoal e profissional na internet.

No site www.jobim.org/gil, o público virtual poderá conferir em arquivos digitais mais de 30 mil itens que representam a vida e a obra do cantor e compositor (leia mais nos boxes).

Coletado ao longo de seus quase 50 anos de carreira (comemorados em 2013), o acer vo traça a trajetória biográfica do artista a partir de textos manuscritos, correspondências e um farto material fotográfico.

Em uma imagem em que Gil aparece em tons de sépia fazendo um discurso como orador do curso de Administração da Universidade Federal da Bahia, conhecemos o jovem que, em 1965, chegou a São Paulo arrastando uma comitiva formada por Caetano, Maria Bethânia, Gal Costa e Tom Zé.

Entre as cartas trocadas com amigos nordestinos, uma correspondência assinada por Elba Ramalho convida Gil para uma visita à Organização Brahma Kumaris, entidade não governamental que prega valores humanos e espirituais.

"Desejo que esteja bem, em grande harmonia de amor e paz! (…) Muita saudades, carinho e a vontade de estar um pouco com você", escreve a paraibana.

Em um post scriptum, Elba elogia O Sol de Oslo, que acabava de ser lançado: "Adorei o disco novo gravado em Oslo. Belo e excêntrico!".

Quatro músicas de Gilberto Gil também estão disponíveis para download gratuito no site: são elas ‘Seu olhar’, ‘Estrela’, ‘A raça humana’ e, como não poderia deixar de ser, ‘Cérebro eletrônico’.