A utopia no apocalipse

Poeta Thiago de Mello participa do segundo dia de inauguração do complexo arquitetônico da Estação Cabo Branco, na capital.

"Entre o apocalipse e a utopia, eu escolhi a utopia. Tenho feito isso até hoje". A frase resume o caráter de Thiago de Mello, poeta que participa do segundo dia da agenda de inauguração do novo complexo arquitetônico da Estação Cabo Branco, em João Pessoa.

Além do plantio de Ipês Amarelos na Estação das Artes, o amazonense ministra o seminário ‘Grito’, às 9h, no auditório da Estação Cabo Branco e toma parte, às 11h, de uma mesa redonda com o artista plástico Frans Krajcberg, a produtora Lucenilde Araújo, a documentarista Renata Rocha e o prefeito da capital, Luciano Agra.

Seminário e mesa redonda serão intercalados pela apresentação do Grupo de Saxofones do Unipê e de uma visita virtual ao Museu Ecológico Frans Krajcberg, que contém um acervo doado pelo artista polonês ao Governo do Estado da Bahia durante o seminário ‘Nordeste: Água, Desenvolvimento e Sustentabilidade’, realizado em junho de 2009.

Em entrevista por telefone, Thiago de Mello afirmou que seu discurso se sustentará em três pilares: "Vou falar sobre o meio ambiente; sobre a Paraíba na minha vida, em particular sobre José Lins do Rego; e sobre esta Rio+20", enumerou o poeta que, durante a coletiva de imprensa realizada anteontem no salão panorâmico da Estação Cabo Branco, antes da abertura da exposição Natureza Extrema, de Krajcberg, criticou a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, encerrada no domingo passado.

"Tinha esperança de que essa Rio+20 se erguesse", lamenta o defensor das causas ambientais. "Mas nossa maior derrota foi em Copenhague, no dia 10 de junho de 2010, quando não chegaram a um consenso quanto aos níveis de gases tóxicos no mundo".

Thiago de Mello esteve na Dinamarca na 15ª Conferência da ONU sobre as Mudanças Climáticas, representando o Brasil e declamando um poema sobre um pacto de amor à Amazônia que o acolheu na juventude e, depois de preso e exilado no Chile (onde conheceu Pablo Neruda e traduziram-se mutuamente), voltou a acolhê-lo na Barreirinha (331 quilômetros de Manaus), onde vive até hoje.

Um dos mais diletos amigos de José Lins do Rego, Thiago de Mello acompanhou, no hospital, toda a evolução da doença de Zé Lins até a falência hepática que ceifou a vida do romancista de Menino de Engenho (1932).

Na homenagem que fará hoje à Paraíba, a memória saudosa do moleque do Engenho Corredor certamente será evocada pelo seu contemporâneo: "Minha relação com Zé Lins é muito notória, tudo foi dito, com muita calma e tranquilidade, no documentário de Vladimir Carvalho", sinaliza, fazendo referência ao O Engenho de Zé Lins (2007). O poeta guarda a sete chaves os termos da homenagem, mas já adianta: "A Paraíba é de fundamental importância para minha formação".

No Nordeste, Thiago de Mello viu outro intelectual de relevância histórica, o militante Gregório Bezerra, ser arrastado pela Ditadura nas ruas do Recife (PE). "As virtudes são ameaçadas de extermínio. Quando voltei do exílio eu não era de um partido político. Mas minha resignação foi moral, não partidária", sublinha.

Passados os anos de chumbo, o autor de O Estatuto do Homem (1977) levanta agora a bandeira verde do meio ambiente: "Cada um deve fazer sua parte para salvar a vida do lugar que chamamos de Terra".