Memória marcou o tom do ‘Congresso’

Fliporto brilhou realmente quando trouxe a literatura ao palco.

Espetáculos (teve Maria Bethânia na noite de abertura, Ariano Suassuna na de encerramento e mais Christiane Torloni fazendo leitura dramática da primeira peça teatral de Edney Silvestre) e polêmicas à parte, a Fliporto brilhou realmente quando trouxe a literatura ao palco.

No sábado, principal dia da programação, ela foi representada por dois dos maiores escritores ‘contemporâneos não brasileiros da língua portuguesa’: o moçambicano Mia Couto e o angolano José Eduardo Agualusa.

Couto, que já estava no Brasil (entre outros compromissos de sua agenda, participou de um encontro literário no Rio Grande do Norte, em setembro), lançou na Fliporto o seu novo romance, A Confissão da Leoa (Cia. das Letras, 256 páginas, R$ 39,50).

Já o discípulo Agualusa vinha lançar Teoria Geral do Esquecimento (Editora Foz, 174 páginas, preço não divulgado) e acabou por roubar a cena do mestre com suas histórias sobre como, confundido com Mia Couto, teve a oportunidade de se passar por ele em mais de uma ocasião.

Aos deliciosos ‘causos’ que arrancaram aplausos da plateia, agregou-se uma interessante discussão sobre a memória, um dos assuntos que os reuniu em uma conferência com mediação de Zuleide Duarte.

Em meio às opiniões concordantes que expressam a afinidade de uma dupla que até já escreveu a quatro mãos, surgiu uma interessante discordância: enquanto Mia Couto refletiu que o esquecimento, em seu país, foi uma das ferramentas necessárias para "passar uma borracha" nas sucessivas guerras civis que assolaram seu povo, Agualusa rechaçou o argumento, afirmando que a lembrança é uma das formas de uma sociedade não "repetir os erros do passado".

Enquanto os dois se apresentavam no Congresso Literário, a paulista radicada na Paraíba Maria Valéria Rezende ministrava uma de suas duas oficinas de haicais com crianças e adultos na programação infantil da Fliporto.

Ela foi uma das três enviadas do Estado ao evento, que também trouxe no domingo o escritor André Ricardo Aguiar para bater um papo com os pequenos sobre literatura infantil na Fliporto Criança.

Além da aula-espetáculo que encerrou a festa, Ariano colaborou na sexta-feira, quando falou sobre ‘Utopia, Sebastianismo e Messianismo’.