Novo sistema de plantio de palma vira ‘saída’ na seca

Foco da ação é capacitar os pequenos pecuaristas para que façam o manejo sustentável das áreas de produção. 

Sob o sol forte e em meio à vegetação seca da região do Agreste paraibano, o verde das plantações de palma do sítio de Sérgio Fernandes, na zona rural de Soledade, se destaca. É com o manejo da planta típica do semiárido que ele e outros 70 produtores planejam sustentar o rebanho bovino e expandir a cadeia leiteira paraibana.   

Sérgio lida com a terra e manejo de animais desde criança, aprendeu a planejar o futuro e tornar produtivo os 37 hectares de terra que possui. Na propriedade onde a plantação de subsistência não resistia à seca, uma metodologia simples, que praticamente não utiliza água, trouxe dias melhores. É o Sistema de Plantio Adensado de Regime Sequeiro, que proporciona, de maneira sustentável, o cultivo da palma e, posteriormente, a criação do gado em lactação.

A solução foi apresentada aos cerca de 70 produtores rurais das regiões do Brejo, Agreste e Cariri que participam do projeto “Balde Cheio”. Desenvolvido por técnicos do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural da Paraíba (Senar-PB) em parceria com a Fundação Banco do Brasil, desde o início do ano passado, o foco da ação é capacitar os pequenos pecuaristas para que façam o manejo sustentável das áreas de produção e tenham condições de alimentar o gado para garantir leite de qualidade.  “A gente ensina ao produtor a fazer uma reserva alimentar para o gado e preparar a infraestrutura física necessária para o bom desempenho do rebanho. Ao mesmo tempo, nós capacitamos técnicos zootecnistas para o mercado”, explicou o gestor do projeto do Senar, Domingos Lélis Filho.

No sítio de Sérgio Fernandes, a plantação da palma forrageira ocupa uma área de meio hectare, mas já apresenta resultados significativos. Com a técnica do adensamento, ele passou de três mil sementeiras, no segundo semestre do ano passado, para 25 mil, até setembro deste ano com irrigação quase nula, pois o sistema de gotejamento ainda está em fase de implantação. “Aqui ninguém nunca pensou em trabalhar dessa forma. A gente só plantava, em uma área menor, comprava as raquetes  e deixava lá, por isso se perdia quase tudo. Agora com esse acompanhamento está dando certo”.



Atividade planejada amplia produção

Uma tabela manual com as tarefas e metas a serem alcançadas está fixada na parede da dispensa da casa de Sérgio Fernandes e orienta o trabalho diário dele no campo. A cada 15 dias, o zootecnista Erasmo Alves visita a propriedade para monitorar os resultados do produtor e explica que a disciplina em seguir corretamente os afazeres é fundamental para um bom resultado do projeto. 

“Antes, esses produtores não tinham ideia de que é necessário fazer a análise do solo, forma e tipos de adubação. Sem isso, a produtividade era menor e as perdas de produtos altas. Com o sistema de plantio de palma que nós estamos desenvolvendo com eles hoje é fazer com que o produtor tenha subsídios de alimentação para o gado com uma resposta mais satisfatória e sem gastar muito”, explicou Erasmo Alves.

Segundo o zootecnista, o sistema definido para o cultivo da palma segue as características climáticas da região e os resultados da análise de solo determinam a maneira como a planta será cultivada. No caso de Sérgio Fernandes, é plantado um pé de sementeira de palma a cada 10 cm. “Anteriormente, ele e a maioria dos agricultores plantavam uma sementeira a cada metro e só faziam uso dessa palma plantada após quatro anos. Com essa técnica do adensamento, o tempo de espera é de dois anos e a palma quase não precisa de água para irrigar”, detalhou o técnico.

Em 2019, Sérgio Fernandes estará com 100 mil ‘raquetes’ (folhas) de palma em ponto de corte para alimentação do gado. A partir daí, segundo Erasmo Alves, ele poderá investir no rebanho e reforçar a produção leiteira do município. Enquanto isso não acontece, ele participa de uma associação de pequenos pecuaristas do município, que recebe 22,5 mil litros de leite por mês dos produtores da zona rural de Soledade.

Pesquisa

Blocos multinutricionais

Para auxiliar na alimentação do rebanho bovino de pequenos produtores, a Emepa desenvolveu e disponibiliza, desde julho deste ano, blocos multinutricionais. Nesse suplemento, o bovino tem como principal fonte de proteína solúvel a ureia, e de energia, o melaço, que são rapidamente digeridos. Já os farelos de soja, algodão e outra oleaginosa podem ser utilizados como fontes proteicas, e o milho, sorgo e mandioca como fontes energéticas.

Melhoria do rebanho

A utilização desses blocos tem como meta reduzir as taxas de perda de peso do rebanho, além de melhorar o desempenho e a produtividade animal. “Atendemos aos produtores do Cariri e Sertão e o intuito é ensinar os produtores a preparar esses blocos e, em seguida, replique aos demais. Nós procuramos soluções de acordo com a realidade local do produtor, porque o que mata o rebanho não é a seca, é a fome”, diz o diretor da Emepa, Manuel Duré.